Delcir Sonda, o magnata brasileiro que investiu em Neymar e que o perdeu para o FC Barcelona, diz que foi enganado pelo jogador, pela sua família e pelos próprios clubes. Em entrevista ao The New York Times conta como o conheceu, como apostou nele e como o perdeu. Uma história que deverá ser recordada já esta segunda-feira no arranque do julgamento, em território espanhol, em que Neymar é acusado de fraude e corrupção na sua  transferência do Santos para o Barcelona, em 2013.

Sonda lembra-se que conheceu Neymar ainda ele era uma criança e estava longe de se tornar conhecido quando o viu jogar à bola num recinto na comunidade de São Vicente. Anos depois, quase como obra do destino, os dois voltaram a encontrar-se. Neymar teria 17 anos, jogava no Santos Futebol Clube, mas segundo o empresário já tinha sido mostrado pelo pai ao Real Madrid. Temendo perder o jogador, o Santos encontrou um investidor que o poderia manter na equipa onde começou o Pelé. E é nesta fase do percurso profissional de Neymar que entra Delcir Sonda, ele que é sócio do irmão na empresa DIS — a empresa de investimentos que agora processa Neymar, a sua família, os pais do jogador, os dois clubes e os seus ex-presidentes, Josep Maria Bartomeu e Sandro Rosell, e o do clube brasileiro Santos Odílio Rodrigues.

Sonda exige agora pelo menos 35 milhões de dólares, que será o correspondente aos 40% dos direitos económicos sobre o jogador, ou seja, sobre o valor pelo qual ele viesse a ser transferido. O empresário adianta que não precisa de dinheiro, o que quer é mesmo a “verdade”, nem que para isso o atleta ou a sua família sejam condenados ou, mesmo, que se prejudique a preparação do Brasil na Copa do Mundo.

A alegada fraude na transferência de Neymar para o FC Barcelona

A família Sonda é considerada um sucesso no Brasil no setor dos supermercados. Já com 40 cadeias, o empresário e o irmão decidiram então criar uma empresa de investimentos, a DIS, para investiram naquilo que mais gostavam: no futebol. O investimento, segundo a entrevista do magnata ao jornal norte-americano, teria sempre um retorno duplo, por um lado ajudava-se alguém que queria vingar no mundo do futebol, por outro, caso não resultasse, havia sempre algum posto de trabalho na rede de supermercados.

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O Santos FC, famoso há mais de meio século devido ao jogador Pelé, estava com dificuldades naquele ano em que tudo aconteceu. Corria o ano 2009 e  precisava desesperadamente de um apoio financeiro para manter Neymar no clube tempo suficiente para ele conseguir brilhar. Tanto o clube como a família de Neymar sabiam do seu valor. Então chegaram a um acordo: o Santos FC oferecia ao Neymar o controlo de 40% dos seus direitos e os investidores seriam Sonda e o irmão.

Sonda diz que o dinheiro sempre foi um ponto de pressão no meio familiar de Neymar. Mesmo antes de assinar o contrato, no seu escritório, a sua família tentou negociar os valores e até tentou encontrar outro agente. Mas Sonda acabaou por ceder e pagar diretamente a Neymar e à sua família 2 milhões de dólares, paralelamente ao acordo dos 40%.

Já depois de assinado o contrato, Sonda era muitas vezes convidado para ir a casa de Neymar e a sua família, mas depressa começou a perceber que não era o único. E nesses convívios passaram a estar outros empresários do ramo do futebol. Até que um dia o pai do do atleta lhe exigiu os direitos do filho de volta. Segundo Sonda, nesta altura já o pai de Neymar teria feito um acordo com o FC Barcelona para o futuro do jogador a partir de 2013, quando terminava o contrato com o Santos.

Ao The New York Times o empresário explica que a empresa que detém com o irmão escreveu de imediato ao clube catalão para perceber os pormenores do negócio, mas o FC Barcelona terá recusado a existência de qualquer acordo. O FC Barcelona recusou comentar ao jornal norte americano a afirmação de Sonda visto que a transferência de Neymar por também ser parte no processo judicial.

O certo é que o Santos FC acabaria por concordar em vender os direitos de Neymar ao Barcelona pelo preço  (pensava-se) de 22,5 milhões de dólares( o que à época eram cerca de 17,1 milhões de euros). Só mais meses mais tarde se viria a perceber que o valor pago por Neymar era muito superior, podendo atingir mesmo os 86,2 milhões de euros, se fossem incluídos os valores pagos à sua família incluídos num acordo de confidencialidade. Sonda só quer saber quanto foi e como foi afinal o negócio do qual acabou por receber apenas 6,8 milhões, quando tinha direito a 40% da transação. “Eles venderam os meus 40% ao FC Barcelona“, disse Sonda ao jornal norte americano. “Eles enganaram-me”.

O The New York Times apurou que o escritório de advogados de Neymar continua a recusar discutir detalhes do caso, e rejeitou os fundamentos de Sonda, alegando mesmo que a jurisdição do tribunal espanhol bem como a transferência envolveu cidadãos brasileiros e ocorreu no Brasil logo nem sequer pode ser ali julgada.

Certo é que o jogador brasileiro está obrigado a comparecer pelo menos ao primeiro dia do julgamento marcado para esta segunda-feira.

“Eu poderia ter aceitado o dinheiro deles, mas não é importante”, diz Sonda. Afinal, o empresário só quer mesmo saber como se procedeu esta transferência. E do seu escritório em São Paulo, garantiu mesmo ao jornal norte americano “que ninguém vai sentir falta dele na seleção brasileira, se fosse o Pelé, existia um problema, mas não é”.