O chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou este domingo a San Diego, onde não ia um Presidente português há 33 anos, dando início a uma visita de cinco dias às comunidades portuguesas na Califórnia.

“Há 30 anos que não vinha cá um Presidente, 33 anos, é uma conta certa, é capicua”, assinalou Marcelo Rebelo de Sousa, ao sair do carro, na Avenida de Portugal, para o primeiro ponto do seu programa, um encontro numa associação portuguesa centenária que é uma das dezenas de sociedades do Espírito Santo existentes na Califórnia.

“É um momento muito emocionante”, acrescentou.

Ainda na Avenida de Portugal, o Presidente da República conversou com algumas pessoas que aguardavam a sua chegada e pegou ao colo uma bebé lusodescendente chamada Daria, exclamando em inglês: “É o futuro”.

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Marcelo Rebelo de Sousa recordou que é de 2018 a sua promessa de visitar as comunidades portuguesas e lusodescendentes na Califórnia: “Prometi que vinha cá. Depois veio a pandemia. Eu não sabia que ia haver dois anos de pandemia. Mas agora, morta a pandemia em Portugal e aqui também, cá estou eu”.

Mário Soares foi o último Presidente da República a visitar San Diego, no sul da Califórnia, em 1989, numa visita em que também passou por Los Angeles e pela Área da Baía de São Francisco, que inclui a cidade de São José. Aníbal Cavaco Silva, quando visitou a Califórnia, em 2011, esteve apenas em São José e São Francisco.

Entre hoje e quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa passará por estes três grandes centros da emigração portuguesa para a Costa Oeste dos Estados Unidos da América e irá ainda ao Vale de São Joaquim, parte do vale central da Califórnia, uma região agrícola no interior do estado que nenhum dos seus antecessores visitou.

Acompanham-no nestes cinco dias de visita à Califórnia o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, e os deputados Eurico Brilhante Dias, líder parlamentar do PS, João Moura Rodrigues, do PSD, Rui Paulo Sousa, do Chega, e Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE.

A Califórnia é o estado norte-americano com maior número de cidadãos de origem portuguesa, mais de 300 mil, segundo os dados dos censos oficiais dos Estados Unidos da América.

A emigração portuguesa para a Costa Oeste norte-americana remonta ao século XIX e é maioritariamente oriunda dos Açores.

Questionado sobre a ausência do presidente do Governo Regional dos Açores, José Manuel Bolieiro, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Não se pode trazer toda a gente, porque as pessoas têm cargos, é só por isso. Cá estaremos, e ele cá estará também em breve”.

O cônsul honorário de Portugal em San Diego, Idalmiro Manuel Ferreira da Rosa, estima que vivam na Califórnia “entre 15 mil e 20 mil” portugueses e lusodescendentes, muitos mais do que os que constam dos dados oficiais.

Idalmiro da Rosa, que foi da ilha açoriana do Pico para a Califórnia em 1967, aos 13 anos, considerou que “o sul da Califórnia precisava de um outro consulado” ou de outros meios para atender a população aqui residente.

“O Governo tem de ver a dimensão do território que o consulado em São Francisco cobre, desde o Texas às ilhas Samoa”, apontou.

Quanto a esta visita do Presidente da República, em que estiveram cerca de duas centenas de pessoas, lamentou não ter tido mais tempo para contactar os luso-americanos dispersos pelo condado de San Diego: “Muita gente não soube, se tivéssemos tido um pouco mais tempo os números seriam mais altos”.

Presença americana em Portugal “tem custos”

Em San Diego, o Presidente da República considerou, que Portugal é em alguns setores “a Califórnia da Europa” e realçou a crescente presença de norte-americanos no turismo e habitação, referindo que também tem custos.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas durante um encontro com emigrantes portugueses e lusodescendentes em San Diego, no estado norte-americano da Califórnia, primeiro ponto de uma visita de cinco dias à Costa Oeste dos Estados Unidos da América.

Questionado se Portugal pode ser considerado a “Califórnia da Europa”, o chefe de Estado respondeu que quando o seu antecessor, Aníbal Cavaco Silva, usou essa expressão “na altura parecia uma ideia um pouco revolucionária, mas não era”.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, Portugal é “a Califórnia da Europa” nos setores digital e das energias renováveis e também “no sentido de haver um turismo de fixação de habitação”, mas ressalvou as diferenças em termos de demografia e desenvolvimento económico.

O chefe de Estado contou que atualmente encontra com frequência nas ruas de Cascais e de Lisboa norte-americanos, vindos do norte e do sul dos Estados Unidos, de Nova Iorque, da Califórnia, da Florida, a visitar e a residir temporariamente em Portugal.

“Porquê? Porque é seguro, porque é muito calmo, porque tem um clima magnífico, porque permite a partir daqui entrar na Europa”, disse, concluindo: “Portanto, isto está a mudar, de facto”.

Dos Estados Unidos da América têm chegado a Portugal “pessoas reformadas, outras ainda em atividade e jovens, muitos jovens para estudar”, mencionou.

Marcelo Rebelo de Sousa salientou que esta presença norte-americana em Portugal também “tem custos”.

“Isso tem custos, tem. Sobretudo, por um lado, na habitação, e tem custos na restauração, que se permite fazer preços à medida dos novos clientes que tem”, apontou.

Neste encontro com cerca de duas centenas de portugueses e lusodescendentes em San Diego, onde não ia um Presidente português há 33 anos, Marcelo Rebelo de Sousa agradeceu a esta comunidade, que começou por ser de “grandes pescadores” e agora “está em todos os setores”, com pessoas originárias dos Açores, da Madeira e do Algarve.

“Sinto-me em casa, estamos aqui em Portugal. Estamos ao mesmo tempo nos Estados Unidos da América, mas em Portugal. Esta casa é uma casa portuguesa”, exclamou.

Apresentando-se como membro de uma família de emigrantes, desde o avô aos netos, o Presidente da República falou em português e em inglês, revelando que nunca tinha estado na Califórnia: “Tive de esperar até aos meus 73 anos”.

“Quem sabe comece a ensinar aqui na Califórnia depois do meu mandato? Não sei, vou pensar nisso, vir aqui pelo menos alguns meses”, admitiu, recebendo palmas.