Os Dehonianos em Portugal anunciaram a criação de um endereço de email, para receber denúncias de “eventuais casos de abuso de menores e pessoas vulneráveis” nas instituições da congregação em Portugal.

O anúncio foi feito em comunicado publicado, na página da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) na internet, após a divulgação, pelo jornal Público, de que José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), “está a ser alvo de investigações pelo Ministério Público por eventual ‘comparticipação em encobrimento’ de casos de abusos sexuais sobre crianças acolhidas num orfanato dirigido por um padre dehoniano numa cidade da província moçambicana da Zambézia”.

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No comunicado, os Dehonianos, lembrando que a peça do jornal “refere também ‘crimes ocorridos em Portugal'”, anunciam que eventuais denúncias podem ser remetidas para o endereço escutarecuidar@dehonianos.org.

Os Dehonianos em Portugal (…) reiteram o seu compromisso de proteger os menores e outras pessoas vulneráveis, dispondo-se a colaborar com a justiça, em âmbito civil e canónico, sempre a favor da verdade e da justiça”, acrescenta a nota, manifestando “solidariedade” ao atual presidente da CEP, “agradecendo todo o serviço prestado à Congregação ao longo de 50 anos de consagração religiosa, muitos deles desempenhando o sensível serviço de autoridade, com lealdade e competência”.

Segundo o Público, a Procuradoria-Geral da República recebeu a denúncia em setembro deste ano através da Presidência da República, mas só na semana passada “foi decidido avançar com a investigação” ao caso, que remonta a 2011, quando José Ornelas era o responsável máximo pelos Dehonianos.

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Nessa altura, um professor português ouviu de um aluno que frequentava o Centro Polivalente Leão Dehon o relato de alegados abusos cometidos sobre crianças no orfanato dirigido pelo padre Luciano Cominotti”, revela o Público, acrescentando que o docente terá dado conhecimento do caso a José Ornelas, tendo recebido duas cartas “a a agradecer ‘os alertas’, dizendo que o padre Cominotti não estava sob sua autoridade, mas da diocese, e que contra o padre Ilario Verri (diretor da escola) não existiam quaisquer indícios”.

Já este ano, o professor enviou uma denúncia, agora visando o próprio bispo José Ornelas por inação, ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que a remeteu à Procuradoria-Geral da República.

Em comunicado emitido no sábado, a CEP confirma que, em 2011, José Ornelas, na altura superior geral dos Padres Dehonianos, “recebeu informações relativas a possíveis abusos cometidos no Centro Polivalente Padre Leão Dehon, na cidade de Gurué, em Moçambique”.

Imediatamente, deu indicações para que estas suspeitas fossem investigadas pelas competentes autoridades locais da Congregação, as quais não encontraram nenhuma evidência de possíveis abusos”, sublinha o comunicado, acrescentando que “posteriormente, quer a Procuradoria Geral de Moçambique, quer a Procuradoria italiana de Bergamo, em Itália, onde residia um dos sacerdotes visados (cuja nacionalidade é italiana), investigaram detalhadamente todas as situações e arquivaram essas mesmas investigações, ilibando o missionário dehoniano em questão”.

“O Presidente da CEP declara todo o seu interesse em que qualquer caso pendente seja investigado e esclarecido, declarando-se disponível para toda a colaboração a fim de que esse objetivo seja conhecido”, acrescenta o comunicado.

Entretanto, José Ornelas foi recebido no sábado em audiência, no Vaticano, pelo Papa Francisco. Segundo fonte da diocese de Leiria-Fátima, o caso no sábado (1 de outubro) noticiado pelo jornal Público não terá sido o motivo da audiência, “que já estava marcada há muito”.

José Ornelas, de 68 anos, preside à CEP desde 16 de junho de 2020 e é bispo de Leiria-Fátima desde 13 de março deste ano.

Ocupou o cargo de superior geral dos Dehonianos entre 27 de maio de 2003 e 06 de junho de 2015.

Foi José Ornelas que, no final de 2021, anunciou a criação de uma comissão independente para o estudo dos abusos na Igreja Católica em Portugal, que é coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht e que deverá apresentar as conclusões do seu trabalho em janeiro do próximo ano.