O presidente da empresa gestora do Alqueva, José Pedro Salema, disse esta quarta-feira não antever, a partir de 1 de outubro, “quaisquer restrições” ao uso da água armazenada na albufeira, que está com 64,5% de volume.

“Face aos mecanismos que já estão previstos no contrato de concessão das centrais hidroelétricas e às prioridades de uso, eu acho que não haverá quaisquer restrições”, afirmou à agência Lusa o presidente da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA).

Questionado sobre a determinação do Governo de, a partir de 1 de outubro, existir uma suspensão temporária nos recursos hídricos de 15 albufeiras, incluindo a de Alqueva, José Pedro Salema disse compreender o porquê da inclusão da barragem alentejana.

“Alqueva tem um grande volume de armazenamento, é uma gigantesca bateria, com uma potência significativa, 520 megawatts, e, por ter muita água armazenada, pode trabalhar durante muitas horas, portanto, pode dar uma ajuda durante muito tempo”, argumentou.

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Na resolução do Conselho de Ministros, aprovada na terça-feira, o executivo determinou, a partir de 1 de outubro, uma suspensão temporária nos recursos hídricos de 15 albufeiras, “até que sejam alcançadas as cotas mínimas da sua capacidade útil que venham a ser estabelecidas”.

O objetivo é criar “uma reserva estratégica de água nas albufeiras associadas aos aproveitamentos hidroelétricos” identificados no diploma.

O Governo determinou ainda que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), “na qualidade de Autoridade Nacional da Água, promova, no prazo de 20 dias após a publicação da presente resolução, com a colaboração do gestor global do sistema elétrico nacional (SEN) e ouvidos os proprietários dos aproveitamentos hidroelétricos, a fixação do valor da cota, em metros, a atingir em cada armazenamento hidroelétrico identificado”.

O presidente da EDIA, disse à Lusa que, à data de hoje, o Alqueva armazena “2.670 milhões de metros cúbicos de água”, ou seja, está com um volume de 64,5%, rondando a cota 145.

“Temos que esperar pela definição da cota mínima que temos que atingir pela APA [que é a que] tem que fazer esse cálculo. Mas nós também sabemos fazer essas contas, já o fizemos e achamos que estamos já acima desse nível e, portanto, parece que não haverá necessidade, pelo menos imediata, de impor qualquer restrição a partir do dia 1 de outubro”, insistiu.

O empreendimento terá “uma folga à volta dos 250 hectómetros de água e, este ano, este inverno, não gastaremos isso, nem pensar”, acrescentou, frisando que, mesmo que o inverno seja seco, há que considerar que a época invernal ainda “traga alguma água”.

José Pedro Salema lembrou ainda que o Alqueva é um empreendimento de fins múltiplos, isto é, serve como reserva estratégica de água para abastecimento às populações, para a agricultura (já chega aos 130.000 hectares) e para a produção de energia hidroelétrica.

“Há aqui uma série de dependências e de obrigações que, até de acordo com a Lei da Água, têm prioridade sobre a produção de hidroeletricidade e, portanto, eu acredito que nenhum destes sistemas será posto em causa só para dar primazia à produção de energia”, argumentou.

Ainda assim, o responsável disse perceber “o porquê da resolução do Conselho de Ministros”, porque o país está a viver “uma situação muito grave e muito imprevisível”, com “um inverno à porta em que as albufeiras estão relativamente vazias”.

E é preciso “ter alguma reserva”, sendo “as barragens hidroelétricas” a “única reserva” que se pode “utilizar de forma quase imediata para satisfazer pedidos de ponta de consumo elétrico”, afirmou.