Há épicos que, por mais longos que sejam, merecem cada minuto da nossa atenção. Mas nem sempre temos tempo para tamanha dedicação — e deixar um filme a meio (ou reparti-lo ainda mais) não é sequer possibilidade para muito cinéfilo. Por vezes, a curta duração de um filme pode gerar narrativas que aparentam ficar incompletas, mas outros há que, mesmo breves na sua duração, não precisam de nem mais um segundo. Se o desafio for organizar uma lista com títulos desta categoria, as hipóteses são muitos, mas arriscámos e deixamos aqui uma dezena de sugestões: grandes filmes com menos de 90 minutos.

“O Carteirista”

De Robert Bresson, 1959, 76 minutos

Uma verdadeira obra-prima do cinema francês, com apenas 76 minutos. “Pickpocket” no original, do realizador Robert Bresson, é, ao contrário de muitos dos seus filmes, uma experiência cinematográfica vibrante e rítmica, do início ao fim. Com um enredo de inflexão noir e várias sequências de roubos, é fácil ficarmos agarrados a esta história de traços aparentemente minimalistas, onde se fala de culpa e redenção. Aplaudido pela crítica e por muitos dos pares de Bresson, é tido como um “Citizen Kane” do cinema francês, tendo servido de inspiração para “Taxi Driver” de Martin Scorsese, sobretudo graças à influência de “Pickpocket” e de Bresson no trabalho do argumentista Paul Schrader.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Antes do Anoitecer”

De Richard Linklater, 2004, 80 minutos

O segundo filme da trilogia “Before” de Richard Linklater tem pouco menos de 80 minutos e é o mais curto dos três. Neste capítulo, que relata o meio da história entre Jesse (Ethan Hawke) e Céline (Julie Delpy), dá-se o reencontro entre os protagonistas, nove anos depois de se conhecerem (em “Antes do Amanhecer”), e é precisamente o tempo real que manda: até se separarem de novo, Jesse e Céline têm pouco mais de uma hora para colocarem a conversa em dia. Neste caso, o tempo das personagens é também o que nos é destinado para assistir ao filme.

“A Corda”

De Alfred Hitchcok, 1948, 80 minutos

A experiência cinematográfica hitchcockiana no menor tempo possível. Com a pretensão de que todo o filme parecesse filmado num só take, o mestre do suspense conseguiu compor uma obra-prima, a primeira em Technicolor, em apenas dez takes longos. Relata a história de Philip Morgan e Brandon Shaw, que estrangulam um amigo em comum (David Kentley) até à morte com um pedaço de corda, puramente como exercício de inspiração filosófica e para provar que conseguem realizar o crime perfeito. O filme abriu novos caminhos para os policiais no cinema.

“Toy Story”

De John Lasseter, 1995, 81 minutos

O “Toy Story” original tem apenas uma hora e vinte e um minutos de duração. É a primeira vez que encontramos Woody, Buzz e restantes companheiros, naquela que se tornou numa das obras mais icónicas e aclamadas da Pixar. Personagens inesquecíveis, humor inteligente, uma narrativa inspiradora para diferentes gerações: elementos inovadores no cinema de animação. É conhecido por ser o primeiro filme da história do cinema a ter sido compilado inteiramente por ferramentas de computação gráfica. Um clássico breve, mas sem prazo de validade.

“Corre Lola Corre”

De Tom Tykwer, 1998, 81 minutos

Este thriller experimental alemão, com assinatura do realizador Tom Tykwer, tem mais de duas décadas e continua, justamente, a surpreender. Trata-se de um verdadeiro épico vanguardista, que funciona a uma velocidade capaz de nos cativar permanentemente. Conta a história de uma contrabandista que se esquece no metro de um saco com 100 mil marcos alemães e tem exatamente 20 minutos para os recuperar ou enfrentar a fúria de seu chefe mafioso. Desesperado, pede ajuda à sua namorada, Lola, que resolve ajudá-lo. Uma corrida alucinante – como se de um vídeo jogo se tratasse – contada ao minuto.

“O Acossado”

De Jean-Luc Godard, 1960, 90 minutos

Para alguns abrupto, para outros um manifesto revolucionário ao cinema: “O Acossado” é uma obra pioneira da nouvelle vague francesa. Cenas curtas, com múltiplos jump cuts e o estilo irrepreensível da dupla de protagonistas: Patricia Franchini (interpretada por Jean Seberg) e Michel Poiccard (interpretado por Jean-Paul Belmondo). Uma história que envolve roubo, encontros inusitados e perseguições. A execução rápida é outra das características desta obra de Godard, capaz de nos prender a respiração.

“Zombieland”

De Ruben Fleischer, 2009, 88 minutos

As comédias que misturam terror e suspense tendem a ser curtas, mas quando acertam na experiência que oferecem ao espectador, rapidamente se tornam icónicas. É o caso de “Zombieland”, que narra a história do estudante universitário Columbus (Jesse Eisenberg), sobrevivente numa pandemia que transformou a humanidade em zombies. Com um elenco de luxo, onde se junta Woody Harrelson, Emma Stone, Abigail Breslin e Bill Murray, o filme foi um sucesso comercial, num subgénero que (perdoem-nos a graçola) está longe de estar morto.

“Conta Comigo”

De Rob Reiner, 1986, 89 minutos

Neste filme de 1986, adaptado do romance The Body de Stephen King, regressamos ao passado do escritor Gordie Lachance, que recorda um acontecimento pessoal ocorrido no verão de 1959, quando tinha 12 anos. Uma história de adolescentes, marcada pela união entre o grupo de amigos, numa jornada de autodescoberta. O filme, realizado por Rob Reiner, tornou-se rapidamente num dos mais memoráveis da década de 1980 (e um dos títulos chave da carreira de River Phoenix), com apenas 89 minutos de duração.

“O Rei Leão”

De Rob Minkoff e Roger Allers, 1994, 87 minutos

É considerado um dos melhores e mais importantes filmes de animação de sempre, um clássico intemporal com menos de 90 minutos de duração. Segue a história de Simba, que deve assumir o lugar como rei após a morte do seu pai, Mufasa, sob a ameaça do seu tio Scar. A história dispensa apresentações e é decalcada do clássico Hamlet, de Shakespeare. “O Rei Leão” tornou-se um marco cultural ao longo dos anos, misturando uma narrativa simples com temas de grande profundidade emocional a par, claro, de uma banda sonora marcante, com música de Hans Zimmer, Elton John e Tim Rice.

“Frances Ha”

De Noah Baumbach, 2012, 86 minutos

Pode dizer-se que o realizador Noah Baumbach é um mestre da brevidade. Nesta comédia, protagonizada por Greta Gerwig, mergulhamos na cidade de Nova Iorque e na vida de Frances em busca dos seus sonhos. Uma fábula cómica e moderna, rodada a preto e branco, cheia de falhanços e ambição. É uma ode de amor à cidade, que transparece em cada plano. Uma obra breve de grande riqueza, clássico de um tempo contemporâneo nem sempre pronto para novas histórias.