A semana de Carlos Moedas arrancou com uma sessão solene de apresentação do Plano Geral de Drenagem da cidade, a “maior obra de sempre em Lisboa” e que irá “prepará-la para os próximos 100 anos”. O “pai” da obra — como lhe chamou Carlos Moedas –, o antigo presidente da autarquia, Carmona Rodrigues, esteve presente e depois dos agradecimentos e saudações habituais ainda fez questão de fazer um pedido especial: “Espero que se cumpra com rigor os prazos e sem ultrapassar aquilo que são custos previstos”.

Sete estaleiros e obras durante três anos para tentar proteger Lisboa de inundações. Plano tem custo total de 250 milhões de euros

Recados à parte, numa manhã solene no Salão Nobre dos Paços do Concelho não marcaram presença os dois últimos presidentes da autarquia que deram seguimento ao projeto lançado por Carmona Rodrigues. O projeto de Carmona, aliás, chegou mesmo a estar condenado ao fim, quando em 2008 “não foi implementado por falta de capacidade financeira”, conforme se lê na página oficial do plano.

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O projeto acabou por ser recuperado em 2014, pelas mãos do agora primeiro-ministro António Costa, foi mantido por Fernando Medina, mas cabe agora a Carlos Moedas a fase final da execução de obras e a dor de cabeça dos constrangimentos na cidade com sete estaleiros montados durante vários anos. Nenhum dos dois socialistas esteve presente na sessão desta segunda-feira, mas Carlos Moedas fez-lhes memória, frisando o “mérito de todos os presidentes da Câmara Municipal que estiveram antes”: “Carmona foi o pai, mas depois dele todos os outros. A obra é mérito da Câmara Municipal, mais do que tudo”.

Na apresentação, o presidente da Câmara frisou ainda a vertente de “combate às alterações climáticas” que a obra do Plano Geral de Drenagem terá no futuro. Dos “quatro milhões de euros de fatura da água” que a autarquia paga à EPAL “75% não é usada para fins de água potável”. Será possível, por exemplo, através do reaproveitamento das águas das chuvas, que serão canalizadas para as bacias, fazer a rega dos espaços verdes em Lisboa e para a lavagem de ruas, algo que neste momento continua a ser feito com a mesma água usada para beber ou cozinhar.

“Em 2025 vamos dizer que Lisboa está preparada para não ter cheias. Lisboa está a preparar-se como nenhuma outra cidade está a fazer neste momento na Europa. Mais uma vez vai ser o exemplo naquilo que é o combate às mudanças climáticas”, disse Carlos Moedas.

Quanto a datas, na sessão nada foi anunciado. Se no início do ano se apontava para o primeiro semestre, em setembro apontava-se para uma data ainda nesse mês e, agora, ao que o Observador apurou a data já avançou mais um pouco para o “final de outubro, início de novembro”. Com a tuneladora já em Lisboa, é necessário garantir que o primeiro (e maior) estaleiro, em Campolide, está terminado, para depois transportar a máquina com muitas toneladas.

“H2OLi”, a tuneladora que vai escavar por baixo dos pés dos lisboetas

A tuneladora, baptizada com o nome “H2OLi”, que demorou dois meses e meio a chegar a Portugal, chegou ao porto de Lisboa a 14 de setembro e a logística para a levar até Campolide promete ser exigente.

Uma nota da autarquia dá conta que a tuneladora tem “130 metros de comprimento, 6,4 metros de diâmetro externo e uma cabeça de corte que pesa 70 toneladas”. Enquanto estiver a escavar os dois túneis (um ligando Monsanto a Santa Apolónia — com 4,6 km — e outro mais pequeno que vai ligar Chelas ao Beato, com 1,0 km) a máquina vai colocar “3.300 anéis e um total de 19 mil aduelas”. Cada uma das 19 mil aduelas pesa quatro toneladas.

Em Campolide, a 26 metros de profundidade está a ser escavado o “poço de ataque” onde a máquina entrará no chão de Lisboa. O poço do estaleiro tem um tamanho equivalente a um campo de futebol e será naquele local que todas as peças da tuneladora serão montadas, para que possa começar a escavar.

Onde se esperam as maiores dificuldades para os lisboetas?

Nos próximos três anos, de acordo com o cronograma divulgado pela autarquia, existirão “sete frentes de trabalho” as quais, reconhece o executivo, “terão, inevitavelmente, algum impacte negativo na cidade, pelos constrangimentos na circulação/tráfego que irão causar”. Que pontos são estes?

  • O principal — e de onde sairá quase 70% do total de terras — é Campolide, cuja data prevista para o decorrer da obra é entre este mês e abril de 2025.
  • Também na Avenida da Liberdade haverá obras: entre fevereiro de 2023 e agosto de 2024;
  • Na Rua de Santa Marta/Barata Salgueiro as obras estão previstas entre os meses de fevereiro de 2023 e agosto de 2024;
  • Na Avenida Almirante Reis/rua Antero de Quental serão entre novembro de 2022 e setembro de 2024;
  • Em Santa Apolónia, Chelas e no Beato o início das obras esteve previsto o mês de outubro e o final de março de 2025.