Há conferências de imprensa e conferências de imprensa. E, depois, há séries que estão muito conscientes do seu sucesso. “A Casa de Papel” é uma delas e, por isso, para o anúncio de “Berlín”, o primeiro spin-off de “A Casa de Papel”, a coisa foi feita com moldes narrativos. Não poderia ser algo normal, teria de ser um acontecimento, presencial para uns (em Espanha), virtual para outros. Um porta-voz chega ao palco e diz a todos que nenhum dos presentes sabe bem o que se irá passar e ele passará a explicar. No centro está o argumento do primeiro episódio de “Berlín”. Todos os que assistem à conferência estão livres para participar num leilão sobre o dito, há três pessoas a receber chamadas, com licitações de quem está a assistir virtualmente. Por momentos, entra-se nesta ficção e pensa-se que isto seria uma coisa ao nível de “Panama Papers”: o meio que tivesse acesso a esta informação estaria à frente de todos os outros.

Naquele momento, baixam as cortinas da sala. O conteúdo é secreto. Tempo para licitações. A base começa nos 10 mil. Sobe logo para os 12, 14, 15, 30, 43, 45, 50 mil… salto para os 80 mil. Diz o mestre de cerimónias: “Agora, sim, estamos a falar”. 85 mil e, do nada, apagam-se as luzes. Algumas luzes de telemóveis surgem na sala. Voltam as luzes e no centro do palco estão os protagonistas de “Berlín”, entre eles Pedro Alonso e uma série de outras personagens sobre as quais muito pouco foi revelado. Alonso começa a ler as primeiras linhas do argumento. É um voz-off, uma descrição da sua personagem.

Este é um primeiro anúncio. Sim, já se sabia que existiria um spin-off de “Casa de Papel”, mas o “como” e o “quando” tinham sido mantidos nos segredos dos deuses. O evento desta quarta-feira serviu para dar algumas luzes sobre o que aí vem e, sobretudo, respostas sobre o “onde é que estamos”. E falámos aqui em “primeiro spin-off” precisamente porque não está descartada a possibilidade de existirem mais. “Berlín” era uma opção fácil, por assim dizer. A personagem morreu há algum tempo em “A Casa de Papel” e, por isso, o spin-off nunca se poderia virar para o seu futuro pós-“série mãe”. E, em simultâneo, existiu o tempo suficiente em “A Casa de Papel” para lhe ser dado um passado, sem que tenham sido feitas grandes revelações. Ou seja, há mistérios para explorar.

Ao longo da conversa, Álex Pina, criador de “A Casa de Papel” e de “Berlín”, reforça muitas vezes esta ideia: “Berlín é uma personagem com muita personalidade, que tem várias facetas. E, acima de tudo, não tem uma rota clara e, a qualquer momento, pode-lhe dar um curto-circuito. A série é uma possibilidade de se viajar ao passado e visitar o lado mais lúdico, romântico, luminoso e cómico da personagem”. Esta descrição faz acender algumas luzes na plateia e, para o final, ninguém resiste em perguntar a Álex Pina: “Isso quer dizer que Berlín é uma versão espanhola de Lupin?” (outra série de sucesso na Netflix). Seguiu-se um contundente não, “Berlín” não é visto com tons de comédia romântica.

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Pedro Alonso vê a sua personagem como uma espécie de “parque temático”: “sobrevive à morte, ao limbo, ao inferno, ao seu lado escuro, ao seu lado luminoso… é alucinante estar aqui e abrir este novo ciclo. A vida é um conjunto de ciclos.” A dado momento brinca: “Não estou morto”. Apesar de não ser uma “comédia romântica”, há o desejo de trabalhar comédia com este “Berlín”, porque a personagem é imprevisível e “isso é estimulante para um escritor”, confessa Álex Pina. E remata: “ele é um pouco psicopata, o que só torna as coisas melhores.”

Para já, pouco se sabe. Contudo, para alguns dos atores é um alívio estarem ali. Vários confessam que passaram os últimos meses a mentir sobre o que estavam a fazer, entre um “nunca menti tanto na minha vida” ou “tem sido muito difícil manter o segredo” ou até às invenções de desculpas para não revelar o projeto. A ideia é ir relevando coisas aos poucos, os criadores que confessam que ainda nem sabem para onde a série vai. Acontecerá em Paris e em Espanha, mas poderá ir a outros locais: ainda estão a finalizar o argumento. A rodagem da série começará em breve, a escrita dos episódios será completada com a série já em rodagem. Álex Pina sente-se mais confortável em fazer as coisas assim.

Comparações com “A Casa de Papel”? Preparados para essa pergunta, os criadores respondem que estão mais preocupados em criar uma identidade para Berlín e que desejam que a série seja autónoma. E isso é tão importante para Berlín, o protagonista, como para todas as personagens em seu redor. A ideia é que também tenha o seu género próprio e que evolua naturalmente para outros subgéneros. Data de estreia? “Ainda vamos filmar”, diz Álex Pina. Provavelmente, 2023 vai trazer surpresas.