Apesar das garantias do novo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, e de Fernando Araújo, agora à frente da recém-criada Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), existem maternidades que continuam a fechar de forma intermitente, sobretudo na região de Lisboa e Vale do Tejo, forçando grávidas a percorrer, por vezes, quilómetros para serem atendidas.

A informação é avançada pelo jornal “Público“, que acrescenta outro dado: na segunda-feira a comissão criada com o objetivo de solucionar a crise nas urgências dos serviços de Ginecologia e Obstetrícia reuniu-se pela primeira vez com Pizarro e Araújo para discutir que medidas podem ser adotadas.

Para Diogo Ayres Campos, é agora “claro que este não é só um problema do período de férias”, disse, citado pelo Público. Ao longo do verão, o encerramento dos serviços de urgência estaria relacionado com as férias e a consequente redução de profissionais disponíveis, mas o problema parece persistir.

Tanto assim é que a 23 de setembro, por exemplo, o bloco de partos do Hospital de Portimão, do Centro Hospitalar Universitário do Algarve esteve encerrado, tendo as grávidas a partir das 22 semanas de gestação ou com cuidados especiais sido encaminhadas para o hospital de Faro. Em causa estava a falta de especialistas em Pediatria.

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Na zona de Lisboa e Vale do Tejo onde, segundo o mesmo Público, o problema é mais acentuado — a Maternidade Alfredo da Costa encerrou o bloco de Partos a 9 de setembro por falta de médicos, que não permitiu completar escalas.

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Para solucionar um problema que, descreveu, é altamente “complexo”, o coordenador da comissão sugere uma série de medidas (com “prós” e “contras”), como a reorganização dos serviços de Ginecologia e Obstetrícia, incluindo a concentração de recursos, por via do encerramento definitivo de alguns blocos de parto ou através da mobilização de equipas de uns hospitais para os outros.

“Se as maternidades vão fechar [durante horas] todas as semanas, será mais correto para a população concentrar os recursos. Em vez de fecharem intermitentemente a A, a B e a C, mais vale dizer que está sempre aberta a A e a B”, disse, acrescentando que isso poderá significar “mover as equipas para fazerem urgência noutro sítio, de uma forma transitória ou definitiva”, disse, citado pelo mesmo jornal.

Diogo Ayres Campos de Campos fala ainda na possibilidade de se “pagar muito mais” e de se “ir buscar médicos ao setor privado.”

O documento é, como o cenário, complicado e “complexo”. Mas, conclui, “o panorama está traçado e, a partir de agora, está fora do âmbito da comissão”. A bola está agora do lado do Ministro da Saúde e da Direção Executiva do SNS.

Esta comissão foi criada pela ministra anterior, Marta Temido, com o objetivo de dar resposta à crise vivida nos serviços de Ginecologia e Obstetrícia, que, ao longo do verão, levou ao encerramento de vários serviços de urgência — resultando até em casos de grávidas que tiveram de percorrer mais de cem quilómetros para chegar ao hospital mais próximo, como no caso da mulher que perdeu o bebé nas Caldas da Rainha.

No entanto, os novos encerramentos no período pós-férias mostram que a crise não é exclusiva do verão — e que os aumentos nos valores das horas extraordinárias, medida implementada pela antiga ministra, não surtiu o efeito desejado.