Loretta Lynn, nome maior da música country norte-americana e ícone feminista na década de 1970, morreu esta terça-feira aos 90 anos. A informação foi confirmada pela família em comunicado oficial.

Com letras que espelhavam a perspetiva das mulheres trabalhadoras no mundo rural americano, Lynn redefiniu as convenções e o potencial comercial de um género dominado por homens. Barack Obama descreveu-a, por ocasião da sua condecoração em 2013, como “a rainha do country”.

Para lá da música, celebrizou-a a sua história de vida, que tipificava os ideias do sonho americano. Nascida no Kentucky no seio de uma família pobre (que eternizou numa das suas mais famosas canções, Coal Miner’s Daughter, considerada uma das mais importantes canções do século XX), ascendeu ao topo da indústria musical de Nashville, tornando-se na artista country mais galardoada da história.

A sua vida pessoal serviu sempre de inspiração às músicas que compunha. Em particular, o casamento conturbado com Oliver “Dolittle” Lynn — quando Loretta tinha apenas 15 anos — foi abordado pela cantora em vários dos seus temas mais conhecidos, como em “Don’t Come Home A-Drinkin’ (With Lovin’ on Your Mind)”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Doo tentava sempre descobrir que versos nas minhas músicas eram sobre ele; na verdade, 90% das vezes todos os versos eram sobre ele”, afirmou Lynn em 2000.

Apesar da relação turbulenta com o marido, este foi durante anos manager da artista e uma das pessoas que mais a encorajou a perseguir a carreira músical. Os dois estiveram casados durante quase 50 anos, até à morte de “Dolittle” Lynn em 1996.

Mãe aos 16 anos e avó aos 29, a vida de Loretta Lynn era um exemplo de superação e das dificuldades enfrentadas pelas mulheres da sua geração e condição social. Apesar disso — ou talvez por causa disso — tornou-se emblemática da luta das mulheres da sua geração pela emancipação e igualdade de género, reivindicada em músicas como “We’ve Come a Long Way, Baby”.

A sua história de vida acabou mesmo por ser imortalizada no cinema, em 1980, justamente intitulada de “Coal Miner’s Daughter”, que valeu a Sissy Spacek o Óscar de Melhor Atriz pela interpretação do ícone country.

Sissy Spacek in Coal Miner's Daughter

Sissy Spacek interpretou a artista em “Coal Miner’s Daughter”, de 1980, num papel que lhe valeu o Óscar de Melhor Atriz

Lynn teve uma relação complexa com a política. Se por um lado tentava manter-se à parte de temas fraturantes que alienassem uma parte dos seus fãs, a verdade é que acabou por compor vários hinos feministas, bem como músicas de protesto contra a guerra do Vietname. Ao mesmo tempo fez donativos ao Partido Republicano e, em 2016, foi uma das poucas artistas, homem ou mulher, a declarar apoio a Donald Trump nas eleições que este acabaria por vencer.

Para a história fica, sobretudo o seu legado artístico e impacto na indústria musical (razão pela qual uma estátua da cantora foi inaugurada em 202o, em Nashville). Loretta Lynn deixa quatro filhos, dezassete netos, vários bisnetos e uma legião de fãs que manterão vivas as suas canções.

Loretta Lynn Statue Unveiling At The Ryman Auditorium

Estátua de Loretta Lynn à porta do Auditório Ryman em Nashville, Tennessee