As condições estavam todas reunidas. Real Madrid e Barcelona tinham os mesmos pontos na liderança da liga espanhola, Real Madrid e Barcelona ainda não tinham perdido esta temporada para o campeonato e Real Madrid e Barcelona juntavam duas equipas com alguns dos melhores jogadores do mundo. Este domingo, no Santiago Bernabéu, era dia de El Clásico.

Tanto merengues como catalães apareciam vindos de um empate na Liga dos Campeões, sendo que o Real Madrid não foi além de uma igualdade com o Shakhtar Donetsk mas continua a ser líder isolado do grupo e o Barcelona evitou in extremis uma eventual derrota com o Inter Milão que significava o adeus aos oitavos de final. Na liga, porém, estava tudo na mesma — e uma vitória este domingo era também a conquista do primeiro lugar indisputado da classificação.

“Não vou inventar taticamente, nunca inventei. Os inventores não existem no futebol. Na temporada passada quis inventar e fomos goleados. Quero uma equipa com uma ideia muito clara do que fazer em campo. É um jogo de alto nível. O jogo da temporada passada não nos vai afetar. É uma competição de outro ano, outro Clássico. Não é um jogo de vida ou morte. É uma partida especial e a temporada é muito longa”, explicou Carlo Ancelotti, recordando o 0-4 do Barcelona ao Real Madrid, em pleno Santiago Bernabéu no passado mês de março, quando o treinador italiano optou por colocar Modric numa posição mais subida do que o habitual.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“São três pontos. Ganhar um Clássico dá moral e confiança. É importante para nós e para o Real Madrid. Estamos em construção. Temos de continuar a acreditar no projeto. Ainda temos competições. Calma, paciência. Entendo as dúvidas com a Liga dos Campeões, sei onde estou. Num dia em que não devíamos falhar, falhámos. Entendo os adeptos, também estou desiludido e triste. Vim para dar a volta à situação e isso pode ser alcançado. No dia em que achar que isso não é possível, sento-me aqui e também o digo. Vamos ver como corre a temporada, não vou parar de insistir. No dia em que não vir isso claro, vou para casa. Não vou ser um problema para o Barça”, defendeu Xavi.

Ora, neste contexto, Ancelotti não contava com o guarda-redes Courtois, que está lesionado, e lançava Lunin na baliza. Rüdiger começava no banco depois do traumatismo facial que sofreu na Liga dos Campeões e Valverde, Benzema e Vinícius eram os responsáveis pelo trio ofensivo, com Rodrygo a ser suplente. Do outro lado, Xavi voltava a contar com Koundé, Pedri, Busquets e De Jong eram os donos do meio-campo e Lewandowski era apoiado por Raphinha e Dembélé no ataque, com Ferran Torres e Ansu Fati a ficarem fora do onze inicial.

A primeira parte tombou por completo para o lado do Real Madrid. Os merengues abriram o marcador ainda dentro do quarto de hora inicial, com Benzema a aproveitar uma defesa de Ter Stegen a um remate de Vinícius para fazer o primeiro golo do jogo (12′), e os catalães demonstraram alguma dificuldade não só para defender as investidas adversárias como também para causar perigo. Raphinha ia sendo o principal desequilibrador, com a equipa de Xavi a beneficiar de tempo e posse de bola no meio-campo oposto mas sem capacidade para encontrar espaço ou aplicar alguma mobilidade. Lewandowski teve a melhor oportunidade do Barcelona até ao intervalo, ao atirar por cima quando tinha a baliza deserta pela frente (25′), e o Real Madrid aproveitou o desperdício do polaco.

Já depois da meia-hora, numa nova transição rápida, o Real Madrid desenrolou a movimentação ofensiva, atraiu a defesa do Barcelona para a grande área e solicitou a presença de Valverde à entrada da grande área. O uruguaio recebeu, deu um pequeno toque para ajeitar a bola e atirou forte e cruzado para aumentar a vantagem merengue (35′). Ao intervalo, os catalães tinham mais bola e os blancos tinham golos.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e a lógica manteve-se, com o Barcelona a tentar reagir mas o Real Madrid a ser a equipa mais perigosa sempre que se aproximava da baliza de Ter Stegen. O conjunto de Ancelotti obrigava o adversário a correr, impondo sempre muita mobilidade e trocando de flanco com muita facilidade, e Benzema chegou mesmo a bisar com um pontapé de fora de área na sequência de um grande passe de Vinícius (52′) — o lance, porém, foi anulado por fora de jogo do francês na altura da assistência do brasileiro.

Xavi decidiu mexer à passagem da hora de jogo e trocou Raphinha, Busquets e Baldé por Ferran Torres, Gavi e Jordi Alba, lançando também Ansu Fati já a 20 minutos do fim. Do outro lado, Carlo Ancelotti nada mudava. O tempo passava e a partida não parecia estar perto de alterações profundas, sendo que o Barcelona adquiriu outra acutilância com as substituições mas o Real Madrid mantinha-se muito organizado e a permitir pouco ao adversário.

Eduardo Camavinga entrou nos merengues, Ansu Fati rematou ao lado (77′) e acabou por construir o lance do golo do Barcelona, aproveitando uma recuperação de Gavi para desequilibrar na esquerda e assistir Ferran Torres ao segundo poste (83′). A redução da desvantagem catalã levou o Clássico até ao fim mas a equipa de Xavi já não conseguiu evitar o que parecia inevitável desde o apito inicial, com o conjunto da casa a fechar as contas com uma grande penalidade conquistada e convertida por Rodrygo (90+1′).

O Real Madrid venceu o Barcelona e conquistou a liderança isolada da liga espanhola com três pontos de diferença. Na véspera da cerimónia de entrega da Bola de Ouro, depois de nove jogos sem marcar e de os arautos da desgraça lhe vaticinarem o aproximar do final da carreira, Benzema voltou a ser decisivo e deixou a derradeira candidatura ao título de melhor jogador do mundo.