Antes do grande fogo da serra da Estrela, que deflagrou a 6 agosto, no concelho da Covilhã, registaram-se 11 ignições exatamente na mesma zona e depois disso já houve mais casos, informou esta segunda-feira o comandante dos Bombeiros da Covilhã.

“Este ano, nós tivemos um número de ocorrências absolutamente anormal na zona de Vila do Carvalho. Tivemos 11 ocorrências de incêndios florestais, muitas delas nem se notaram porque foram resolvidas nos primeiros minutos, com o ataque inicial”, afirmou Luís Marques.

Este responsável, que foi quem comandou as operações de combate inicial daquele incêndio, tornou público este número numa sessão da Assembleia Municipal da Covilhã, que decorreu esta segunda-feira e durante a qual fez uma apresentação dos diferentes momentos daquele fogo.

No início da apresentação, Luís Marques, que também desempenha funções de coordenador operacional da Proteção Civil Municipal da Covilhã, vincou o número de ignições registadas naquele local.

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Segundo especificou, na encosta de Vila do Carvalho verificaram-se 11 ignições e, já depois disso, num fim de semana de setembro, em apenas 48 horas, registaram-se mais cinco ignições na zona do Teixoso, que fica nas proximidades.

Poderá haver aqui algum incendiarismo”, disse Luís Marques, frisando ainda que o fogo começou durante a madrugada, pelo que, “certamente não foi provocado pelo sol”.

Já quanto ao sucedido, apontou que o primeiro alerta terá sido dado numa altura em que o fogo já tinha alguma dimensão e destacou que as chamas começaram numa zona “muito difícil” e com um declive médio inicial de 50,2%.

“Isso tornou o trabalho muito difícil”, disse, referindo que tal também contribuiu para a rápida propagação das chamas.

Detalhando o trabalho que foi feito em diferentes momentos para tentar “fechar” o fogo, referiu, por várias vezes, a falta de acessos e as zonas “sem quaisquer condições ou hipóteses de combate”.

Para exemplificar, contou que no início do fogo, o autotanque mais próximo da área que estava a arder tinha de ficar a mais de 500 metros.

Com recurso a gráficos, apontou dados e variáveis que serviram como condicionantes, nomeadamente a situação de seca extrema e severa e o facto de os combustíveis finos, como a palha e a caruma, estarem muito secos.

A relação temperatura/humidade foi outro dos pontos que Luís Marques indicou como sendo um entrave ao combate, dado que a temperatura raramente baixava (mesmo durante a noite) e que os níveis de humidade também não aumentavam.

Entre as opções menos apropriadas, assinou o contrafogo a que se terá recorrido em algumas situações, designadamente por ação popular.

A distância dos pontos de água para os meios aéreos foi outro dos aspetos que mencionou, defendendo que é importante que se possam criar zonas de abastecimento na serra da Estrela, mesmo tratando-se de uma área protegida.

Depois de recordar que o fogo chegou a ser dado como dominado e que depois reativou com muita intensidade, frisou que na “segunda fase do fogo” a grande preocupação teve de ser “salvar casas e pessoas”, dada a “progressão rápida e violenta” que se verificou.

Nas lições para o futuro, referiu a necessidade de se criarem oportunidades de combate (com aceiros, redes primárias, mosaicos florestais e corte seletivos), de se gerarem mais pontos de água, além da necessidade de definir de forma clara a organização dos meios e respetiva “hierarquização”.

Na última semana, o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, já tinha adiantado que os prejuízos provocados por este fogo naquele concelho rondam os 35 milhões de euros, entre a parte pública e privada.

O grande incêndio na serra da Estrela deflagrou no dia 6 de agosto em Garrocho, no concelho da Covilhã (distrito de Castelo Branco) e rapidamente alastrou a outros concelhos da zona da serra da Estrela.

De acordo com os dados governamentais, este fogo consumiu 28 mil hectares do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), sendo que o Governo aprovou a declaração de situação de calamidade para este território, a qual vigora durante um ano.

No dia 15, o Governo também aprovou medidas no valor de 200 milhões de euros para aplicar nos concelhos com maior área ardida este ano em Portugal.

Da verba de 200 milhões de euros, “40 a 50%” é para os concelhos da serra da Estrela, segundo especificou, no dia 17, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.

A governante detalhou que o pacote global abarca medidas de emergência, que devem estar no terreno até ao fim deste ano, e medidas de resiliência e competitividade, que devem ser implementadas até junho de 2023.

Além dos municípios da serra da Estrela (Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia), também são elegíveis para estes apoios os municípios de Carrazeda de Ansiães (Bragança), Mesão Frio (Vila Real), Murça (Vila Real), Vila Real, Albergaria-a-Velha (Aveiro), Alvaiázere (Leiria), Ansião (Leiria) e Ourém (Santarém).