A azáfama das vindimas dos 1.480 produtores da Adega Cooperativa Regional de Monção termina esta quarta-feira com uma colheita menor do que em 2021, cerca de 4%, mas com a certeza de que a qualidade do Alvarinho vai ser de “excelência”.

Apesar da falta da chuva e do muito calor que se fez sentir este ano, o diretor daquela que é considera a maior adega cooperativa da região dos vinhos verdes, Armando Fontainhas, antevê “um dos melhores anos de sempre da história da adega” no distrito de Viana do Castelo.

“Temos tudo para que o ano de 2022 seja um ano de excelência”, sublinhou, “com uvas de qualidade excecional, com boas graduações alcoólicas”.

“Sem qualquer vestígio de podridão. Os cachos estão fantásticos. Estamos a receber uvas como raríssimos anos recebemos na história da adega”, destacou.

Em Monção, que juntamente com Melgaço forma a sub-região demarcada dos Vinhos Verdes, as vindimas começaram no dia 3 de setembro, com a colheita das uvas brancas das vinhas plantadas nas zonas mais baixas do concelho, e terminam esta quarta-feira, nas zonas de montanha, como a aldeia de Merufe, onde crescem os cachos de uva tinta.

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Este ano, a produção das uvas brancas, “caiu cerca de 4% em relação a 2021, um ano recorde na produção de uva branca”. A uva tinta, acompanha a tendência.

“Apesar de uma ligeira quebra em relação ao ano passado, o mais importante, é a qualidade fitossanitária da uva que é fantástica”, realçou o diretor da adega.

Segundo as estimativas do responsável, as vindimas resultaram “em oito milhões e meio de uvas brancas e tinta”. Estamos a falar de perto de um milhão de uvas tintas e mais de sete milhões uvas brancas, que resultarão de perto de sete milhões de garrafas“, apontou.

Desde o início do mês que um entra e sai de tratores, carregados das uvas mais caras do país, marca o quotidiano da vida da adega, que além das instalações em Monção, tem um polo em Melgaço, para receber o fruto e transformá-lo em vinho.

Aos 31 trabalhadores fixos da adega, juntam-se neste período mais 25 temporários, distribuídos por Monção e Melgaço. Durante as vindimas, almoçam e jantam na adega “para não parar a laboração”.

Depois das vindimas, a adega “também vive períodos de muito trabalho, com o engarrafamento do vinho, feito em dois turnos, o que obriga, em certas alturas, ao recurso a trabalhadores temporários”.

Nos últimos dias, os funcionários estiveram centrados na receção das uvas.

Mal a uva chega, tem uma análise o visual e uma análise técnica, que deteta o teor provável de álcool, ou seja, o açúcar que as uvas têm, neste momento. Com base nisso, é-lhe atribuído uma etiqueta com o código de barras para afetar o pegão de descarga em função do álcool teórico que têm as uvas. Assim se separaram as uvas melhor das de pior qualidade para termos os melhores vinhos no final da colheita”, explicou Armando Fontainhas.

Segundo o diretor da adega de Monção, a uva da casta Alvarinho “é mais cara do país [Portugal Continental], excetuando a uva dos biscoitos, na ilha do Pico, nos Açores”.

Em novembro, em assembleia-geral da adega será fixado o preço da uva da colheita 2022.

“Primeiro vamos ver a quantidade de uva que entrou e os litros de vinho que produzimos. Com base nisso, vamos determinar o preço das uvas para os nossos cooperantes e, no final, a repartição de resultados por todos os sócios da adega”, especificou.

Segundo Armando Fontainhas, em 2021 “a uva da casta de Alvarinho foi paga a um euro” o quilo, sendo que posteriormente, a adega “distribuí 0,20 cêntimos de bónus, ou seja, na prática [a uva da casta Alvarinho] foi paga a 1,20 euros [o quilo], o que a torna a mais cara do país”.

O vinho tinto da colheita 2022, vai chegar ao mercado “antes do Natal”, o brett de branco, como o Muralhas e outras marcas da adega, em janeiro e, em março, serão lançados todos os Alvarinhos, por ser um vinho que “precisa de mais estágio”, antes de ser consumido.

Em 2021, a adega de Monção faturou 16,2 milhões de euros, estimando com a colheita deste ano alcançar, ou mesmo ultrapassar, aquele valor, “face ao crescimento de vendas”.

A adega de Monção foi fundada a 11 de outubro de 1958, por iniciativa de 25 viticultores e produz, entre outros vinhos, as marcas “Alvarinho Deu La Deu”, “Muralhas” ou “Adega de Monção”.

Armando Fontainhas faz parte da direção da instituição desde 2001. Desempenhou as funções de vice-presidente durante 13 anos e, nos últimos nove anos, assumiu a presidência.

Segundo dados da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), a sub-região de Monção e Melgaço tem uma área total de 45 mil hectares, 1.730 dos quais cultivados com vinha, sendo que a casta Alvarinho ocupa cerca de 1.340 hectares.

A sub-região tem no mercado 253 marcas de verde, produzidas por 2.085 viticultores e 67 engarrafadores.

Desde 2015, a produção de Alvarinho foi alargada a outras zonas do país, fora dos dois concelhos do Alto Minho, em resultado de acordo alcançado pelo Grupo de Trabalho do Alvarinho (GTA), constituído pelo anterior Governo PSD/CDS e liderado pela CVRVV, defensora do alargamento da produção daquele vinho aos 47 municípios que a integram.

Adega de Monção quer investir 3 milhões de euros para aumentar produção e eficiência energética

O presidente da Adega Cooperativa Regional de Monção, Armando Fotainhas, disse esta quarta-feira que pretende investir, no próximo ano, cerca de três milhões de euros para aumentar a capacidade de fermentação de vinho e a eficiência energética.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da adega de Monção, no distrito de Viana do Casstelo, explicou que os “dois grandes projetos foram submetidos a apoios do Estado, mas também serão suportados por capitais próprios”.

A adega não vai recorrer a financiamentos. Temos capitais próprios para esses projetos”, garantiu, justificando a necessidade de ampliação da capacidade de fermentação da adega com o emparcelamento agrícola de Moreira e Barroças e Taias, em Monção.

O projeto de ordenamento fundiário já concluído, repartido por aquelas freguesias do Vale do Gadanha, contempla 529 hectares de extensão, dos quais 127 de reconversão de vinha da casta Alvarinho, pertencentes a 616 proprietários, num total de 892 lotes.

São 130 hectares de produção da casta Alvarinho que vai implicar um impacto muito grande na estrutura da adega de Monção. Vamos ter de ampliar a nossa capacidade de fermentação para poder comportar as uvas que, dentro de dois a três anos, virão do emparcelamento”, explicou Armando Fontaínhas.

Segundo da adega de Monção “o projeto está, neste momento, no IFAP — Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas e ronda um milhão de euros de investimento”.

Esperamos uma resposta do IFAP ainda durante este ano, para podermos iniciar o projeto durante o ano de 2023. Não se trata de construir estruturas físicas, mas essencialmente adquirir cubas, bombas e outro tipo de equipamentos de fermentação”, especificou o presidente, que divide a gestão da adega com uma empresa de consultoria e serviços de contabilidade de que é proprietário.

Armando Fontaínhas adiantou que a adega candidatou, em junho, ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), um projeto que ronda os dois milhões de euros, na área da eficiência energética, com instalação de mais painéis solares.

Já fizemos um grande investimento em painéis solares. Tínhamos 75 kilowatts e vamos instalar agora mais 143 que já estão a funcionar parcialmente. Temos também outro grande investimento, no âmbito do PRR, para nos permitir trabalhar com menos consumo energético e menos custos de funcionamento”, disse.

“Nesta altura, a adega já tem capacidade instalada para produzir 225 kilowatts”, destacou, afirmando que o objetivo do novo projeto “não é aumentar a capacidade de energia, mas antes gastar menos”.

“Vamos trocar equipamentos que gastam mais, por outros que gastam menos. No fundo, vamos melhorar a eficiência e vamos tornar os ‘layout’ internos de maneira que se gaste menos energia”, disse.

O projeto contempla ainda a aquisição de duas viaturas elétricas “para deslocações fixas e constantes”, com o objetivo de “diminuir a peugada ecológica” da adega de Monção.

Questionado pela Lusa sobre o aumento dos custos de produção, Armando Fontainhas garantiu que “é elevadíssimo”.

“Neste momento, não posso falar de escassez, porque temos conseguido um abastecimento regular, de garrafas e cartão, mas o preço das garrafas teve um aumento muito grande, entre 30 a 35% e, o do cartão mais do que duplicou”, lamentou.

Segundo o responsável, “o preço do cartão teve um aumento de mais de 100%”, sendo que “uma caixa para seis garrafas que antes custava cerca de 20 cêntimos, hoje custa 42 cêntimos. Quanto às garrafas, a adega faz três a quatro produções específicas, dependendo da época do ano e, por isso, compra, por ano, seis milhões de garrafas”, especificou.

Quanto à repercussão do aumento dos custos de produção no preço final, Armando Fontaínhas, disse que, em maio, a adega fez “um aumento muito pequeno”.

Não fizemos mais, porque o consumidor poderia desviar dos nossos vinhos para o consumo de vinhos mais baratos. Também não podemos repercutir todos esses custos no consumidor final e, por isso, parte estamos a suportá-los”, apontou.

A adega produz 6,5 milhões de garrafas por ano, cerca de 80% para o mercado nacional, e o restante para exportação para 30 países como EUA, Polónia Reino Unido, França, Brasil, Japão e China.

Em 2021 o volume de faturação da adega, que emprega 31 trabalhadores, foi de 16,2 milhões de euros.

A adega de Monção, concelho que juntamente com Melgaço forma uma sub-região demarcada dos Vinhos Verdes, e onde a casta Alvarinho é melhor representada, foi fundada a 11 de outubro de 1958, por iniciativa de 25 viticultores, entre estes cinco irmãos do atual presidente, de 55 anos.

Armando Fontainha faz parte da direção da instituição desde 2001. Desempenhou as funções de vice-presidente durante 13 anos e, nos últimos nove anos, assumiu a presidência.

Segundo dados da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), a sub-região de Monção e Melgaço tem uma área total de 45 mil hectares, 1.730 dos quais cultivados com vinha, sendo que a casta Alvarinho ocupa cerca de 1.340 hectares.