Num ano em que a Universidade do Porto (UP) registou mais de quatro mil estudantes colocados, houve sete alunos que tinham entrada garantida em qualquer curso e que não sofreram a típica ansiedade do dia das colocações. Adriana Strantzalis, Catarina Machado, Beatriz Silva e Gonçalo Oliveira são quatro dos estudantes “nota 20” que entraram este ano na UP, com 20 valores nos exames nacionais e de média no ensino secundário. O mais difícil, dizem, foi escolher o caminho académico a seguir.

Este ano, e ao contrário do que tem vindo a acontecer, o curso de Medicina ficou de fora das escolhas dos alunos que entraram com a nota máxima. Houve quem optasse pela Engenharia, mas também pelo curso de Direito, Arquitetura e Artes Plásticas. Apesar das escolhas diferentes, todos acreditam que o segredo para o sucesso académico passa pela organização, empenho e por saber conciliar o tempo de estudo com a vida pessoal. “Não somos nenhuns génios”, alertam.

Na semana em que começam as aulas na Universidade do Porto, os quatro estudantes esperam aproveitar tudo aquilo que a vida académica lhes pode dar. E, se possível, novamente com as melhores notas.

Adriana Strantzalis, Arquitetura (FAUP)

Alunos nota 20 Universidade do Porto

Adriana Strantzalis entrou no curso de Arquitetura (Universidade do Porto)

Adriana Strantzalis, de 18 anos, escolheu a Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. O interesse pela área surgiu no 9.º ano, depois de ter feito um trabalho sobre o arquiteto Siza Vieira. Mas a escolha não foi imediata: “Claro que ao longo do meu percurso foram surgindo sempre dúvidas e incertezas. Vim de Ciências e Tecnologias, mas acabei por decidir pela arquitetura”, explica ao Observador.

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E há algum segredo para conseguir a nota máxima? Adriana defende que o ponto chave é a organização. “É um trabalho diário: todos os dias trabalhar um pouco até conseguir os meus objetivos. O segredo passa mesmo pela organização. Depois, dependendo da disciplina, optava ou por resumos ou por trabalhar mais em exercícios, mas tudo de uma forma equilibrada, para também ter tempo para mim mesma”, argumenta a jovem de Vila Nova de Gaia, que também pratica ballet.

Adriana acredita que “é perfeitamente possível conseguir gerir o tempo para a escola e o tempo pessoal” e admite que a única pressão que sentiu para ter bons resultados veio de si mesma. “Acho que é normal quando queremos ir atrás dos nossos objetivos, mas por parte dos outros nunca senti isso. Foi mesmo mais de mim”, explica. Agora, prestes a iniciar “uma etapa completamente diferente”, Adriana está pronta para viver o espírito universitário: “Espero que corra tudo bem daqui para a frente”.

Catarina Machado, Artes Plásticas (FBAUP)

Alunos nota 20 Universidade do Porto

Catarina Machado entrou no curso de Artes Plásticas, na Faculdade de Belas Artes (Universidade do Porto)

Para Catarina Machado, que frequentou a Escola Artística Soares dos Reis, seguir o caminho das Artes Plásticas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) “fazia todo o sentido”. Escolheu a Universidade do Porto não só por ser mais perto de casa, mas tendo em conta que o Porto é “uma cidade com algum destaque naquilo que é o panorama cultural nacional”. “Fazia sentido, de modo a estabelecer contactos e conhecer colegas para que futuramente pudesse desenvolver algum tipo de trabalho”, explica ao Observador.

As rotinas de estudo de Catarina passaram por “muito empenho”, mas a jovem alerta: “Não somos nenhuns génios. Tudo resulta um pouco da forma como as nossas qualidades inerentes vão de encontro àquilo que é expectável no ensino público português. Há sempre este equilíbrio, porque há muitas destas qualidades que são nossas e que fazem com que o nosso trabalho seja metódico e que leve com muito empenho e muita dedicação e que nos leve a este sucesso académico”, sublinha a jovem de Vila do Conde.

À semelhança de Adriana, também Catarina admite que a única pressão para obter bons resultados veio sempre de si própria: “Os meus pais costumam dizer que se eu trouxer um dez para casa está tudo bem por eles, mas que eu fico a chorar durante três dias no meu quarto. E é verdade. Houve uma pressão muito forte sobre mim própria para estar num nível que fazia sentido para mim”, sublinha.

Acho que há muita coisa a experimentar. É um momento que faz sentido que aconteça agora, porque há um conjunto de coisas que quero experimentar, isto porque o ensino até na minha escola antiga partia muito daquilo que era a experimentação e a prática. Penso que este curso vai ser precisamente isso e é um curso que é muito multidisciplinar, por isso vai-me permitir explorar muita coisa em muitos campos”, antecipa Catarina.

Por isso, revela, o segredo para o sucesso académico passa por três passos principais: “Organizar, equilibrar e levar tudo com calma e com ponderação”.

Gonçalo Oliveira, Engenharia Informática e Computação (FEUP)

Alunos nota 20 Universidade do Porto

Gonçalo Oliveira tem 18 anos e entrou em Engenharia Informática e Computação, na FEUP (Universidade do Porto)

Enquanto ponderava o curso que iria seguir no ensino superior, Gonçalo Oliveira, de 18 anos, começou por se guiar pelas médias mais altas. “Mas rapidamente percebi que o caminho não era por aí”, conta. Indeciso entre cursos de Engenharia e Medicina, Gonçalo falou com pessoas da área e percebeu que o interesse em matemática, física e tecnologia falava mais alto. No final, optou pelo curso de Engenharia Informática e Computação na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). “Acho que foi uma boa escolha”, revela.

O típico nervosismo de saber se tinha entrado no curso que pretendia não foi uma preocupação, mas a ansiedade de começar uma nova etapa é igual à de todos os caloiros da Universidade do Porto. “Espero gostar muito. Não sei programar e espero que isso não seja um problema. Quero conseguir aproveitar a vida académica, estes últimos anos de adolescência e divertir-me”, revela.

O truque para atingir a nota máxima, revela, é saber gerir bem o tempo. “No segundo e terceiro ciclo estive numa escola artística e isso ajudou-me a saber gerir o meu tempo, porque era um horário muito completo. E levei isso para o secundário. O importante é saber que temos de arranjar um tempo de estudo, estar focado nessa altura e depois dá para ter outras atividades e para sair com os amigos”, refere.

Beatriz Silva, Direito (FDUP)

Alunos nota 20 Universidade do Porto

Beatriz Silva tem 18 anos e escolheu o curso de Direito (Universidade do Porto)

O curso de Direito, na Faculdade de Direito da Universidade do Porto (FDUP) foi uma escolha que Beatriz Silva, de 18 anos, foi fazendo gradualmente. “Não é um sonho que tenho desde sempre. No 9.º ano optei pelo curso de ciências sócio-económicas porque fazia sentido para mim e aí pude explorar essa área e acabei por reparar que gosto muito de ciências sociais. A partir daí fui pesquisar que cursos é que se inseriam nessa área e Direito tornou-se mesmo naquilo que fazia sentido”, explica ao Observador.

Também para Beatriz não existe uma receita específica para se alcançar a tão desejada “nota 20”. Além do esforço e dedicação, a jovem de Vila do Conde destaca um outro aspeto: “Para mim o mais importante foi mesmo a paixão. Sempre adorei a escola e estudar e acho que isso fez com que conseguisse alcançar bons resultados sem um esforço hercúleo. O meu conselho é que procurarem a vossa paixão e não considerem o estudo como um trabalho mas sim algo que nos traz prazer”, sublinha, acrescentando que sempre conseguiu “equilibrar perfeitamente” todas as atividades que tinha com o estudo, incluindo os escuteiros.

Quanto ao futuro, Beatriz quer “aproveitar ao máximo para aprender muito, explorar esta área e outras áreas”. Até porque, diz, é o conhecimento que a motiva.