Com o problema da seca a gerar preocupação nos dois países, Espanha decidiu dar ordem para “interromper a transferência de águas” para Portugal, mais concretamente na bacia do Douro, que estava a acontecer de forma mais abrupta nas últimas semanas, desencadeando fortes protestos dos agricultores espanhóis.

Como o Público noticiou esta terça-feira, a entidade espanhola — a Confederação Hidrográfica do Douro — anunciou que a transferência parou, dada a “descarga drástica” de águas que vinha acontecendo nas últimas semanas. De acordo com fontes do executivo espanhol citadas pela agência de notícias EFE, a decisão terá sido acordada com Portugal, assumindo a impossibilidade de cumprir os caudais mínimos que estavam estabelecidos para os dois países.

Tudo, explica o Público citando a confederação, para “amenizar o desconforto e a preocupação criados” nas populações e agricultores da zona, que ameaçavam com “mobilizações imediatas” caso as transferências de água para Portugal não fossem interrompidas. Os autarcas das comunidades da região já tinham, de resto, assinado uma carta onde descreviam esta política de transferências como “uma política de gestão destrutiva” para os reservatórios espanhóis.

As descargas que vão ser reduzidas estão previstas para barragens que têm produção hidroelétrica na zona de Salamanca e Zamora, segundo as mesmas fontes citadas pela EFE, e a decisão acordada entre os dois países avançou perante a evidência de que Espanha não conseguirá cumprir totalmente este ano, em relação ao Douro, o que está estipulado na Convenção de Albufeira, de 1998, que regula a gestão e caudais dos rios partilhados.

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Os contactos entre Portugal e Espanha são diários e o acordo para reduzir as descargas esta semana foi alcançado no sábado passado, disseram as mesmas fontes à EFE, que garantiram que as negociações entre os dois países respondem ao compromisso mútuo de gerir as bacias hidrográficas partilhadas “com lealdade e de forma solidária na atual situação de seca”.

O problema surge no decorrer da Convenção de Albufeira, acordo assinado por Portugal e Espanha em 1998, e que serve para gerir o caudal dos rios que os dois países partilham. Como Espanha não tinha ainda, ao longo deste ano, libertado a quantidade de água suficiente para fazer cumprir a quantidade acordada, estava agora a tentar compensar essas falhas e a fazer uma transferência de águas “drástica”. Por isso, os agricultores espanhóis afetados vinham criticando esta gestão, pedindo que fique em Espanha água suficiente para garantir o consumo, o regadio e a agricultura e garantindo que as transferências estavam a ser excessivas.

O governo espanhol garante que não tomou esta decisão em reação às manifestações dos agricultores. No entanto, este episódio parece tratar-se de mais um efeito daquilo a que o El Mundo chama uma possível “guerra da água”, referindo-se à disputa pela água dos rios internacionais, numa altura em que Espanha atravessa uma das piores secas da sua história.

Texto atualizado às 10h32 com informações da Agência Lusa.