O 218.º dia de guerra ficou marcado pela notícia de que o Presidente russo assinou decretos nos quais reconhece a “soberania e independência” das regiões ucranianas de Kherson e Zaporíjia. Os diplomas abrem assim caminho à anexação formal das regiões, uma vez que, como refere a Reuters, se trata de um passo intermédio antes do anúncio de integração.

Na sexta-feira o Kremlin vai organizar uma cerimónia que conta com a presença de Vladimir Putin e para a qual foram convidados os deputados russos. É esperado que este seja o momento escolhido para anunciar as anexações das regiões e também das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.

No mesmo dia, o homólogo ucraniano convocou também para sexta-feira uma reunião de emergência do Conselho Nacional de Segurança e Defesa. “Sabemos como reagir às ações russas”, afirmou Volodymyr Zelensky no habitual discurso em vídeo. Numa outra declaração, o chefe de Estado disse que 58.500 soldados russos já morreram desde o início da guerra. “Vieram matar-nos e morreram. Estão a mentir-vos sobre o alegado número de mortos ser seis mil. [São] 58.500! Essa é a verdade. Todos eles morreram porque uma pessoa quis guerra. Apenas uma, servida por muitos”.

Esta quinta-feira foi descoberta uma nova fuga de gás num dos gasodutos Nord Stream. A informação foi divulgada por um porta-voz da guarda-costeira sueca ao jornal Svenska Dagbladet, que deu conta de que a fuga foi detetada “no início da semana” — elevando assim para quatro o número de fugas encontradas.

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A empresa que gere o gasoduto disse que espera que as fugas de gás no Nord Stream 1 parem na segunda-feira. Um porta-voz da Nord Stream AG disse à Reuters que por agora não é possível fazer uma previsão sobre as operações futuras até que os danos sejam avaliados.

“Até que haja resultados da avaliação dos danos, não podemos fazer previsões. A avaliação dos danos poderá ser feita no local assim que conseguirmos chegar à área. Neste momento, trata-se de uma zona restrita”, explicou.

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O que aconteceu durante a noite?

  • O Presidente norte-americano, Joe Biden, garantiu que os Estados Unidos nunca reconhecerão os resultados dos referendos “orquestrados pela Rússia” e acusou o homólogo russo de “violação flagrante” da Carta das Nações Unidas.
  • A embaixada de Itália em Moscovo aconselhou os cidadãos italianos a considerarem sair da Rússia e a evitar viajar para lá. A Roménia, a Bulgária, a Polónia e os Estados Unidos fizeram na quarta-feira o mesmo pedido.
  • A presidente do Instituto de Registos e Notariado disse que o processo disciplinar sobre a atribuição de nacionalidade portuguesa ao milionário russo Roman Abramovich continua “pendente” passados mais de seis meses da sua abertura.
  • Hu Xijin, um proeminente comentador chinês e ex-editor-chefe do Global Times, jornal oficial do Partido Comunista da China, afirmou que a decisão do líder russo de mobilização parcial e a ameaça de uso de armas nucleares suscitaram uma mudança de tom na imprensa chinesa sobre o conflito.
  • As tropas ucranianas dizem ter recuperado o controlo total da cidade de Kupiansk (na região de Kharkiv) e afastado os militares russos das suas posições na margem leste do rio Oskil. A maior parte da cidade já estava sob controlo ucraniano como parte de uma contraofensiva.
  • Numa conversa telefónica esta quinta-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, pressionou o homólogo russo a tomar medidas para reduzir as tensões na Ucrânia e dar outra hipótese a uma negociação de paz.
  • O Presidente da Rússia referiu-se às fugas de gás detetadas no Mar Báltico como um ato de “sabotagem sem precedentes”, descrevendo o caso como um ato de “terrorismo internacional”.

O que aconteceu durante a tarde?

  • Oficiais europeus detetaram na segunda e terça-feira navios da marinha russa nas proximidades do lugar onde foram encontradas as fugas de gás no Mar Báltico, disseram três fontes à CNN. Assumem que as fugas terão sido provocadas por explosões subaquáticas, mas que não é claro se os navios foram os responsáveis.
  • O conselheiro do Presidente ucraniano deixou críticas à cerimónia russa de anexação dos territórios ucranianos: “não faz qualquer sentido”. Numa publicação no Twitter, Mykhailo Podolyak refere-se à cerimónia marcada para sexta-feira como um “espetáculo de aberrações”.

  • As anexações russas em territórios ucranianos “não têm lugar num mundo moderno”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, ao embaixador russo junto da organização.
  • Moscovo disse estar disponível para negociações com Washington sobre tratado de armas nucleares. A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, explicou que Moscovo está disponível para retomar as inspeções previstas no acordo START.
  • O Presidente russo acusou o Ocidente de estar preparado para provocar “revoluções coloridas” e um “banho de sangue” em qualquer país. Vladimir Putin não mencionou, porém, nenhum país em específico. O líder russo disse ainda que os conflitos na ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), incluindo o atual entre Moscovo e Kiev, foram “obviamente” o resultado do “colapso da União Soviética”.
  • A comissária europeia da Energia manifestou-se “firmemente” favorável à imposição de um preço máximo para todas as importações de gás russo, admitindo com menos entusiasmo um “teto” para o gás em geral na formação dos preços da eletricidade.
  • A taxa de inflação atingiu os 10% na Alemanha, em setembro, o primeiro registo de dois dígitos nos últimos 70 anos. É um valor que, pelo simbolismo, irá agravar a pressão pública sobre as autoridades alemãs e sobre o BCE para que mantenha a trajetória de subida dos juros.
  • O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentou a situação sobre as fugas detetadas nos gasodutos Nord Stream. “Isto parece um ato de terrorismo, possivelmente a nível estatal”, acusou.
  • O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, anunciou que “a Itália não vai reconhecer” a integração dos territórios ocupados do Donbass na Federação Russa. A garantia foi deixada por Draghi numa conversa telefónica com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
  • Gergely Gulyas, chefe de gabinete do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, anunciou que a Hungria não irá apoiar um novo pacote de sanções à Rússia se este incluir medidas no setor energético.

O que aconteceu durante a manhã?

  • O ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Pekka Haavisto, anunciou que a Finlândia vai fechar a sua fronteira a turistas russos a partir da meia-noite (hora em Helsínquia), na sequência da mobilização ordenada pelo governo russo
  • O Papa ajudou na mediação de troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia, revelou a revista La Civiltà Cattolica da Companhia de Jesus, sublinhando que Francisco revelou a sua participação durante a viagem ao Cazaquistão.
  • A Aliança Atlântica anunciou que está pronta para reagir de forma “determinada” a quaisquer atos contra infraestrutura dos seus países-membros. O comunicado da NATO surge a propósito das fugas detetadas nos gasodutos Nord Stream, no Mar Báltico.
  • A agência de notícias russa RIA Novosti está a avançar que os deputados russos receberam um convite do Kremlin para participar numa cerimónia com o Presidente russo, Vladimir Putin, na sexta-feira. O evento poderá servir para anunciar a integração das regiões do Donbass na Federação Russa.
  • A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, reagiu às notícias sobre as quatro fugas de gás detetadas nos gasodutos Nord Stream, responsabilizando os “serviços de informação norte-americanos” que diz controlarem aquelas zonas.
  • Os cidadãos russos estão a pagar milhares para saírem do país em voos charter. Procura por voos privados com destino a Arménia, Azerbaijão e Turquia disparou desde a mobilização. Lugares chegam a custar 28 mil euros.
  • Índice de confiança dos consumidores, medido pelo INE, baixou em setembro para os níveis mais baixos desde abril de 2020. Clima económico também continuou a afastar-se dos níveis anteriores à guerra.
  • Um responsável da União Europeia avançou à agência Reuters que a União deve apresentar um novo pacote de sanções à Rússia antes da cimeira da próxima semana.
  • O ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês declarou que as fugas nos gasodutos Nord Stream foram provocadas por explosões “intencionais”. “Isto é sem precedentes, nunca vimos este tipo de ataques”, disse Jeppe Kofod à Sky News.
  • O presidente do Parlamento russo, Vyacheslav Volodin, colocou uma mensagem no seu canal de Telegram onde relembra os cidadãos russos que é proibido por lei fugir à mobilização militar.
  • O presidente do Banco Mundial (BM), David Malpass, disse ver como provável um cenário de recessão na Europa, considerando ser possível que demore anos ao mundo conseguir alternativas energéticas à Rússia.
  • Um tribunal russo ordenou a prisão de três jovens poetas que participaram numa leitura de um texto contra a mobilização para combater na Ucrânia, tendo um deles alegado ter sido violado pela polícia durante a sua detenção. De acordo com a organização não governamental (ONG) russa OVD-Info, Artiom Kamardine, Egor Chtovba e Nikolaï Daïneko estão em prisão preventiva há dois meses.
  • Os Estados Unidos anunciaram que vão enviar um novo pacote de ajuda militar à Ucrânia, no valor de 1,1 mil milhões de dólares. A informação foi confirmada pelo Pentágono à Agência France-Press, que frisa que o pacote incluirá sobretudo mais sistemas de lança-rockets HIMARS.