No dia em que Pedro Nuno Santos esteve no Parlamento a falar sobre a posição na empresa do pai, André Ventura insiste que a legislação relativa às incompatibilidades é “clara” e que quando se pede “clarificação” se está a “dar cobertura” aos casos de governantes que foram noticiados nas últimas semanas. Neste sentido, considera que alguns dos casos são “claríssimos” e devem levar à demissão dos ministros”, com destaque para Manuel Pizarro e Pedro Nuno Santos.

No programa Grande Entrevista da RTP, o líder do Chega prefere não se focar em percentagens ou em exceções e enalteceu que o partido acredita que “quem assume uma função não pode ter negócios do Estado seja no que for”. Ainda sobre o ministro das Infraestruturas, que disse na tarde desta quarta-feira que sairia dependendo da decisão do Tribunal Constitucional, Ventura foi perentório: “Pedro Nuno Santos diz que se for determinado isso sairá, é a sanção que se aplica, é o mesmo que dizer que se for preso vou para a cadeia.”

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Numa semana em que o Presidente da República fez questão de recordar o nome de Pedro Passos Coelho — dizendo que ainda tem muito para oferecer ao país —, André Ventura quis distanciar-se do homem que estava à frente do PSD quando o agora líder do Chega, na altura social-democrata, foi eleito vereador em Loures. Reconheceu o trabalho, mas focou-se nos erros.

“Pedro Passos Coelho cometeu muitos erros que a direita ainda está a pagar hoje”, atirou o presidente do Chega, apontando ao corte das pensões dos tempos da troika. André Ventura ainda o sente na pele, segundo disse, frisando que em campanha há quem o aborde para esclarecer que “não volta a votar na direita” devido ao corte de pensões. “Foi um erro político, não devemos tirar a quem tem tão pouco.”

Apesar de reconhecer que à época era “muito difícil governar” e que Passos Coelho fez um “esforço extraordinário”, André Ventura não faz questão de ter o ex-presidente do PSD por perto, mas admitiu que regresse: “Se Pedro Passos Coelho quiser voltar, voltará, sempre foi muito senhor dele próprio. Toma as suas decisões e avança, independentemente do quadro político e acho que o fará.”

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Com ou sem Passos, o presidente do Chega insistiu na ideia de “configuração à direita, com Luís Montenegro ou outro qualquer”. Porém, não acredita que a direita possa prosseguir no caminho que tem sido traçado até ao crescimento do Chega. “Vamos ter de reformular a direita, precisamos de uma direita popular e não elitista, que está sempre ao lado das grandes empresas, ao lado de cortar em quem ganha menos.”

André Ventura garantiu que “o PSD e o Chega não se distanciam nem se vão aproximar”, nomeadamente porque “cada um tem o seu eleitorado”, ainda assim, não negou uma “abordagem diferente” por parte de Luís Montenegro relativamente a Rui Rio. Aos olhos de Ventura, Montenegro reconheceu que “o papel do Chega será insubstituível a curto/médio prazo”.

O Chega faz questão de se manter “diferenciado” e Ventura não acredita que um crescimento social-democrata tenha uma repercussão rápida no partido que lidera. Considera que “o PSD cresce, mas o Chega também cresce e que não houve um roubo de eleitores”. Por enquanto, também não houve nenhum encontro político com o novo presidente do PSD.

“Eleitores do Chega querem que o Chega se mantenha firme e distante dos partidos do sistema”, notou, não afastando uma hipótese de um governo como o italiano, com o realce de que “em Portugal é muito mais difícil porque o Chega tem pontos próprios de que não abdica”.