Sérgio Conceição poderia ter dois espaços públicos para abordar o apedrejamento do carro onde seguia a mulher, Liliana, e dois dois filhos, Moisés e Rodrigo (com as respetivas companheiras), após a derrota do FC Porto no Dragão frente ao Club Brugge para a Liga dos Campeões. No primeiro, antes do jogo frente ao Estoril, o técnico e restante estrutura entenderam que seria melhor não comparecer na comparência para não desviar o foco da equipa e do jogo; no segundo, depois do encontro na Amoreira e na sequência de uma pergunta a Taremi na zona de entrevistas rápidas da SportTV, decidiu não só passar pela flash interview como pela conferência de imprensa. Esta quinta-feira, à terceira, abordou o sucedido nessa noite.

“Foi uma situação que me abalou e abalou a minha família. Obviamente que sim. Agradeço o apoio de todos os quadrantes, sem distinção clubística, que tiveram um gesto de apoio para com a minha família. Agradeço a todos. Ontem [Quarta-feira] tive uma visita que me tocou bastante, ao IPO. No final, tive uma declaração, algo emocionada, em que disse que trocava todas as conquistas e momentos que passei, e foram alguns, pela vida daqueles miúdos. Tive oportunidade de estar presente e perceber o estado deles. Com a família é a mesma coisa. Nada é mais importante do que ela. Trocava todo o sucesso desportivo na minha vida pelo bem-estar da mesma. Não há nada mais a acrescentar. Toda a gente se revê nestas minhas palavras. São palavras sentidas. Foi um ataque feio a gente que não está diretamente ligada ao nosso sucesso desportivo”, começou por dizer o técnico na antecâmara do jogo frente ao Sp. Braga.

“Se isso esteve diretamente ligado ao resultado? Não faço a mínima ideia, está aí em investigação. Cheguei com 15 anos ao FC Porto. Já são muitos anos, desde os juniores, como jogador. Entretanto, em todos os anos fui campeão. Como treinador, fui campeão em 50% do tempo, entre outros títulos. Tive a ajuda de toda a estrutura, de toda a equipa técnica e de todos os jogadores para ser hoje o treinador mais titulado a par do senhor Artur Jorge. Isso para mim nada conta, para as pessoas também não, pelos vistos. Não podemos é passar aquela linha que é o limite e exigível do bom comportamento entre aquilo que é a paixão e a vontade de vencer e o inqualificável, como foi o caso. Foi um gesto inqualificável de alguém, isolado. Não revejo nesse gesto toda a gente que ama o FC Porto”, acrescentou a esse propósito, antes de abordar também a espera de alguns adeptos depois do último empate dos dragões no Estoril.

“Há contestações diferentes. Depois há momentos em que se pode contestar quando não se ganha há quatro anos, ou contestar porque nos dois últimos anos ganhou-se uma e depois se perda uma segunda vez… Nós agora estamos mal habituados, como os meus filhos. Muitas vezes estão habituados a coisas boas. Quando têm outras coisas pensam que são más mas não são. Saí tranquilamente, não vi nada. Saí de vidros abertos, estava com calor, sem problema absolutamente nenhum. Estou completamente de acordo com o presidente. Depois de um empate, que não é bom, se não estão meia dúzia de adeptos a assobiar e a dizer mal do clube e às vezes da sua própria vida e de tudo e de todos… Acho que é normal. Se não houver contestação, o clube deixa de ser exigente. Temos de pensar em muita coisa e abríamos aqui a caixa de Pandora a vaguear entre várias ideias sobre os motivos que meia dúzia de adeptos, depois de cinco épocas seguidas de títulos… Não vale a pena, é o que é. Temos de ganhar jogos”, comentou.

À margem desses assuntos, Sérgio Conceição abordou também o momento de Taremi, jogador mais em foco dos azuis e brancos por razões diferentes. “Jogámos há alguns anos contra o Rio Ave e senti que o Taremi era superior aos outros em termos de inteligência. Falo das movimentações dele, de quando surgia em apoio, quando tentava explorar as costas da linha defensiva em momentos curtos mesmo não sendo extremamente rápido… A vida dele também é assim. É muito inteligente, tem um carácter fantástico, é um grandíssimo profissional e um ser humano fabuloso. Com ele não se passa nada, está bem com os colegas todos. Não é um jogador que altere o estado emocional. Está farto de ser massacrado. O que importa é falar de futebol com ele. Falar do Taremi, do Pepe, não interessa”, disse.

“Temos muito que melhorar em relação ao que fizemos num passado bem recente e encarar o jogo com um candidato ao título. Digo-o há alguns anos, como o é o Sp. Braga. Temos de ganhar os três pontos, isso é que é importante. Gostava que este jogo aparecesse num outro momento porque os jogadores chegaram. Foi por isso que também atrasámos um bocadinho a conferência e peço desculpa. Estivemos à espera do Uribe que chegou do aeroporto e veio diretamente para aqui. O nosso fisiologista, o Eduardo, teve um discurso de quase 20 minutos, exageradíssimo… [risos] Faz anos hoje e emocionou-se, alongou-se nas palavras. Eu compreendo também. Por isso, é isto, é focarmo-nos naquilo que é importante que é o jogo, pensando no que temos de fazer, na nossa equipa. Percebemos que o Sp. Braga está muito forte e muito bem. É o melhor ataque, é uma equipa consistente em termos defensivos. Cabe-nos a nós desmontar essa equipa”, salientou ainda a propósito do encontro com os minhotos esta sexta-feira.

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