A Associação Portuguesa de Educação Ambiental (ASPEA) envolve anualmente cerca de 60 mil pessoas, estando agora a explicar a escolas e autarquias o programa de educação ambiental para o atual ano letivo.

Anualmente são cerca de 65 mil as pessoas afetadas, ou envolvidas, pelas atividades da ASPEA, uma organização não-governamental de ambiente fundada em 1990 que tem como principal objetivo o desenvolvimento da educação ambiental no ensino formal e não formal.

Em declarações à Agência Lusa, no início de um conjunto de sessões de apresentação do programa educativo a autarquias e escolas, o presidente da ASPEA, Joaquim Ramos Pinto, disse que só nos primeiros meses deste ano foram realizadas 273 ações de educação ambiental, envolvendo 127 voluntários, de palestras a oficinas, de ações de formação a saídas de campo.

Participaram diretamente nas atividades promovidas pela ASPEA 7.916 jovens, explicou o responsável à Lusa. O programa de educação ambiental destina-se a crianças da educação pré-escolar e alunos do ensino básico e secundário, em todo o país. Nos últimos dias foram apresentadas diversas propostas de atividades que trabalham as principais questões ambientais da atualidade.

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O programa, diz a ASPEA, também se destina a colmatar lacunas existentes nos manuais escolares e nas ferramentas pedagógicas disponibilizadas aos professores, em termos de literacia ambiental.

Joaquim Ramos Pinto salienta que a educação ambiental é mais do que nunca importante e necessária.

Porque nos encontramos “num momento crítico em que todos os minutos contam, a ASPEA continua empenhada em desenvolver conteúdos e atividades que sejam impactantes, cativantes e bem fundamentadas do ponto de vista pedagógico e científico, e que façam a diferença no desenvolvimento pessoal e social das crianças desta quinta-feira e dos adultos de amanhã”, diz.

A associação explica que o programa está estruturado em quatro áreas temáticas: o oceano, as florestas, os ecossistemas ribeirinhos e a economia circular, cada uma delas com técnicos especialistas que vão a escolas ou que acompanham idas ao campo, entre muitas outras ações.

Nos últimos quatro a cinco anos os projetos, acrescenta o presidente, procuram aproximar os jovens às políticas, o que se traduz em levar os alunos para a realidade ambiental mas também para situações de realidade social e política, “para que possam opinar em processos de opções políticas dos municípios”.

Essa participação dos jovens nos problemas do município leva-os a abordar as questões de uma forma científica, técnica e também política, leva-os a participar em reuniões dos executivos, a apresentar propostas. Joaquim Ramos Pinto lembra que há dois anos numa conferência nacional foi apresentada uma proposta para dotar as escolas de bicicletas, um apoio que foi concretizado esta semana.

A entrega das bicicletas “Desporto Escolar sobre Rodas”, anunciada pelo Governo, vai começar já este mês e prolonga-se até 2024, com bicicletas e capacetes a chegarem a todas as escolas públicas com segundo ciclo.

Em termos globais o projeto da ASPEA é muito mais. Joaquim Ramos Pinto dá o exemplo do “Projeto Rios”, que inclui idas a troços de rios e apadrinhamento de 500 metros desses rios. Esta quinta-feira já há 395 quilómetros de linhas de água adotados. São apoiadas essas saídas e formados professores, que depois transmitem esses ensinamentos aos alunos.

Não são conteúdos curriculares mas tentamos que as propostas respondam à orientação do currículo”, explica Joaquim Ramos Pinto.

E dá outro exemplo das ações da ASPEA, envolvendo as autarquias: a ASPEA está a acompanhar grupos das escolas na limpeza de praias, que irão depois identificar a catalogar os tipos de resíduos, remetendo às autarquias os resultados da investigação. “Alunos e professores vão depois trabalhar o tema nas aulas, por exemplo sobre se há uma política de resíduos”, complementa o responsável.

Joaquim Ramos Pinto fala de resíduos mas também da gestão da água e de outros temas “que têm uma abordagem social e política”, fala da vintena de projetos com que a ASPEA trabalha, do material que produz, das “condições” que está a criar para juntar os jovens, para que eles olhem o futuro com políticos, com investigadores, com organizações não-governamentais, para se interroguem, por exemplo, “porque é que Portugal está a perder terreno nas metas da reciclagem”.

Questionado, a propósito, sobre como é que continuam a verificar-se tantos atropelos ambientais, como o lixo deixado nas praias, especialmente pontas de cigarro, o presidente da ASPEA começa por dizer que a sociedade portuguesa está mobilizada para as questões ambientais mas que o comprometimento “é outra questão”.

As pessoas que deixam o lixo na praia consideram que alguém o vai limpar, consideram que o domínio público não é responsabilidade de cada um, dizem que já pagam para que alguém limpe as praias, ou limpe as ruas”, diz.

Os jovens, acrescenta, já têm mais envolvimento, mas também, refere, num sistema que valoriza o ‘ranking’ das escolas não se pode querer que esses mesmos jovens estejam mais próximos da sociedade, porque têm de estudar para ter as melhores notas. “Temos de pensar sobre isto, sobre como queremos construir a nossa sociedade, os jovens que estão a lutar por uma nota não olham para o problema dos resíduos, das beatas da praia”.

A ASPEA, entre outras ações, organiza uma conferência anual para professores e outros técnicos interessados na educação ambiental, promove seminários e cursos de formação contínua de professores e de monitores de ambiente, organiza saídas de campo e programas de verão para crianças/jovens, cria material para formação e fomenta a cooperação com autarquias.