“Das Profundezas”

No Verão de 1961, quando a Itália se desenvolvia em altura, com a construção de arranha-céus em várias grandes cidades graças ao “boom” económico, um grupo de espeleólogos do norte do país descobriu e explorou até ao fim a gruta mais profunda da Europa, e a segunda do mundo, o Abismo de Bifurto, na Calábria. O realizador Michelangelo Frammartino (“As Quatro Voltas”) reconstitui aqui essa proeza, em jeito de falso documentário e num registo de “slow cinema”, dando em tudo tempo ao tempo, quer se trate do quotidiano da exploração dentro e fora da gruta, quer da atenção à natureza, à meteorologia, às pessoas da aldeia próxima ou às rotinas e aos percalços do punhado de pastores que tange gado na zona. Magníficamente fotografado por Renato Berta à luz do dia ou nas trevas da gruta, “Das Profundezas” é um filme poético, plácido e, à sua pausada e atenta maneira, aventuroso. Prémio Especial do Júri no Festival de Veneza de 2021.

“A Fada do Lar”

Mãe solteira de duas crianças, caixa de hipermercado e “stripper” em “part-time” para conseguir equilibrar as sempre periclitantes finanças domésticas, a desempoeirada Vera (Joana Metrass) vê-se um dia em tribunal por ter posto na ordem um cliente demasiado atrevido do bar de “strip”, e é condenada a fazer trabalho comunitário num lar de idosos, que irá conseguir tirar do seu tristonho ramerrame. João Maia, o autor de “Variações”, assina esta comédia cheia de caras conhecidas (Cleia Almeida, Dalila Carmo, Márcia Breia, Margarida Carpinteiro, Carmen Santos ou João Lagarto), que pediam e mereciam melhor do que um argumento tão desesperadamente previsível, com diálogos tão chochos e tão remendão em termos de piada. “A Fada do Lar” devia ter a genica e a graça de Joana Metrass, mas ela sozinha não consegue levar a fita às costas.

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Ciclo Rainer Werner Fassbinder

Assinalando os 40 anos da morte de Rainer Werner Fassbinder, um dos mais importantes, versáteis e produtivos nomes do Novo Cinema Alemão, este ciclo vai exibir oito filmes do realizador em cópias restauradas, no Nimas (Lisboa) e no Teatro do Campo Alegre (Porto), circulando ainda por outras cidades do país, caso de Coimbra, Braga, Setúbal e Figueira da Foz. Os filmes, rodados entre 1971 e 1979, são: “Cuidado com Essa Puta Sagrada”, “O Mercador das Quatro Estações”, “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, “O Medo Come a Alma”, “Effi Briest-Amor e Preconceito”, “Mamã Küster Vai para o Céu”, “Roleta Chinesa” e “O Casamento de Maria Braun”.

“Os Inocentes”

Escrito e rodado pelo argumentista norueguês Eskil Vogt, que costuma trabalhar com Joachim Trier, “Os Inocentes” passa-se num anónimo bloco de apartamentos dos subúrbios de uma grande cidade escandinava. Ida, de nove anos, e a sua irmã mais velha autista, Anna, mudaram-se com os pais para lá recentemente. No mesmo prédio moram também o jovem e solitário Ben e a pequena Aisha. Os quatro miúdos têm poderes telecinéticos vários – deslocação e destruição de objectos, telepatia, controlo das mentes alheias –, que são mais fortes quando estão todos juntos e podem funcionar em rede. Sendo que Ben e Anna são os mais poderosos do quarteto. “Os Inocentes” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.