A 30 de setembro, o desfile da Loewe na Semana da Moda de Paris surpreendeu sobretudo graças às flores de antúrio que compuseram algumas das peças da nova coleção da casa de moda espanhola, mas também pela suposta originalidade das propostas desenhadas com píxeis: camisolas, calças e T-shirts desceram a passerelle passando a ilusão de estarem “pixeladas”. Agora, sabe-se que estes designs podem ter sido inspirados pelos da marca portuguesa Maison Pixel.

“O resultado final é igual ao nosso do ponto de vista criativo, ainda que a execução não o seja”, começa por declarar ao Observador Sebastião Teixeira, diretor-criativo e CEO da empresa. “Sem insinuar que houve vontade de copiar, o espaço mediático desta visão, que andamos a cultivar há muito tempo, foi-nos roubado e está a ser entregue só à Loewe como tendo sido a criadora disto tudo, quando nós passámos anos a tentar chegar a alguns destes outlets de moda sem conseguir.”

Esta quarta-feira, 5 de outubro, a Maison Pixel usou a sua conta de Instagram para alertar sobre as semelhanças claras entre as suas peças de roupa e aquelas que foram apresentadas pela Loewe. O objetivo, dizem, é denunciar a mensagem que está a ser passada pelos media. “Recebeu uma cobertura mediática ‘louca’, críticos e o público louvaram-nas [às peças da Loewe] pela originalidade, inovação e como um ponto de viragem na moda”, escreveram os portugueses.

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É extremamente frustrante que todo o trabalho árduo dos últimos 7 anos nos seja retirado assim, sem créditos aos criadores iniciais“, continua o post. “Levanta a luz sobre a diferença entre uma grande marca fazer um trabalho superficial sobre uma coisa e ter todo o destaque à volta dela e os pequenos não terem essa importância”, acrescenta ao Observador Sebastião Teixeira.

A Maison Pixel, que vende em Portugal através da loja online, foca-se sobretudo na venda de roupa interior e fatos de banho. Tem patentes registadas sobre o design das cuecas e copyright de todas as suas peças, além da própria marca estar também registada com uma patente. “Nós salvaguardámo-nos para termos algum arcaboiço legal à volta do que estávamos a fazer”, revela o criador.

O projeto começou com um crowdfunding em 2014 e as peças em questão foram lançadas em 2015. Segundo o responsável, o casaco de chuva e os sapatos que se podem ver nas imagens do post fizeram parte de uma coleção-cápsula que esteve presente em feiras e online, embora não o esteja neste momento.

A produção é feita inteiramente em Portugal e 99 por cento é exportada — já estão em mais de 40 países. O maior mercado, revela Sebastião, são os Estados Unidos da América, seguindo-se a Europa. Lançou a marca em conjunto com a sócia, Cesária Martins, que é também criadora. Eram os dois designers e trabalhavam juntos numa agência de publicidade quando tiveram esta ideia. Fizeram um crowdfunding que “correu muito bem e explodiu nos Estados Unidos”. “E depois, sentimos necessidade para ir explorando o tema e ser uma marca”, recorda.

Sebastião explica que este alerta é também um “olhar” sobre a dificuldade de “furar o mundo da moda” para os projetos pequenos, em contraste com o destaque que é dado às marcas grandes.“Há 10 anos, quando começámos isto, já sabíamos pela presença do gaming e dos social media que isto era um passo natural no design. Deixa-nos tristes porque já tínhamos este espaço exploratório, que agora está a ser varrido”.

No entanto, a mensagem da marca também passa por mostrar a facilidade com que as ideias são atribuídas a um criador sem confirmar que não existiam antes. “[Como é que] num mundo tão digitalizado como o nosso, onde é fácil perceber se já existem outras coisas assim, ninguém nunca associa esses pontos? (…) Se nós não fizermos este barulho agora, corremos o risco de ou passarmos a ser completamente desconhecidos ou, ironicamente, daqui a uns tempos, dizerem que somos nós que estamos a copiar o trabalho de uma marca grande.

Neste momento, estão a entrar em contacto com a Loewe para perceberem se podem colaborar, sem assumir, para já, que tenha de facto existido plágio. “Não vamos usar as nossas patentes como alavanca para coagir nem nada do género. Queremos apenas alertar que temos as coisas registadas, vai ser uma coisa num sentido colaborativo”, conclui o porta-voz.

O Observador tentou contactar a Loewe, mas não obteve ainda resposta.