A polícia iraniana prendeu uma mulher após ser divulgada na Internet uma foto sua a tomar o pequeno-almoço sem hijab num café na capital do país, Teerão, segundo conta a CNN. A fotografia foi tirada na quarta-feira e mostrava duas mulheres a comer naquele local, num país onde os cafés são tradicionalmente frequentados por homens.

Uma das mulheres da fotografia, Donya Rad, foi presa pouco tempo depois da publicação. A CNN conversou com a irmã, que adiantou que esta foi convocada a prestar explicações das suas ações junto das forças de segurança. “Depois de algumas horas sem notícias, Donya disse-me numa breve chamada que foi transferida para a ala 209 da prisão de Evin”, detalhou a irmã da vítima ao canal norte-americano.

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A prisão de Evin, no Teerão, é um estabelecimento prisional onde o regime prende separatistas políticos e é utilizada exclusivamente para prisioneiros sob a tutela do Ministério da Inteligência e da Segurança Nacional do Irão. Ou seja: é direcionada para presos políticos ou por razões políticas.

Nos últimos dias, as forças de seguranças detiveram vários iranianos, incluindo a escritora e poeta Mona Borzouei, o jogador de futebol Hossein Mahini e a filha do ex-presidente Faezeh Rafsanjani. Também o cantor Shervin Hajipour foi detido depois de lançar uma música inspirada nos tweets de outros cidadãos em que se mostrava solidário com os protestos, adianta a ONG – Iran Human Rights citada pela CNN.

A música “For…” viralizou nas redes sociais, com milhões de visualizações e está a ser partilhada por várias pessoas dentro e fora do país. A capa do jornal online Hamshari da passada quinta-feira tinha uma manchete com o título “Celebridades da Perturbação“, que apresentava a fotografia do ex-jogador de futebol Ari Karimi junto de outras personalidades influentes do país que apoiavam os protestos. O artigo dizia que estes “são uma das principais razões para os recentes protestos populares”.

“Não somos nós que provocamos os distúrbios, não enganem as pessoas. Vão atrás daqueles que põem lenha na fogueira”, disse o ator iraniano Ehsan Karamy, num vídeo publicado na sua conta de Instagram.

A repressão do governo continua com quase duas semanas de protestos, e dezenas de mortos. A Iran Human Rights estima que pelo menos 83 pessoas, incluindo crianças, foram mortas em protestos pela morte da jovem de 22 anos, Masha Amini, que estava detida por utilizar incorretamente o véu islâmico.

Protestos contra a morte de Mahsa Amini mantêm-se pela quinta noite no Irão

De acordo com a agências de notícias Islamic Republic News (IRNA), pelo menos 28 jornalistas foram detidos. A Amnistia Internacional, citada pela CNN, revelou que “está a investigar a segurança do Irão de forma a entender estas prisões em massa de jornalistas, ativistas, advogados, manifestantes e membros de grupos étnicos oprimidos”.