Mudam-se os tempos, mudam-se as frases utilizadas pelos jovens. As alterações no sistema de ensino atiraram para o baú das memórias a PGA e o ano propedêutico, já ninguém se lembra da guerra entre o Beta e o VHS, mas o sabor das bombocas continua a fazer crescer água na boca a quem as provou – e quem não se recorda do anúncio do Pai Natal desesperado?

Quanto tiveste na PGA?

A pergunta andava de boca em boca no final da década de 80 e início da de 90 do século passado. A Prova Geral de Acesso (PGA) era um exame de português e cultura geral de acesso ao ensino superior obrigatório para os estudantes que queriam ingressar na universidade depois de terminarem o 12º ano. Durou de 1989 a 1993 e desde sempre foi alvo de forte contestação estudantil. Em várias cidades do país, os alunos saíram à rua para repudiar a prova, que tinha classificação de 0 a 100, tendo para tal grande apoio das estruturas partidárias juvenis.

Este ano vou fazer o propedêutico

O Ano Propedêutico durou de 1977 a 1981 e acabaria por se traduzir no embrião da Universidade Aberta. Para um país acabado de sair da ditadura e com baixos níveis de escolaridade, não se assemelhava fácil criar ainda o 12º ano. Foi a primeira iniciativa de ensino superior à distância, com aulas ministradas através da RTP, em diferido, para todo o país. A vasta audiência tinha cinco disciplinas — Português, uma língua estrangeira e três disciplinas do respetivo curso. Esta experiência levou, em 1979, à criação do Instituto Português de Ensino à Distância e posteriormente à Universidade Aberta.

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Encontramo-nos junto à bola de Nivea

Num tempo em que os dias de praia se estendiam do início da manhã até ao pôr-do-sol, sem preocupações com os perigos dos raios ultra-violeta, o ponto do encontro de muitos jovens (e até famílias) era junto à bola de Nivea, existente em muitas praias do país. Era um spot tão procurado que às vezes a dificuldade era encontrar o grupo junto à bola, que se assemelhava a uma paragem de autocarro em hora de ponta. A bola gigante que foi um ícone nas praias de Norte a Sul, regressou recentemente em versão ecológica, numa parceria entre a Nivea e a Eletrão, uma EcoBola com uma estrutura feita em material reciclável e inserida na política de sustentabilidade da marca de cuidados de beleza.

Comprei a blusa nos Porfírios e a saia na Casa Africana

Ainda estavam longe os tempos das Zaras e das Bershkas. Para os jovens da região sul, os Porfírios e a Casa Africana eram o paraíso dos trapos, onde podiam encontrar roupas diferentes. As lojas ficavam em frente uma da outra, numa esquina da Rua Augusta, em Lisboa. Para os teenagers dos 80’ que viviam fora de Lisboa, uma ida aos Porfírios e até à Casa Africana era encarada como uma verdadeira excursão. Na escola, não havia quem não invejasse uma peça com estas etiquetas. A Casa Africana foi fundada em 1872 e encerrou no final da década de 90 do século passado. Os Porfírios abriram portas em 1965 e tornaram-se uma referência da moda juvenil, com peças fabricadas em Portugal, mas copiadas da Carnaby Street de Londres. Fechou as portas em 2001.

Empresto-te o filme. Tens Beta ou VHS?

Não havia streaming mas os jovens dos 80’e dos 90’ do século passado tinham os seus estratagemas para se manter a par da produção cinematográfica, que não era tão vasta. Depois de alugado um filme no videoclube o método passava por juntar dois leitores (normalmente emprestado) para fazer uma cópia. Iniciava-se assim um circuito de empréstimos. O esquema só ficava baralhado quando um tinha um leitor Betamax (Beta) e o amigo um VHS, mas sempre alheios à guerra existente entre a Sony e a Victor Company of Japan que nos dias de hoje se poderia assemelhar a uma batalha entre os sistemas IOS e Android. A batalha entre os dois sistemas durou cerca de uma década, até que a VHS dominou o mercado até ao surgimento do DVD.

Trouxe bombocas para o lanche

Ah as bombocas! Quem era criança na década de 70 do século passado ainda sabe de cor a frase do anúncio: “por cima chocolate, por baixo bolachinha, por dentro é o recheio. Huuum que coisa doce tão fofinha!”. É difícil explicar o sabor da guloseima da Dan Cake e da Imperial. As bombocas, confessemos, fomentavam nas crianças algum egoísmo porque ninguém gostava de as partilhar… e a cobertura frágil de chocolate era uma boa justificação. Nas crianças e nos adultos, basta recordar o anúncio em que nem o Pai Natal desesperado conseguiu apelar ao sentimento do dono de uma loja que lhe respondeu: “Só há estas, são para mim…”

Dá-me uma caneta. A fita da cassete enrolou-se.

A cassete, ou na sua abreviatura, K7, massificou-se na década de 80 do século passado. O som era registado em fitas e isso às vezes traduzia-se numa carga de trabalhos, quando estas se embaraçavam. Mas como a  necessidade – ou neste caso a vontade de ouvir – aguça o engenho, depressa se encontrou uma forma de desenrascar e continuar a ouvir música: uma simples caneta permitia puxar e desenrolar a fita. Só não havia solução quando se partiam, mas mesmo assim havia quem lhe desse uso depois de esgotado o seu objetivo original: estender as fitas nos campos agrícolas para espantar os pássaros. Sem meios digitais para ouvir música, a K7 era usada nos leitores clássicos e mais tarde nos walkman e, na época, foi uma autêntica revolução pela massificação da capacidade de gravar e reproduzi r som. A cassete foi criada pela Phillips em 1963 e, tal como o vinil, tem vindo a ressurgir pela mão dos saudosistas.

Esta quarta-feira vamos à matiné dançar slows?

Quem nunca faltou a uma aula para ir a uma matiné que ponha o dedo no ar. As quartas-feiras eram o dia da semana que muitas discotecas guardavam para acolher os mais jovens que ainda não tinham autorização dos pais para sair à noite. Eram horas e horas a abanar o capacete com os hit dos 80’ mas, para muitos, os slows, em que os pares dançavam agarradinhos, eram o momento mais esperado da tarde. Quantos namoros se iniciaram nas tardes de quarta-feira?

Descubra as diferenças: como era um quarto de um adolescente nos anos 80?

Este fim de semana vamos ao Seagull?

Quem viveu a juventude na zona Sul do país esteve ou quis muito lá estar. O Seagull era a discoteca da moda e passava a música que todos queriam ouvir. A localização sobre o mar na Serra da Arrábida, entre as praias da Figueirinha e Galapos, fazia do Seagull um local especial. Um incêndio, provocado por uma explosão de gás em novembro de 1998, reduziu o espaço que tinha festas temáticas à quarta-feira a cinzas. Nunca mais reabriu mas os saudosos do Seagull têm oportunidade para se reunir anualmente numa festa para recordar as noites no varandim sobre o mar – a primeira teve lugar em 2010, em Tróia.

A Bravo traz um poster dos Kajagoogoo

A revista foi um sucesso entre os jovens da década de 80 do século passado e ninguém se importava com o facto de ser publicada em alemão. O que os jovens queriam mesmo era os posters e os autocolantes que oferecia. Eram muitas as pop stars que “saíam” na Bravo e um dos grupos mais apetecidos eram os Kajagoogoo, uma banda britânica, que ficou conhecida pelo single “Too Shy”. Uma boy band, com cinco carinhas larocas, que se apresentavam com penteados, roupas e acessórios irreverentes. Estiveram no primeiro lugar do top britânico e em quinto nos Estados Unidos. Terminaram a formação pela primeira vez em 1986, mas ainda ressurgiram pela terceira vez entre 2007 e 2011. Numa carreira a solo, Limahl sobreviveu até aos dias de hoje com o seu “Never Ending Story”.