Nas últimas épocas, talvez nos últimos dois ou três anos, o Liverpool-Manchester City foi o melhor jogo de futebol do mundo. Esta temporada, pelo menos no que diz respeito a uma perceção conjunta e a uma ideia coletiva, esse paradigma mudou: pela quebra de rendimento dos reds, pelo futebol praticado pelo PSG ou pelo Real Madrid ou até pela desaceleração da rivalidade entre as duas equipas, já que nenhuma está na liderança da Premier League. Ainda assim, não deixa de ser um dos melhores jogos de futebol do mundo.

Este domingo, em Anfield, o Liverpool recebia o Manchester City numa altura em que 13 pontos separam os dois clubes na classificação: os citizens entravam em campo no segundo lugar, apenas atrás do líder Arsenal, e os reds entravam em campo em 11.º, ainda que com menos um jogo disputado. Se, para a equipa de Pep Guardiola, este jogo obrigava a uma vitória para não deixar fugir um Arsenal que já tinha triunfado nesta jornada, para a equipa de Jürgen Klopp este um confronto que poderia servir de alavanca anímica depois de três partidas seguidas sem vencer na Premier League.

“Guardiola? Preferia que tirasse um período sabático de quatro anos. Aliás, preferia que tivesse tirado um período sabático nos últimos quatro anos. Estou a brincar. É o melhor treinador do mundo e prova-o constantemente, todos os dias. É especial aquilo que eles estão a fazer, respeito isso. Sei reconhecer o brilhantismo e é esse o caso. O Pep já disse que, quando não estivermos a treinar ninguém, podemos combinar um copo de vinho. Não sou um grande apreciador de vinho mas, se pudermos fazer isso enquanto eu estiver a treinar e ele não, seria o desejável. Não sou o Federer e o Pep não é o Nadal. Eles competem ao mais alto nível e são muito amigos. Eu e o Pep não somos amigos porque não nos conhecemos. Mas respeito-o muito e sei que ele respeita aquilo que estamos a fazer. Na rivalidade não precisamos de faltar ao respeito”, disse Jürgen Klopp na antevisão da partida.

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“Eles continuam a ser os nossos grandes rivais na luta pelo título. Sempre foram, sempre serão. Conhecemos a qualidade deles, a personalidade deles. Se estivesse a responder a esta pergunta a cinco ou 10 jogos do fim da época, diria que o Liverpool já não conseguiria chegar ao topo da tabela, neste caso, ao Arsenal. Mas na posição em que estão e com o Mundial pelo meio, tudo pode acontecer. A opinião que tenho sobre a equipa deles não muda pelo lugar que ocupam na tabela, nem por um segundo. Sempre foi difícil jogar contra eles, desde que cheguei, e vai ser um jogo difícil. O resultado será ditado por aquilo que acontecer dentro de campo, não é porque nós estamos à frente e eles atrás”, respondeu Pep Guardiola.

Assim, neste contexto, o Liverpool apresentava-se em Anfield com Salah, Diogo Jota e Roberto Firmino no trio ofensivo, sendo que Harvey Elliot era titular no meio-campo e que James Milner rendia Alexander-Arnold na direita da defesa. Do outro lado, o Manchester City tinha João Cancelo, Rúben Dias e Bernardo no onze inicial, com Phil Foden a aparecer no ataque e Nathan Aké a ser o responsável pela esquerda da defesa.

A primeira parte terminou sem golos e sem que nenhuma das equipas tenha tido uma verdadeira oportunidade de golo. O Liverpool teve mais bola, impondo-se ao Manchester City essencialmente durante a meia-hora inicial, mas a equipa de Pep Guardiola nunca permitiu grandes aventuras ao adversário no último terço. Os citizens responderam principalmente no quarto de hora que antecedeu o intervalo, conquistando algum ascendente e criando uma ocasião em que Haaland cabeceou à figura de Alisson depois de um cruzamento de De Bruyne (40′).

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e os primeiros 10 minutos do segundo tempo trouxeram mais destaques ofensivos do que toda a primeira parte. Salah teve uma gigantesca oportunidade para abrir o marcador, ao aparecer isolado na cara de Ederson depois de uma abertura de Firmino, mas o guarda-redes brasileiro evitou o golo com uma enorme defesa (50′). Logo depois, Phil Foden conseguiu mesmo marcar numa recarga a uma primeira investida de Haaland (54′) — mas o lance foi anulado pelo árbitro da partida, após recorrer às imagens do VAR, devido a uma falta do mesmo Haaland sobre Fabinho no início da jogada. No momento seguinte, Jota cabeceou por cima depois de um grande cruzamento de Salah (56′). Na linha técnica, tanto Klopp como Guardiola procuravam incendiar as bancadas.

Os ânimos acalmaram depois da hora de jogo, com Haaland a forçar Alisson a mais uma defesa (64′) e Salah a atirar ao lado (69′), e Klopp foi o primeiro a mexer com uma tripla alteração que colocou Fábio Carvalho, Darwin e Henderson em campo. O momento mais importante da partida surgiu já dentro do último quarto de hora: Alisson agarrou a bola depois de um livre a favor do Manchester City, colocou no meio-campo adversário e Salah ganhou a Cancelo para ficar isolado na cara de Ederson, abrindo o marcador para se estrear a marcar em Anfield esta temporada (76′).

Van Dijk ainda teve um corte crucial, evitando o cabeceamento de Haaland depois de um cruzamento de Cancelo na direita (82′), Jürgen Klopp acabou expulso com vermelho direto por palavras dirigidas ao árbitro, Pep Guardiola só lançou Julián Álvarez ao minuto 90 e Jota saiu de maca com problemas físicos. No fim, Anfield voltou a ser do faraó e o Liverpool venceu o Manchester City com um golo solitário de Salah, deixando o Arsenal com quatro pontos de vantagem na liderança da Premier League.