O economista e professor universitário Ricardo Cabral defendeu esta quinta-feira que qualquer solução para o novo aeroporto de Lisboa tem de passar pelo encerramento da Portela, por não ser economicamente eficiente, e defendeu também a permanência da TAP na esfera pública.

Qualquer solução tem de passar pelo encerramento da Portela. O aeroporto [Humberto Delgado] não foi desenhado de raiz para o fim com que está a ser utilizado no presente, está obsoleto e não é economicamente eficiente. É necessário um único aeroporto”, defendeu o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG).

Esta posição foi defendida durante a conferência “Portugal: Solução Aeroportuária”, promovida pela Ordem dos Engenheiros e pela Ordem dos Economistas, onde participou numa mesa redonda, juntamente com os economistas Augusto Mateus, Ana Brochado e João Duque e os engenheiros Bento Aires, Fernando Santo e Luís Machado.

O economista disse ainda que a eventual aquisição da TAP pelo grupo alemão Lufthansa lhe “parece incorreta”, defendendo que a companhia aérea “deve permanecer na esfera nacional, por razões estratégicas”.

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Por sua vez, Augusto Mateus, economista e antigo ministro, lembrou que a decisão sobre um novo aeroporto no campo de tiro de Alcochete foi tomada e aprovada em Conselho de Ministros, em 2008, e que a localização foi “estudada adequadamente” pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

“Deixar caducar tudo o que dizia respeito ao aeroporto no campo de tiro de Alcochete foi errado”, considerou Augusto Mateus, referindo-se, por exemplo, à Declaração de Impacte Ambiental para um aeroporto em Alcochete, que caducou em 2020.

Fomos derrotados porque não fomos capazes de levar por diante a única solução credível”, apontou o economista.

Relativamente à privatização da ANA Aeroportos, que ocorreu durante a vigência da troika em Portugal, tal como a da REN – Redes Energéticas Nacionais e a da EDP, Augusto Mateus admitiu que o país tinha de vender, por estar em situação de bancarrota, mas podia “ter vendido bem”. “Vendemos mal”, vincou.

O economista mostrou-se pessimista em relação ao futuro, considerando ser “demasiado tarde” para construir uma plataforma de conexão (“hub”) em Lisboa, “com capacidade para tornar relevante a relação entre parte das Américas, parte das Áfricas e a Europa”.

Mais otimista mostrou-se Rosário Macário, economista doutorada em Sistemas de Transportes, que defendeu que o país “ainda pode ter um aeroporto importante”, apesar de não jogar “no campeonato de Madrid”.

O nosso objetivo não pode ser ter a dimensão de Madrid. […] Não temos hoje nenhuma condição de atração das companhias que hoje estão instaladas em Madrid. […] Madrid hoje tem uma conectividade três a quatro vezes superior à dos nossos aeroportos em geral. Isso gera uma oferta de preços muitíssimo inferior e muitíssimo mais competitivos”, explicou.

Para a economista, este processo “não é reversível, o que não é uma desgraça”, uma vez que o país ainda pode ter um “hub” importante para o Brasil ou África.

As ordens dos Engenheiros e dos Economistas defenderam esta quinta-feira que as soluções duais para o novo aeroporto comprometem o adequado desenvolvimento económico e social e insistiram que, das soluções estudadas até ao momento, Alcochete é a melhor opção.

O ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, anunciou, no final do Conselho de Ministros, que a Comissão Técnica que irá levar a cabo a avaliação ambiental estratégica para o novo aeroporto de Lisboa vai estudar cinco soluções, entre as quais estão localizações únicas e soluções duais.

Em causa está a solução em que o aeroporto Humberto Delgado fica como aeroporto principal e Montijo como complementar, uma segunda em que o Montijo adquire progressivamente o estatuto de principal e Humberto Delgado de complementar, uma terceira em que Alcochete substitui integralmente o aeroporto Humberto Delgado, uma quarta em que será este aeroporto o principal e Santarém o complementar e uma quinta em que Santarém substitui integralmente Humberto Delgado.