O comunicado apresentado na final da Liga dos Campeões, que culpou o atraso dos adeptos pelo adiamento do apito inicial em 15 minutos, foi preparado previamente pela UEFA. De acordo com o The Guardian, o organismo que regula o futebol europeu decidiu nos meses de preparação para a final que um “atraso dos adeptos” seria a justificação dada em cenário de um adiamento do início do jogo. Algo que acabou mesmo por acontecer.

De recordar que o encontro entre Real Madrid e Liverpool, em Paris, começou meia-hora depois do inicialmente estipulado devido ao caos criado no exterior do Stade de France. Cerca de 15 mil adeptos ingleses ficaram presos em filas gigantescas, apesar de terem chegado três horas antes do apito inicial, numa aglomeração que foi entretanto associada a problemas com os bilhetes eletrónicos na passagem pelos torniquetes. Pelo meio, surgiram graves problemas de segurança, com relatos de assaltos, agressões e violência.

Incidentes da final da Liga dos Campeões foram provocados por uma “cadeia de erros disfuncionais”, concluiu o Senado francês

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No Stade de France, quando a UEFA começou por decidir adiar o início do jogo em 15 minutos, surgiu nos ecrãs gigantes uma mensagem onde se lia: “Devido à chegada tardia dos adeptos, o jogo está atrasado. Mais informação será dada num máximo de 15 minutos”. Ora, o que diz agora o jornal inglês é que, nos meses de preparação de respostas a todas as eventualidades que poderiam ocorrer antes, durante ou depois da final da Liga dos Campeões, a UEFA decidiu de antemão que a tal “chegada tardia dos adeptos” seria a justificação dada em cenário de necessidade de atrasar o início do jogo. Independentemente de ser ou não essa a verdade.

Ian Byrne, um deputado britânico e adepto do Liverpool que assistiu à partida, foi um dos primeiros a reagir a notícia do The Guardian. “Acho verdadeiramente chocante e horroroso que a UEFA, o organismo que alberga todas as federações nacionais de futebol, tenha pré-preparado um comunicado a culpar os adeptos como uma explicação standard para um atraso do apito inicial”, disse o político.

Desorganização da UEFA e ânimos exaltados entre adeptos do Liverpool provocaram o caos (e um atraso inédito) na final da Liga dos Campeões

Em julho, duas comissões de inquérito conduzidas pelo Senado francês sobre os acontecimentos no dia da final da Liga dos Campeões concluíram que o caos nas imediações do Stade de France foi provocado por “uma série de erros e falhanços administrativos” por parte das autoridades e da organização. Inicialmente, as altas instâncias francesas culparam os adeptos do Liverpool e a tentativa de venda de bilhetes contrafeitos como as grandes causas dos confrontos que terminaram com agressões, assaltos e gás-pimenta.

De acordo com a BBC, o relatório das duas comissões criadas pelo Senado indica que a atribuição de culpa por parte das autoridades foi “injusta”, já que existiram “erros disfuncionais a todos os níveis”. Laurent Lafon, um dos presidentes da comissão de inquérito, explicou que existiu uma “cadeia de eventos disfuncional” na preparação da entrada dos adeptos no palco da final da Liga dos Campeões. “Toda a gente foi para seu lado sem que existisse uma coordenação real”, acrescentou, sublinhando a dificuldade de criar uma cronologia dos acontecimentos porque as imagens das câmaras de vigilância foram apagadas uma semana depois do jogo, já que não tinha sido feito nenhum pedido expresso e oficial para que fossem guardadas.

UEFA pede desculpa aos adeptos por incidentes na final da Liga dos Campeões

A investigação do Senado ouviu representantes das autoridades, elementos da segurança do estádio mas também alguns adeptos do Liverpool, os apoiantes que acabaram por estar no olho da confusão. Uma das declarações mais polémicas às comissões de inquérito foi feita pelo ministro do Interior francês, que assumiu que a organização poderia ter sido melhor e pediu desculpa pelo uso “desproporcional” de gás-pimenta mas manteve a ideia de que os adeptos ingleses foram os verdadeiros culpados. Anteriormente, Gérald Darmanin já tinha indicado que cerca de 30 a 40 mil adeptos do Liverpool chegaram a Paris sem bilhete ou com bilhetes contrafeitos — sendo que a UEFA defendeu que o número de bilhetes falsos detetados não passou dos 2.700.

Jean-Noël Buffet, o outro presidente da comissão de inquérito, acusou o ministro de estar a mentir. “Logo depois de tudo, ele estava a vomitar asneiras. Foi isso que inflamou a situação. Se tivesse só admitido os erros e pedido desculpa, nem sequer tinha existido um problema”, atirou. De recordar que a UEFA também está a conduzir um inquérito independente sobre tudo o que se passou na antecâmara da final da Liga dos Campeões, num dossiê que está a ser liderado por Tiago Brandão Rodrigues, antigo ministro da Educação.

UEFA já confirmou 2.600 bilhetes falsos na final da Liga dos Campeões