A CIP — Confederação Empresarial de Portugal — defendeu esta quinta-feira que as alterações laborais propostas pelo Governo no âmbito da Agenda do Trabalho Digno “estão nos antípodas do que é necessário para promover a economia” e vão aumentar a conflitualidade laboral.

A posição da CIP foi transmitida pelo diretor-adjunto do departamento de assuntos jurídicos da CIP, Nuno Biscaya, numa audição no grupo de trabalho da Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão sobre as alterações laborais no âmbito da Agenda do Trabalho Digno.

Segundo Nuno Biscaya, as medidas previstas na proposta do Governo “estão nos antípodas do que é necessário para promover a economia, aumentar a competitividade das empresas e manter e criar emprego de forma sustentada”.

O responsável deu como exemplos o reforço dos poderes da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) relativos à conversão dos contratos de trabalho a termo em contratos por tempo indeterminado e as alterações ao procedimento cautelar de suspensão dos despedimentos quando haja indícios de ilicitude.

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Nuno Biscaya considerou que as alterações não só vão levar ao “aumento da conflitualidade laboral” como não respeitam a vontade das partes, uma vez que deixa de haver a possibilidade de o trabalhador poder optar pela indemnização, em vez da reintegração na empresa.

“Parece que a eficiência da ACT resulta da redução das garantias dos empregadores”, sublinhou o responsável da CIP.

A CIP rejeita ainda a regulação do trabalho nas plataformas digitais prevista na proposta do Governo, defendendo que a medida “é precipitada” por acontecer numa altura em que a discussão ao nível europeu ainda está a decorrer.

A proposta do Governo que altera a legislação laboral foi aprovada na generalidade a 8 de julho apenas com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD, Chega, BE, PAN e Livre e votos contra da IL e do PCP.

O documento chegou ao parlamento em junho, sem ter obtido acordo na Concertação Social.

Segundo o calendário esta quinta-feira aprovado no grupo de trabalho, a data para a apresentação das propostas de alteração foi fixada para dia 14 de outubro, dando-se o início dos trabalhos na especialidade a 20 de outubro.

O deputado do PS Fernando José disse à Lusa que “a data indicativa” para a conclusão dos trabalhos na especialidade é dia 16 de dezembro.

Depois de aprovada na especialidade, a proposta terá ainda de voltar a ser aprovada em plenário e só mais tarde entrará em vigor.

Em junho, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, disse esperar que as alterações laborais no âmbito da Agenda do Trabalho Digno entrem em vigor no início de 2023.

A expectativa é que “todas estas alterações entrem em vigor no início do ano de 2023” para que “haja capacidade de preparação” e para acomodar “todas estas alterações”, disse a ministra no final do Conselho de Ministros, em 02 de junho, onde a proposta foi aprovada.