A forma como o Governo, e em particular o primeiro-ministro, apresentou a antecipação do aumento das pensões resultou num problema de credibilidade, porque nunca antes António Costa e o Governo do PS apontaram para a falta de sustentabilidade na Segurança Social. “Fica a ideia de que foi um argumento de última hora” e criou um “problema de credibilidade” que se transformou num problema político, considerou Marques Mendes no seu espaço de domingo na SIC. E um problema para uma classe que é tradicionalmente apoiante do PS e que causou “desconforto mesmo na área socialista”, afirmou.

O comentador critica António Costa por ter afirmado na entrevista que deu na segunda-feira (à TVI) que a lei das pensões iria ser cumprida, (sem corte no rendimento previsto pela fórmula de cálculo das pensões) e contrapõe com a posição do o ex-ministro da pasta Vieira da Silva (responsável pela reforma de 2007) que não afastou o risco desse corte a partir de 2024. E invoca um comentário de um outro ex-ministro socialista, Teixeira dos Santos que repetiu o que António Costa tinha dito há mais de dez anos atrás quando o ex-ministro das Finanças de José Sócrates apresentou em 2011 o PEC IV (cujo chumbo resultou no resgate financeiro). “Foi uma apresentação desastrada e desastrosa”.

O caso das pensões é apenas a última das várias crises que têm abalado o Governo que, no entender de Marques Mendes, apresenta em seis meses um desgaste “verdadeiro e sério” depois das polémicas sobre o aeroporto, o caos nas urgências, a contratação frustrada de Sérgio Figueiredo pelo ministro das Finanças e a demissão de Marta Temido.

O comentador e ex-líder do PSD apresenta várias razões para o desgaste. A primeira é a mudança de paradigma da governação, que no passado se habituou a distribuir rendimentos e que agora não dá, ou quando dá é considerado pouco, gera “frustrações” no eleitorado socialista. O fortalecimento da oposição, à esquerda com o fim da Geringonça, e à direita com o novo líder do PSD, é outro fator apontado por Marques Mendes para quem durante os anos anteriores, o Governo não teve oposição.

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O comentador admite ainda que aquilo que no passado foi elogiado como uma das virtudes de António Costa, a habilidade política, se estar “virar contra ele”. “Há o risco de, justa ou injustamente, as pessoas passarem a ver habilidade com um sentido pejorativo, como sendo pouco frontal ou equívoco”. Esta mudança também tem a ver com a maioria absoluta, reconhece Marques Mendes, que apesar das vantagens, também tem contras: a “sobranceria, a arrogância e o descolar da realidade” e uma dificuldade em perceber como o país está a reagir. Isto já aconteceu em outros ciclos políticos, do cavaquismo ao guterrismo, disse, e “não se resolve com mais um secretário de Estado (recentemente nomeado) ou assessor”, avisa.

Plano para as empresas tem muito ministro das Finanças e pouco ministro da Economia

Ainda sobre as medidas de combate à inflação, mas agora para as empresas, Marques Mendes destaca que o plano apresentado na última semana de 1.400 milhões de euros na prática só tem 700 milhões a fundo perdido. O resto é crédito, o que apresenta um “sério risco de endividamento e burocracia”, lembrando que o programa de julho de apoio à capitalização ainda não tem um contrato assinado.

“Fica a sensação de que há muito ministro das Finanças (que não quer gastar muito dinheiro) e pouco ministro da Economia”. Apesar de elogiar as qualidades de Costa Silva, o comentador defende que lhe falta peso político e “vestir mais o fato das empresas”. Ainda assim, se António Costa Silva conseguir convencer Fernando Medina a fazer uma reforma do IRC — o ministro da Economia defendeu que era importante baixar o imposto sobre as empresas —  ainda que seja gradual, está no caminho certo.

No seu comentário semanal, Marques Mendes elogiou a escolha de Fernando Araújo para o direção executiva do Serviço Nacional de Saúde. “É a pessoa certa no lugar certo” porque o SNS precisa sobretudo de organização e pode até ser na prática “o verdadeiro ministro da Saúde”. Mas criar este novo órgão não vai resolver os problemas da saúde, avisou também.