As comemorações das aparições de outubro em Fátima estão, este ano, ensombradas pelos desenvolvimentos recentes sobre os abusos sexuais de menores na igreja e, nas últimas horas, pelas declarações polémicas do Presidente da República em relação aos números revelados pela comissão independente. Na conferência de imprensa, a partir do Santuário de Fátima, o bispo de Leiria-Fátima e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, escusou-se a comentar diretamente as declarações de Marcelo, mas diz que “qualquer número é sempre demasiado”: “São pessoas, não são números. São pessoas com dramas muito grandes”.

Reiterando que não foi contactado pelo Ministério Público, José Ornelas diz que não quer fazer “demasiados comentários” sobre o alegado encobrimento e remeteu para os comunicados já emitidos sobre o assunto nos últimos dias.

Em relação ao trabalho da Comissão Independente, José Ornelas lembra que a recolha de testemunhos termina no final deste mês e apelou a que “quem ainda tem alguma coisa a dizer que o faça”. “É bom que se tenha uma declaração de todos, não são os números que me assustam. Este já é um grande número, mas denota e faz ver que há outros por trás”, disse o bispo que agradeceu ainda “o papel da comunicação social” na denúncia de casos e frisou que o fim do trabalho da comissão não significa que não se continue a sinalizar os casos de abusos que tenham acontecido.

“O que importa é vermo-nos livres desta praga que a todos nos envergonha e motiva para verdadeiramente nos debruçarmos sobre todos os que sofreram. Num gesto que não pode ser só de palavras, de perdão, dando-lhes dignidade e voz. Ao mesmo tempo, esforçarmo-nos para que não volte a acontecer, como não devia ter acontecido”, afirmou o presidente da Conferência Episcopal.

José Ornelas sublinhou ainda que “para a Igreja cada caso é uma derrota”: “É uma derrota porque alguém sofre, alguém foi espezinhado nos seus direitos fundamentais e porque contradiz tudo o que queremos, somos e queremos ser como Igreja. Não posso dizer que no futuro não vai acontecer, mas o que estamos a fazer é para dizer ponto zero, que seria o ideal.”

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