Uma homenagem à riqueza cultural e gastronómica africana, um lembrete de que a diversidade é parte intrínseca do nosso país — e que deve ser vista e celebrada. Por via de várias iniciativas, o tema começou nos últimos anos a percorrer a rampa, chegando agora ao seu extremo. O salto está prestes a ser dado e a projetar o debate, não fosse a “Conexão Africana”, tema de palestras anteriores, o mote oficial da próxima edição do Congresso dos Cozinheiros, que acontece já este domingo e segunda-feira, 25 e 26 de setembro. É, precisamente, “em rampa” que, a partir dos bastidores, opera a Edições do Gosto, explica Paulo Amado, à frente da empresa que há duas décadas anda a mexer com o mundo da gastronomia, responsável pelas 18 edições deste evento que vai ganhar vida nos Nirvana Studios, em Oeiras. Esperam-se mais de 20 conversas, degustações e concertos a cada dia, dirigidos por um total de 58 oradores nacionais e internacionais, entre os quais alguns dos mais sonoros na cena gastronómica africana. “Este congresso é a gastronomia a fazer a sua parte. A dizer que a sociedade portuguesa é construída no seio de uma diversidade que interessa valorizar”, diz. “Somos um país que é um elogio à multiculturalidade.”

É fazer ativismo social por via da comida. E, desta vez, hasteia-se a bandeira da diversidade e da inclusão. Mas, atenção: a “Conexão Africana” é a celebração da riqueza cultural e gastronómica do continente — e não da lusofonia, ressalva. Observadora e participante ativa na “construção da culinária profissional em Portugal”, a Edições do Gosto não assume um papel “passivo” ou sequer “neutro”.”Enquanto empresa temos um conjunto de causas. Já há três anos que os nossos eventos são constituídos, em metade, por mulheres”, exemplifica Paulo Amado.  Mas a igualdade de género é apenas um dos objetivos sociais aqui reclamados. Também o “respeito pela diversidade”, “a idade e integração” e a “saúde mental das pessoas” fazem parte do leque de interesses, todos eles representados, novamente, neste Congresso dos Cozinheiros.

Paulo Amado

Quem vai poder ouvir e ver

O cartaz divide-se por dois dias e três palcos distintos. No palco Inter (nome que é uma homenagem à antiga revista gastronómica, a Inter Magazine, a partir da qual nasce a Edições do Gosto) vão decorrer as conversas e apresentações. É aqui que vão marcar presença vários convidados nacionais e internacionais, entre os quais, alguns dos mais sonoros representantes da riqueza gastronómica africana. É o caso de Najat Kaanache, cozinheira basca de origem marroquina, proprietária do Cús, na cidade do México e de seis espaços na medina de Fez (incluindo o Nur, eleito o Melhor Restaurante de África e o Melhor Restaurante Marroquino do Mundo pela World Luxury Restaurant Awards, na edição de 2017), um dos grandes destaques desta edição do CC  — é a oradora que fecha o evento, a 26 de setembro, às 18h45. Poucas horas antes, falará Fatmata Binta, da Fulani Kitchen Foundation: natural da Serra Leoa, a chef de cozinha nómada tem sido a embaixadora da cozinha da tribo Fulani, tendo sido distinguida com o prémio The Best Chef Rising Star pela The Best Chef Awards, em 2021, e este ano com o Basque Culinary World Prize. Sheree Williams (26 de setembro, 11h15) é outras das presenças mais marcantes: fundadora e diretora executiva da The Global Food and Drink Initiative (GFDI), organização multimédia sem fins lucrativos, é desde 2009 editora da Cuisine Noir Magazine, primeiro publicação global, “que liga a diáspora africana através de comida, bebida e viagens”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Najat Kaanache, cozinheira basca de origem marroquina, está à frente do o Nur, eleito o Melhor Restaurante de África e o Melhor Restaurante Marroquino do Mundo pela World Luxury Restaurant Awards.

João Carlos Silva (25 de setembro, às 11h15), dono da Roça São João dos Angolares, em São Tomé e Príncipe, e protagonista do programa da RTP “Na Roça com os Tachos” será o primeiro a subir a este palco. Conte ainda com Jeny Sulemange, cozinheira moçambicana da região de Nampula  (25 de setembro, às 17h15), à frente do restaurante Cantinho do Aziz, em Lisboa.

As demonstrações de cozinha e produtos com degustação ficam reservadas ao palco Produto. Aqui, o público está de pé e degusta, conversa e debate ideias, sem grandes formalidades. É, para Paulo Amado, o local que melhor reflete o ambiente que se vive neste evento, que é um momento de “grande convívio entre os profissionais” desta área. Aqui, conte com a presença da dupla Hugo Alves e Ana Magalhães (26 de setembro, às 10h30), o primeiro chef do Norma, e vencedor da edição de 2021 do concurso Chefe Cozinheiro do Ano; e segunda sub-chefe do Six Senses Douro, vencedora em 2022 da 33.ª edição deste concurso, também organizado pelas Edições do Gosto, que premeia novos talentos no mundo da gastronomia — foi a primeira mulher a ganhar nos últimos 23 anos.

No mesmo dia e no mesmo local, conte também com João Viegas, chef do Vila Vita Parc, Vladimir Veiga, do LAB by Sergi Arola, distinguido com uma estrela Michelin, e Carla Sousa, do Valverde Hotel. Para o dia seguinte, vai poder ouvir José Júlio Vintém (13h), do Tombalobos, ou Vítor Adão (13h30), do Plano e Planto. Ou ainda para Carlos Teixeira (15h30), do Esporão, ou Helt Araújo (16h), da Flor do Duke.

O Espaço Nós As Pessoas, que também dá lugar ao Palco Música, é a materialização do projeto com o mesmo nome, onde, de forma transversal, ganha força o ativismo social promovido pelas Edições do Gosto. Faz, por isso, sentido que sejam estes alguns dos debates aqui promovidos: “Menos Ansiedade? Gostávamos muito!” (dia 25, às 10h), com Pedro Abril, Miyuki Kano e Nuno Duarte; “Os desafios às mulheres na cozinha” (25, às 15h), com Camila Amaral, Joana Duarte, Dulce Silva e Natalie Castro; ou “Todos diferentes” (25, às 18h), com Carla Sousa, Rafa Louzada, Ana Leão e Diogo Coimbra.

Sheree Williams é editora da Cuisine Noir Magazine.

“O palco Nós as Pessoas tem que ver com o projeto com o mesmo nome e que tem que ver com três pilares: primeiro, apresentar as pessoas que trabalham na gastronomia — como pessoas e não como cozinheiras; segundo, os testemunhos e ferramentas para a mudança para os liderados e para os lideres — uma parte mais de consciencialização para preparar para a ação, com cozinheiros a dizerem o que fizeram ou o que lhes fizeram, nunca numa perspetiva de apontar o dedo, mas da mudança; e terceiro,que tem que ver com consultas de apoio psicológico gratuitas que financiamos, em que as pessoas se inscrevem para aceder a 12 sessões.”

Raramente haverá sobreposição de palestras, demonstrações e concertos. Consulte aqui o programa completo e conheça todos os oradores e convidados.

O Melhor Pastel de Nata da Grande Lisboa

Qual é o melhor pastel da Grande Lisboa? É isso que também se vai saber. O gastrónomo Virgílio Nogueira Gomes será o presidente do júri, na competição onde vão estar as 12 casas finalistas que representam um dos mais acarinhados doces conventuais portugueses: Casa do Padeiro, na Pontinha, Casa do Preto, em Sintra, Choupanna Café, em Lisboa, Pastelaria Fim de Século, Lisboa, Pastelaria Aloma, em Lisboa, Padariana da Né, na Damaia, Pastelaria Estrela Dourada, Lisboa, Pastelaria Fidalgo’s, na Moita, Pastelaria Pão de Mel, Forte da Casa, Pastelaria Patyanne, Castanheira do Ribatejo, Pastelaria Viriato, na Ramada, e Santa Coina Confeitaria, em Coina. Do painel de jurados fazem também parte Alexandra Prado Coelho, Suzana Parreira, Daniel Leitão, Teresa Castro, Catarina Amado, Andreia Moutinho e Isabel Zibaia. A prova vai decorrer a 26 de setembro, pelas 14h30, no Palco Inter.

O Congresso dos Cozinheiros acontece a 25 e 26 de setembro, nos Nirvana Studios, em Oeiras. O bilhete de um dia tem o valor de 60€ e o de dois dias de 100€. Incluem as degustações servidas em cada dia e estão disponíveis no site do evento e na plataforma Bol.