“Então, Marta?”, disse a ex-ministra da Administração Pública, Alexandra Leitão, como que a dar as boas-vindas a Marta Temido, a ex-ministra da Saúde, quando entrou na sala onde decorria a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Há alguns meses estavam ambas sentadas à mesa do Conselho de Ministros, agora partilham a mesma comissão. A deputada Temido já tem “pastas” atribuídas no arranque do Parlamento pós-férias que marca a estreia como deputada eleita pelo PS.

Para além de ter lugar na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias — simbolicamente a 1ª comissão na Assembleia da República –, Marta Temido vai também ter assento na Comissão de Transparência e Estatuto dos Deputados, que é presidida por Alexandra Leitão. Com lugar de efetiva nestas duas comissões, Marta Temido fica afastada dos temas da saúde, embora o dossier da despenalização da eutanásia seja tratado nesta comissão. A ex-ministra não integra, no entanto, o grupo de trabalho especifico do assunto.

Marta Temido assistiu, na quarta-feira, a praticamente toda a reunião da Comissão de Direitos Constitucionais ao lado da deputada Joana Sá Pereira, mas o maior abraço que recebeu foi da ex-colega de Governo, Ana Catarina Mendes, que foi ouvida nesta comissão parlamentar. Já na fase final da audição, a Ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares levantou-se do lugar e foi dar um abraço a Marta Temido, procurando saber como está a correr a adaptação da ex-ministra ao lugar de deputada.

Na semana anterior, Marta Temido já se tinha sentado na sala das sessões para assistir aos plenários e participar nas votações. O pesar pela morte da rainha Isabel II fica até registado como o primeiro voto da deputada Marta Temido no arranque desta sessão legislativa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Esta quarta-feira, enquanto André Ventura criticava o Governo e o desempenho do ministro da Administração Interna no combate aos fogos florestais, Marta Temido sentou-se na quarta fila e apesar de ter estado a larga maioria do tempo ao computador, esteve ainda à conversa com António Lacerda Sales, o ex-número 2 que também deixou o Ministério da Saúde para assumir o lugar de deputado.

Marta Temido, Lacerda Sales e Fátima Fonseca assumem funções como deputados

Lacerda Sales foi cabeça de lista pelo distrito de Leiria nas últimas eleições legislativas e no comício de rentrée do PS, António Costa dedicou uma parte do discurso a elogiar o trabalho do médico que foi o primeiro a conseguir uma vitória do PS no distrito, mesmo depois de até o próprio António Costa já ter sido cabeça de lista pela região.

O ex-secretário de Estado adjunto da Saúde também vai ficar longe dos temas da saúde, ao assumir um lugar na Comissão de Assuntos Europeus e ficando como suplente nas comissões de economia e na de Agricultura. Esta estratégia tinha sido já seguida com outros ex-governantes como Tiago Brandão Rodrigues, que assumiu a presidência da Comissão de Ambiente e Energia, ficando longe da educação ou até com Alexandra Leitão que ficou longe da comissão com a pasta da administração pública.

Ainda assim, Fátima Fonseca, que também deixou o lugar de Secretária de Estado da Saúde e volta igualmente ao Parlamento, vai integrar a Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local, um setor que conhece tendo em conta que integrou o Ministério da Administração Pública e da Modernização Administrativa como secretária de estado no anterior governo.

Com a demissão de Marta Temido, não só a ministra, mas os dois secretários de estado voltaram ao lugar de deputados para os quais tinham sido eleitos nas últimas eleições legislativas. Marta Temido foi cabeça de lista pelo distrito de Coimbra e um trunfo eleitoral de António Costa, que puxou pela popularidade da ministra na fase final da pandemia. Agora, quatro anos depois de ter entrado no Governo como independente, Marta Temido assume o lugar de deputada já com o cartão de militante do Partido Socialista e na passagem de pasta a Manuel Pizarro deixou uma declaração de interesses: “Eu tenho a política dentro de mim”.