Mais uma manhã quente no plenário da Assembleia da República com o debate da proposta do Chega para a introdução da castração química como pena para crimes de violação e abuso sexual de crianças. O tema foi o rastilho para uma discussão tensa que levantou vários protestos da bancada do Chega, com gesticulações que o presidente da Assembleia da República repudiou. Em resposta um dos deputados da bancada, Pedro Frazão, lembrou o momento parlamentar em que o então ministro da Economia Manuel Pinho fez corninhos, irritado com o deputado comunista Bernardino Soares.

As imagens permitem ver o que se passou. Enquanto o deputado do Livre, Rui Tavares, atacava as intervenções do Chega durante o debate, classificando-as de “machismo” e queixando-se de apartes vindo daquela bancada sobre os “filhos e filhas de colegas deputados”, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, começou a fazer com a mão um gesto que imita uma boca a abrir e a fechar.

Foi na sequência deste momento que o presidente da Assembleia da República interrompeu Rui Tavares para pedir especificamente ao líder parlamentar que parasse. “O senhor deputado Pedro Pinto importa-se de se abster de gestos que são ofensivos para as outras pessoas”?

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A intervenção de Santos Silva foi aplaudida, exceto pela bancada do Chega, onde Pedro Frazão, na terceira fila, fazia um gesto que ficou famoso na história parlamentar, encostando os indicadores à testa.

O Observador confrontou o deputado do Chega com as imagens. Pedro Frazão garante que “não era uma dedicatória, nem era com a intenção de ofender alguém“. “Era para lembrar que, naquele plenário outras pessoas já fizeram gestos mais indecorosos do que aquele”, explica Pedro Frazão.

“O presidente da Assembleia da República estava a repudiar um gesto inócuo quando já existiram gestos ofensivos que, esses sim, devem ser reprimidos”, continua, referindo-se ao de Manuel Pinho, em 2009, que usou o mesmo gesto para provocar Bernardino Soares.

Na altura, Augusto Santos Silva era ministro dos Assuntos Parlamentares e foi ele quem recebeu a queixa da bancada comunista. O socialista pediria desculpas a Bernardino Soares, considerando a atitude de  Pinho “um excesso”.

“Todos temos excessos e, normalmente, quando temos excessos, porque somos pessoas que nos respeitamos uns aos outros, resolvemos o incidente e consideramos os assuntos encerrados”, disse então Santos Silva. No entanto, apesar do pedido de desculpas do socialista, o episódio acabou mesmo na demissão de Manuel Pinho.