Mesmo longínqua, a década de 1980 continua a ser influente na cultura popular. Particularmente na música, por esses anos ganhavam forma novas ideias, surgiam bandas – em especial no contexto do rock português – e consagrava-se o nome de Michael Jackson como verdadeiro Rei da Pop. Numa viagem a 1982, recordamos dez álbuns que, quatro décadas depois, continuam a ser marcantes:

“Thriller”

Michael Jackson

Não é apenas um dos discos mais importantes de 1982. É um dos discos mais notáveis não só da década como da história da música pop. Produzido pelo igualmente lendário Quincy Jones, com quem Jackson havia colaborado antes, Thriller revela 42 minutos de pura glória, sucesso após sucesso. A faixa-título do álbum é ainda uma das canções mais reconhecidas da história. Conquistou as rádios e as televisões, com o clássico videoclipe inspirado em filmes de terror, dirigido por John Landis. É também o álbum de “Billie Jean” ou “This Girl is Mine” (em dueto com Paul McCartney), bem como de “Beat It”. Esteve no primeiro lugar do top norte-americano 37 semanas e mantém-se como um dos discos mais vendidos da história: mais de 70 milhões de cópias em todo o mundo.

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“Por Este Rio Acima”

Fausto Bordalo Dias

Foi há 40 anos que Fausto Bordalo Dias decidiu ir rio acima ao encontro do passado e, pode dizer-se, a música portuguesa nunca mais foi a mesma. Naquele que é o sexto álbum de uma das vozes de Abril, o músico debruçou-se sobre o passado de um país, que retratou através das suas glórias e tragédias. Acompanhado de Pedro Caldeira Cabral, Júlio Pereira, Rui Vaz, Rui Júnior, António José Martins ou Pedro Casaes, Por Este Rio Acima não é apenas um disco ambicioso, composto de diferentes camadas e cadências, baseado nas viagens de Fernão Mendes Pinto, relatadas no seu livro Peregrinação (1614). Deixou-nos “O Barco Vai de Saída”, “Lembra-me um sonho lindo”, “A Guerra é a Guerra”, “Como Um Sonho Acordado” ou “Navegar, Navegar”, citando apenas alguns exemplos. São verdadeiros manifestos musicais que continuam a marcar novas gerações de músicios e compositores portugueses.

“Pornography”

The Cure

Embora não tenha sido bem recebido pela maioria dos críticos à época, o quarto álbum de estúdio dos ingleses The Cure marca o ápice do período sombrio do grupo que tinha começado com Seventeen Seconds em 1980. 40 anos volvidos, e já considerado como uma obra-prima proto-gótica, Pornography é um registo singular, marcado pelo luto do seu frontman Robert Smith, que tinha perdido os seus avós, num registo exacerbado pelos problemas da banda com o consumo de LSD e álcool. Depois de Pornography, a banda seguiria um rumo mais comercial, próximo da pop alternativa, e só retomaria verdadeiramente as vestes mais obscuras com Disintegration, lançado em 1989. Por todas estas razões, a juntar ao facto de ser um dos discos mais extremos do grupo, Pornography permanece como disco essencial, não só para conhecer os The Cure, como o percurso singular do rock alternativo nos anos 80, que continuou a estabelecer premissas para este género, bem patentes na atualidade.

“Mirage”

Fleetwood Mac

Foi um regresso às premissas originais (na era pós-Peter Green, entenda-se) que lhes granjearam sucesso. Se com Rumours (1977) os Fleetwood Mac alcançaram uma dimensão estelar, com mais de 40 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, em Mirage consolidaram o pop rock que tão bem os caracteriza. Entre estes dois discos, Tusk, com um som mais experimental, não teve a receção esperada. Para agravar a situação, existia uma falta geral de foco do grupo, com os membros Lindsey Buckingham, a cantora Stevie Nicks e o baterista Mick Fleetwood mais preocupados com os seus projetos a solo. De hostes (relativamente) reconciliadas, Mirage parece ser, sem que dúvidas restem, um esforço consciente e bem-sucedido da banda, refletindo os aspetos positivos daquela que é uma das bandas mais significativas da música produzida entre as décadas de 1970 e 1980.

“The Number of the Beast”

Iron Maiden

Bastaria dizer que é o primeiro álbum dos Iron Maiden a atingir um sucesso tanto comercial como junto da crítica. É também o disco de estreia do vocalista Bruce Dickinson – que ainda hoje se mantém ao leme do grupo – e que de facto moldaria de forma singular a história da banda britânica. Depois de uma espécie de curto hiato inspiracional, The Number of the Beast tornou-se rapidamente num daqueles discos que estabelecem padrões dentro e fora do seu género musical. Afirmação plena da chamada New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.), o terceiro disco originaria uma identidade musical e estética que ainda hoje se mantém perene. Estão lá clássicos intemporais da música pesada como “Run to the Hills” e “Hallowed Be Thy Name”, que lhes valeram lugares cimeiros nos top e mais de 14 milhões de cópias vendidas. O heavy metal não seria igual sem este disco.

“Cairo”

Táxi

Numa época de afirmação do rock português, os portuenses Táxi foram uma daquelas bandas a marcar a indústria logo nos seus primeiros passos. Em dois anos, editaram dois discos de rajada, um homónimo de estreia e este Cairo, que se impôs no Top 5 dos álbuns mais vendidos do ano em território nacional — graças à força new wave das suas canções, mas também à originalidade da capa em lata de metal que imaginaram para o disco. O registo, que inclui temas como “Cairo”, “O Fio da Navalha” e “Hipertensão” já era disco de ouro pouco depois do seu lançamento. Permanece como um dos álbuns mais originais de sempre da música portuguesa, registo ímpar de abertura de um país abero aos sons vindos de Londres ou Nova Iorque.

“Combat Rock”

The Clash

Há quem lhe chame o último grande disco dos The Clash. Ao seu quinto álbum, a banda inglesa liderada pelo icónico vocalista e guitarrista Joe Strummer, apresentava Combat Rock como um aperfeiçoamento sólido da transição sonora iniciada anos antes. A partir de London Calling, de 1979, muita coisa mudou em termos de sonoridade. A influência pop tornou-se mais presente e em “Sandinista!” vemos uma banda capaz de abraçar a nova década sem medos. Chegados a 1982, os The Clash compuseram um álbum digno da popularidade alcançada e que contém os seus maiores sucessos comerciais: “Should I Stay Or Should I Go?” e “Rock the Casbah”. Marca, no entanto, o fim da formação clássica da banda, que não voltaria a ser a mesma depois disso. Fica a certeza de que foi, e continua a ser, o canto de cisne de uma das maiores sensações do punk britânico.

“1999”

Prince

“1999” é um dos álbuns mais influentes da década de 1980. Foi, em definitivo, o disco que catapultou Prince para o estrelato internacional e marcava uma viragem sonora que se tornaria essencial para compreender a música pop criada nos anos seguintes. Entre ritmos de funk e de eletrónica, o rock e a pop deambulam entre sintetizadores fundamentais. A faixa-título surge em protesto contra a proliferação nuclear e de armas, tornando-se num sucesso, dentro e fora dos Estados Unidos. Com o condão de ser comercial, mas também vanguardista, 1999 é tão festivo quanto apocalíptico, sexy e notavelmente pessimista. Uma verdadeira revolução – dançável, para o nosso próprio bem – feita de cor e fantasia que não mais tiraria Prince do nosso horizonte.

“Rio”

Duran Duran

De volta à New Wave. Em 1982, muita da música produzida em solo britânico tinha este carimbo e por força de bandas como os Duran Duran. Para o caso, Rio, o segundo registo do conjunto inglês é uma obra notável e inesquecível. Ao longo dos anos tornou-se num disco essencial, reconhecido pela influência que teve em muitos outros projetos musicais e não apenas naquela década. É álbum de maior sucesso comercial dos Duran Duran, com uma capa icónica, desenhada pelo artista plástico e ilustrador Patrick Nagel a pedido da própria banda. Inspirado numa ideia de viagem e na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, este segundo álbum dos Duran Duran foi contributo essencial para solidificar a identidade musical do grupo. Um dos discos mais representativos da década e daquilo que esta significa ainda hoje.

“Independança”

GNR

É uma estreia impossível esquecer. Logo no primeiro álbum, de título proclamável, o Grupo Novo Rock lançava um mote de agitação e dança num país ainda marcado pela ressaca dos anos revolucionários. Na estreia de Rui Reininho como vocalista, mas também a assumir a escrita das canções, Independança surge, de facto, como gesto musical singular que não encontrava até então paralelo em Portugal. Até no seu cruzamento entre o rock e a eletrónica, tornou-se desde logo um trabalho notável e simbólico perante a pretensa de um país que procurava abrir-se, finalmente, à Europa e ao mundo.