O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta quinta-feira que não há paz e segurança duradouras no mundo se não se assumir o combate às alterações climáticas como grande desafio do presente.

O chefe de Estado discursava na Fundação Calouste Gulbenkian, na cerimónia de entrega do Prémio Gulbenkian para a Humanidade, que nesta terceira edição foi atribuído à Plataforma Intergovernamental Ciência-Política sobre Biodiversidade e Serviços de Ecossistemas (IPBES) e ao Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC).

O Prémio Gulbenkian para a Humanidade tem atualmente como presidente do júri Angela Merkel, ex-chanceler da Alemanha, que também discursou nesta cerimónia, alertando para os perigos das alterações climáticas e apelando à ação conjunta para “evitar uma catástrofe ambiental“.

Marcelo Rebelo de Sousa, que interveio depois, considerou que “pode parecer irónico“, quando o mundo enfrenta os efeitos da pandemia de Covid-19 e em tempo de guerra na Ucrânia, o Prémio Gulbenkian para a Humanidade distinguir duas instituições ligadas ao combate às alterações climáticas.

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“Mas não é. Não há paz e segurança duradouras se não numa geopolítica global em que a prioridade das alterações climáticas e da proteção da biodiversidade represente o grande desafio das nossa gerações. Essa é a verdade das coisas“, defendeu.

O Presidente da República agradeceu à Fundação Calouste Gulbenkian “o exemplo, mais um exemplo de pioneirismo, de grito de alarme em relação ao futuro”, repetindo uma expressão do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

“Todos sabemos que o secretário-geral das Nações Unidas tem razão, há razão para um grito de alarme”, considerou.

Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, realizada em novembro de 2021, em Glasgow, na Escócia, “foi parcialmente uma desilusão“. A próxima está marcada para novembro de 2022 em Sharm el-Sheikh, Egito.

Quanto a Portugal, disse que “tem dado um contributo positivo e relevante neste domínio”, que tem procurado “antecipar o cumprimento das metas objeto de compromisso nacional, europeu e universal” e que os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas correspondem “a um compromisso de regime” que não muda com os governos.

“É uma prioridade pacífica no nosso país, envolvendo o combate às alterações climáticas e a proteção da biodiversidade”, acrescentou.

Na sua intervenção, Marcelo Rebelo de Sousa recordou o antigo chefe de Estado Jorge Sampaio, que presidiu ao júri Prémio Gulbenkian para a Humanidade, “com saudade“, referindo que essa palavra “não tem tradução noutras línguas”.

“Com uma vida pública que foi ela própria também testemunho de uma defesa de causas, com raro sentido de humanidade, que nos inspira permanentemente, encontra na chanceler Angela Merkel uma sucessora notavelmente qualificada”, elogiou.

A seguir, o chefe de Estado dirigiu-se a Angela Merkel em alemão, durante dois minutos, declarando que a sua personalidade prestigia esta iniciativa e é de grande importância “pela sua dimensão humanismo global” num momento de “fragmentação e intensificação do nacionalismo”.

O Presidente da República recebeu neste dia Angela Merkel para um almoço no Palácio de Belém, em Lisboa, e condecorou-a com o grau de Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique.

No valor de um milhão de euros, o Prémio Gulbenkian para a Humanidade foi instituído pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2020 com o propósito de distinguir pessoas, grupos de pessoas ou organizações que se tenham evidenciado no combate à crise climática com contribuições originais, inovadoras e com impacto.

Em 2021 foi atribuído à jovem ativista sueca Greta Thunberg e na segunda edição, em 2022, ao Pacto de Autarcas para o Clima e Energia, aliança constituída por mais de 10 mil cidades e governos locais de 140 países, incluindo Portugal.