O presidente do governo regional da Catalunha, Pere Aragonès, disse esta sexta-feira que vai continuar a governar, apesar de o parceiro de coligação ter abandonado o executivo, e anunciou uma remodelação.

“Não abandono os cidadãos em momentos tão complicados como o atual”, disse Pere Aragonès, que se referia à crise gerada pela guerra na Ucrânia e pelo aumento de preços.

Segundo afirmou, seria uma “irresponsabilidade” deixar a Catalunha sem governo neste contexto e por isso decidiu fazer uma remodelação governamental e manter o executivo.

Aragonès, que é do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), minoritário no parlamento regional, afirmou que vai procurar novas alianças para governar e “a cumplicidade” de agentes económicos e da sociedade civil.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sem adiantar mais detalhes, afirmou que os novos elementos do executivo regional são “pessoas que representam amplos consensos” e que os nomes serão conhecidos em breve.

A direção do partido Juntos pela Catalunha (JxCat) confirmou esta sexta-feira o fim da coligação no governo regional catalão, depois de uma consulta aos militantes que maioritariamente votaram pela saída do executivo.

“O Juntos pela Catalunha passa a partir de hoje para a oposição”, afirmou a presidente do partido, Laura Borràs, numa declaração em Barcelona.

A líder do independentista JxCat congratulou-se com a opção da maioria dos militantes, considerando que não estavam a ser cumpridos os acordos de coligação, assinados com a ERC, em maio do ano passado.

Queremos governar para conseguir a independência”, disse Borràs, para justificar a rutura com a ERC.

A líder do partido considerou que Pere Aragonès devia submeter-se, agora, a uma moção de confiança no parlamento da Catalunha, onde a ERC, também um partido independentista, “só tem 33 deputados”.

A ERC tem o mesmo número de deputados que o partido socialista da Catalunha, que foi o partido mais votado nas eleições regionais de 2021.

O JxCat ficou em terceiro lugar nas eleições e tem 32 deputados.

Os socialistas anunciaram que se reunirão na segunda-feira, para avaliar a situação.

O líder dos socialistas catalães, Salvador Illa, em declarações a jornalistas em Barcelona na semana passada, não quis pronunciar-se sobre se será preciso haver eleições no caso de o JxCat deixar o governo regional por considerar que é necessário, primeiro, “ouvir” Aragonès.

“Não é um momento de aventuras” e se a ERC “quer governar em minoria” sem ter ganhado as eleições, terá de “explicar como quer fazê-lo e com quem”, disse então Illa.

O primeiro-ministro espanhol e líder do partido socialista de Espanha (PSOE), Pedro Sánchez, garantiu esta sexta-feira uma “aposta inequívoca pelo diálogo” com o governo da Catalunha, “seja qual for a circunstância” ou “a conjuntura” no executivo regional.

É uma “aposta inequívoca pelo diálogo”, tanto do Governo central, como “do socialismo espanhol” e “do socialismo catalão”, afirmou Sánchez, que sublinhou a “importância do valor da estabilidade” em todos os governos, incluindo o catalão, “em momentos tão difíceis”, mas remeteu para o partido socialista da Catalunha a decisão sobre a viabilização de um governo minoritário da ERC, sem o JxCat.

O Governo de Pedro Sánchez tem o apoio, no Congresso dos Deputados (o parlamento nacional), da ERC, e aprovou, em junho de 2021, indultos para nove líderes independentistas catalães que estavam a cumprir penas de prisão por causa da declaração unilateral de independência e a realização do referendo de 2017.

Poucos dias depois dos indultos, o Governo espanhol e o executivo regional catalão anunciaram o reatamento do diálogo “sobre o conflito político entre os dois governos”, nas palavras de Aragonès.

Nesta mesa de diálogo só se senta, do lado catalão, a ERC, que decidiu que o JxCat só teria um lugar se nomeasse um membro do governo regional, algo que o partido recusou.

ERC e JxCat são dois partidos independentistas, mas a Esquerda Republicana da Catalunha é mais moderada e defende que o caminho para a independência deve ser o do diálogo com o Governo central de Espanha, com quem deve ser negociada a realização de um novo referendo.

Depois de uma rutura entre ERC e JxCat, na semana passada, por desentendimentos no caminho a adotar com vista à independência da Catalunha, o Juntos pela Catalunha decidiu perguntar aos militantes se deveria continuar no governo regional.

Segundo os dados divulgados esta sexta-feira, 55,73% dos militantes que votaram, numa consulta que foi feita digitalmente, optaram pela saída do JxCat do executivo regional catalão (também designado como Generalitat).

Participaram na consulta 79,18% dos 6.465 militantes do partido.

O JxCat é o partido do ex-presidente do governo regional Carles Puigdemont, protagonista da tentativa de autodeterminação da Catalunha em 2017.