Com 2035 como a data-limite estipulada por Bruxelas para cessar a venda na Europa de novos automóveis equipados com motores de combustão, foram vários os construtores que agilizaram a estratégia para transitar para uma gama 100% eléctrica, inclusivamente antes desse prazo. Acelerando, com isso, um movimento que já vinha a ser feito para cumprir com a futura norma antipoluição Euro 7, cujas exigências implicam um encarecimento de cada veículo na ordem dos 3000€ a 5000€, segundo as contas da Volkswagen. E se isso basta para colocar em causa uma nova geração do Golf, o best-seller do construtor alemão, percebe-se por que razão foram já vários os construtores que asseguraram não investir no desenvolvimento de novos motores a combustão, preferindo deslocar essa alocação para os veículos eléctricos. Mas a Hyundai não baixa os braços e fez saber pelo antigo responsável máximo da divisão de Pesquisa e Desenvolvimento do grupo, Albert Biermann, que ainda há vida para os motores a gasolina e a gasóleo. O engenheiro assumiu que a marca onde agora desempenha a função de conselheiro técnico vai continuar a canalizar fundos para novas motorizações térmicas.

Em entrevista aos australianos da CarExpert, Albert Biermann foi bastante claro ao rumo da Hyundai: os sul-coreanos apostam nos eléctricos, seja a bateria, seja gerando energia bordo com recurso a células de combustível a hidrogénio. Mas esse caminho não exclui os motores a combustão, que vão continuar a ser propostos em paralelo com uma gama crescente de modelos zero emissões. E isso implica, necessariamente, investimento para garantir mecânicas mais “limpas”, revendo e adaptando as existentes às novas normas ou, até mesmo, criando uma nova família de motores de combustão. “Não temos escolha”, referiu o alemão, acrescentando que a Hyundai “não desiste dos motores de combustão” pelo simples facto de ser um “player global”. E se o mundo é o mercado dos sul-coreanos, não há como não distinguir diferentes ritmos na adopção de eléctricos e na implantação de redes de postos de carga. Lembrando que há várias regiões do globo que ainda não dispõem de infra-estrutura para alimentar carros eléctricos, situação essa que vai continuar a verificar-se por algum tempo, Biermann defende que faz sentido continuar a desenvolver motores para queimar combustíveis fósseis. Sem nunca aludir aos custos de tal opção, o conselheiro técnico da Hyundai admite que a combustão “tradicional” tem de continuar a evoluir. Por muito que custe, “não há outra hipótese”. De acordo com o homem que é considerado o “pai” da divisão N da Hyundai, a norma Euro 7 “é extremamente desafiante”, mas os fabricantes têm de garantir mecânicas em conformidade com os padrões de emissões, mesmo que tal obrigue a “um desenvolvimento intenso”. E isso, confirma Biermann, “está na agenda”.

De recordar que a nova regulamentação europeia para baixar as emissões entra em vigor em 2025, “apertando” ainda mais os limites fixados pela Euro 6 e alargando o leque de exigências. Por essa altura, é pública a intenção do Hyundai Motor Group (que inclui a Kia) de ter 10% do mercado global de veículos eléctricos, o que implica a comercialização de um milhão de carros deste tipo. Aliás, foi notícia há pouco mais de um ano que a marca iria cortar 50% da sua oferta de motores a combustão, para deslocar verbas para os eléctricos. E uma fonte avançou à Reuters inclusivamente que a Hyundai já tinha parado de desenvolver novas mecânicas para carros com motor de combustão interna. Com estas declarações de Biermann parece que, afinal, não será bem assim…

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