Morreu o norte-americano Pharoah Sanders, um dos músicos mais importantes da história do jazz americano. O saxofonista, nascido com o nome de batismo Farrell Sanders em Little Rock, capital do estado do Arkansas, tinha 81 anos.
A notícia é dada pela Luaka Bop, editora que lançou o seu último disco revelado em vida, um álbum intitulado Promises que o juntou a Floating Points (projeto musical da área da eletrónica, do produtor, músico e DJ britânico Sam Shepherd) e à Orquestra Sinfónica de Londres — e que, muito elogiado pela crítica musical, também o veio revelar a uma nova geração de ouvintes.
Em nota oficial, publicada na rede social Twitter, a sua última editora informou: “Estamos devastados por ter de partilhar a informação de que Pharoah Sanders faleceu. Morreu em paz esta manhã, em Los Angeles, rodeado pelos seus entes mais queridos, da família aos amigos. Será sempre e para sempre o ser humano mais bonito. Desejamos que possa descansar em paz”.
We are devastated to share that Pharoah Sanders has passed away. He died peacefully surrounded by loving family and friends in Los Angeles earlier this morning. Always and forever the most beautiful human being, may he rest in peace. ❤️ pic.twitter.com/pddaztyTLi
— Luaka Bop (@LuakaBop) September 24, 2022
Um dos músicos mais inovadores e disruptivos do cânone jazzístico desde os anos 1960, figura decisiva do que ficaria conhecido como “jazz espiritual”, Pharoah Sanders tornou-se a meio dessa década — em 1965 — membro da banda de John Coltrane, tendo gravado com o também saxofonista (e figura cimeira do jazz) discos como Ascension e Meditations, álbuns de relevo da fase final da vida de Coltrane em que tocaram também músicos como Freddie Hubbard, Archie Shepp, McToy Tyner, Elvin Jones e Jimmy Garrison.
O saxofonista tenor colaborou ainda com músicos como Sun Ra, Ornette Coleman, Don Cherry (editando dois álbuns, um dos quais Symphony for Improvisers), Sonny Sharrock, Alice Coltrane — com quem gravou três álbuns, como A Monastic Trio e Journey in Satchidananda—, McCoy Tyner (com quem gravou Love & Peace e Blues for Coltrane: A Tribute to John Coltrane) e, mais recentemente, Kenny Garrett e Joey DeFrancesco.
Enquanto líder de formações, Pharoah Sanders editou o seu primeiro álbum completo em 1965, Pharoah’s First, mas foi a partir do sucessor, Tauhid, editado em 1967 já na Impulse! (a mesma discográfica de John Coltrane, que nessa altura já morrera), que o seu percurso a solo se solidificou.
A sua discografia incluiria ainda dezenas de discos como líder, desde logo Karma (1969), Black Unity e Thembi (1971), Live At the East (1972) e Africa (1987). Nestes discos, Pharoah Sanders teve a tocar consigo músicos como Dave Burrell, Stanley Clarke, Leon Thomas, Billy Hart, Ron Carter, Lonnie Liston Smith, Cecil McBee, Roy Haynes e Idris Muhammad, entre outros.
Em 2020, numa entrevista ao The New York Times, Pharoah Sanders falava assim sobre a sua música e aquilo que o move: “Muitas vezes não sei o que quero tocar. Portanto, começo simplesmente a tocar (…) Posso tocar uma nota que pode significar ‘amor’. E depois outra nota pode significar algo completamente diferente. É continuar a fazer e a tocar até que algo se desenvolva — até que se desenvolva e torne algo lindo, talvez”.