Começou como um mero caso de agressão violenta a uma jogadora num carjacking depois de um jantar de equipa, ganhou depois um novo capítulo com a detenção de uma companheira de equipa, rumou para um outro lado quando a investigação visou um antigo jogador francês casado, entrou num período de quase “estaca zero”. Todos percebiam que o brutal ataque a Kheira Hamraoui tinha ainda muito por contar (com a própria incluída, como revelou em entrevista), ninguém percebia para que lado poderia cair a história. Esta semana, começou a perceber-se o que se passou. E com um regresso ao ponto de partida.
Aminata Diallo, jogadora do PSG que acabou contrato e continua sem clube, foi esta sexta-feira de manhã detida na sua casa e levada para ficar sob custódia. De acordo com o Le Journal du Dimanche e a RMC, o caso deu uma nova volta a nível de investigação e volta a apontar para a atleta que chegou a estar 40 horas presa em novembro, saindo depois do longo interrogatório sem acusações ou medidas de coação. Ainda assim, segundo as mesmas publicações, haverá ainda a dúvida de perceber se essa alegada ligação existe num contexto de rivalidade desportiva (ocupavam a mesma posição em campo) ou na esfera privada. Diallo era inicialmente apontada como uma das organizadoras do jantar entre jogadoras, técnicos e staff no Bois de Boulogne antes do ataque quando Hamraoui chegava a casa, que causaram graves ferimentos.
“A Aminata Diallo lamenta a encenação totalmente artificial de uma rivalidade entre ela e Kheira Hamraoui que justificasse o ataque à colega. Essa teoria não corresponde em nada à verdadeira natureza do seu relacionamento. Outras pistas mais sérias foram encaradas pelos investigadores e que em nada implicam a minha cliente. Aminata Diallo lamenta o empolamento mediático que já a condenou, sem fundamento, e lembra que não hesitará a defender os seus direitos na justiça, se necessário, contra qualquer difamação. A minha cliente está profundamente afetada pelo destaque mediático em volta deste caso”, comentou Mourad Battikh, advogado da jogadora, depois de ter sido libertada em novembro.
De recordar que, esta semana, as autoridades tinham detido três indivíduos na casa dos 20 anos (um com antecedentes criminais) que seriam suspeitos da autoria material das agressões que deixaram Hamraoui várias semanas de fora das opções do PSG. O antigo companheiro da jogadora que passara antes por Saint-Étienne, Lyon e Barcelona também foi considerado na altura uma pessoa de interesse pelas autoridades mas não mais foi falado. No meio das investigações veio também a público um caso entre a internacional francesa e Éric Abidal, na altura diretor desportivo do Barça, sem que isso tivesse ligação aparente ao que se passou (a ex-mulher do francês negou qualquer envolvimento na situação).
“Quando voltei à competição, quando entrei de novo em campo, fui ouvindo cânticos hostis e insultos provenientes das bancadas. Estava surpreendida. Surpreendida e ao mesmo tempo assustada”, destacou Hamraoui em junho, na primeira grande entrevista depois do sucedido ao L’Équipe, entre uma pergunta que continuava a fazer todos os dias depois do sucedido: “Porquê a mim?”. “Assobios e insultos no regresso? Fiquei surpreendida. Surpreendida, assustada. Ainda assim, tentei ir ignorando para estar apenas concentrada no jogo. No final, caí”, recordou. “Pedi um pouco de decência depois de tudo o que se passou, que respeitassem a minha intimidade e a minha vida privada. A questão do Éric Abidal não tem nada a ver com as agressões de que fui vítima. Sinto que existe uma cortina de fumo desenhada para nos mantermos longe da verdade. A investigação continua mas preciso mesmo que isto avance para que me possa reconstruir como pessoa. Estou tranquila, a verdade aparecerá”, acrescentou a esse propósito.
“Foi um ataque de uma violência incrível. Dois desconhecidos encapuçados tiraram-me do carro em que viajava para me baterem nas pernas com barras de ferro. Nessa noite pensei que ia ficar ali. Estava a gritar de dores, a tentar proteger-me o mais possível. São memórias muito dolorosas. Foi uma verdadeira emboscada. Estes indivíduos estavam mesmo à minha espera, atrás de um camião. Já lá estavam no lugar certo no momento certo. Como poderiam estar tão bem informados?”, questionou a jogadora.
“Nos dias seguintes estava completamente marcada, perdida e chateada com todos os acontecimentos. Foi complicado para mim voltar à superfície durante vários dias mas eram muitos problemas para mim. Tinha acabado de sair de um episódio traumático, senti o peso de uma máquina mediática que se estava a ativar, estava presa numa tormenta. Investigação à Diallo [companheira no PSG]? Não vou participar num tribunal mediático, não faz sentido. Uma coisa é certa: fui vítima de um ataque terrível. Fui ouvida pelos investigadores, contei o que vi. Agora, que cada um fique no seu sítio. Não sou juiz, não faço parte da investigação. Confio nos tribunais e na Justiça, que tem explorado várias vias”, concluiu Hamraoui.