O presidente da Câmara de Setúbal, André Martins (eleito pela CDU), disse neste dia que aguarda “com serenidade” o inquérito do Ministério Público sobre o acolhimento de refugiados ucranianos, admitindo que a polémica afetou “negativamente a imagem” do município.

“Que não restem dúvidas. Continuamos a aguardar com toda a serenidade o resultado dos inquéritos que fomos os primeiros a solicitar, e esperamos e desejamos intensamente que sejam rapidamente concluídos”, afirmou o autarca comunista, durante um discurso na sessão solene do Dia do Bocage, data em que se assinala o feriado municipal de Setúbal.

Admitindo que esta polémica constitui um “rude golpe” no trabalho do atual executivo municipal, o autarca defendeu o que foi feito, nos últimos 20 anos, sobre esta matéria, ressalvando que Setúbal “é uma cidade aberta” e que “acolhe sempre, em qualquer circunstância, quem a procura em busca de uma vida melhor”.

“O nosso trabalho no acolhimento de migrantes nos últimos 20 anos fala por nós. A intensa cooperação que mantivemos e mantemos com as várias entidades, com responsabilidade nestas matérias, em particular com as dependem da administração central, atestam a qualidade deste trabalho”, sublinhou.

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Ainda sobre esta matéria, André Martins recusou “divisões artificiais“, lamentando quem quer “estender a Setúbal uma guerra que [o executivo] condena”, numa referência ao conflito entre a Ucrânia e a Rússia.

“Falo da cidade e da terra de que alguns se dizem defensores, mas cujo prestígio e imagem tudo fizeram para prejudicar, aproveitando a oportunidade só para se promoverem pessoal e partidariamente”, acusou o autarca.

Em 19 de agosto, a Câmara Municipal de Setúbal anunciou que pediu esclarecimentos ao Governo a propósito do inquérito que a Inspeção Geral de Finanças (IGF) enviou ao Ministério Público (MP) sobre o acolhimento de refugiados.

O pedido de esclarecimentos do município surgiu na sequência de uma notícia do jornal Expresso que deu conta de que a investigação feita pela IGF sobre o caso de acolhimento aos refugiados ucranianos resultou em dois relatórios e suspeitas de crime, tendo um deles sido enviado para o MP.

De acordo com o Expresso, em causa estarão suspeitas de crimes praticados pelo casal de russos que dirigia a Associação de Imigrantes dos Países de Leste (Edinstvo) e que a Câmara Municipal de Setúbal contratualizou para a receção de refugiados.

Ainda segundo o semanário, se o MP decidir dar seguimento à investigação, o caso pode envolver tanto o atual presidente do executivo como a antecessora, Maria das Dores Meira.

O Expresso tinha já noticiado em 29 de abril que refugiados ucranianos foram recebidos na Câmara de Setúbal por russos simpatizantes do regime de Vladimir Putin, que fotocopiaram documentos dos refugiados da guerra iniciada em 24 de fevereiro com a invasão militar russa da Ucrânia.

Segundo o jornal, pelo menos 160 refugiados ucranianos já teriam sido recebidos pelo russo Igor Khashin, membro da Edintsvo e antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município.