O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) disse esta sexta-feira esperar que as intenções do Governo para recuperação da área ardida na serra da Estrela “saiam do papel”, por outras situações registadas anteriormente não se terem concretizado como previsto.

“Esperemos que essas intenções saiam do papel. Aquilo que conhecemos e a experiência que temos, de um Pinhal de Leiria, da [serra da] Arrábida, de outros sítios onde graves incêndios afetaram as populações e afetaram a nossa zona florestal, isso não aconteceu”, disse à agência Lusa Mariana Silva, dirigente do Conselho Nacional do PEV e ex-deputada na Assembleia da República.

Mariana Silva referiu que, “depois dos graves incêndios de 2017, continuamos hoje com problemas reais naqueles locais, naquelas áreas ardidas”.

“E, por isso, esperamos que, realmente, deixemos de ter intenções e passemos a investir. E que o Governo, de maioria PS, invista realmente na serra da Estrela, que é um local classificado, que é um Parque Natural que tem que ser protegido”, afirmou.

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A dirigente do PEV acrescentou que as promessas “estão feitas” e “há verbas para serem alocadas” no desenvolvimento e na proteção da serra da Estrela e espera que “isso aconteça”.

A responsável falou esta sexta-feira à Lusa na cidade da Guarda, onde uma comitiva do partido colocou, durante a manhã, simbolicamente, uma bandeira negra junto da delegação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), sinalizando a exploração de lítio naquela região.

Mariana Silva alertou, no entanto, que, a par do propósito do Governo na recuperação da área ardida na serra da Estrela, verifica-se a intenção da exploração dos recursos naturais como o lítio.

Uma situação que, a verificar-se, colocará problemas na qualidade da água, provocará a destruição dos solos, das espécies autóctones e da biodiversidade.

“Por isso, estamos numa balança muito desigual, em que há a promessa de investimento e de melhoria da nossa biodiversidade no Parque Natural da Serra da Estrela, mas, por outro lado, este parque está ameaçado por este tipo de explorações”, concluiu.

A ação hoje realizada na cidade da Guarda inseriu-se numa jornada do Partido Ecologista pelos distritos da Guarda e de Castelo Branco, onde assinala pontos negros para a biodiversidade, qualidade de vida e segurança das populações, relacionados com a exploração de lítio na envolvente da serra da Estrela, os incêndios que neste verão ocorreram no Parque Natural da Serra da Estrela e com a Central Nuclear de Almaraz (localizada próximo da fronteira).

Os Verdes estão com a campanha “SOS Natureza” desde março deste ano, que visa chamar a atenção para as questões ambientais, porque ao longo dos 40 anos de existência do partido, que será comemorado em dezembro, “há muita coisa” que ainda não está resolvida a nível ambiental, disse Mariana Silva.

A deslocação da comitiva do PEV pela Beira Interior também inclui uma reunião com a Associação dos Amigos da Serra da Estrela (14:00, em Manteigas), para abordar os problemas no Parque Natural da Serra da Estrela, a colocação de um Ponto Negro (relacionado com os incêndios) no Jardim do Lago, na Covilhã (16:00) e a colocação de uma Bandeira Negra (relacionada com a Central Nuclear espanhola de Almaraz) em Castelo Branco.

PEV preocupado por energia nuclear ser considerada “verde”

O Partido Ecologista Os Verdes (PEV) mostrou-se hoje preocupado por, no âmbito da atual crise energética, a energia nuclear ser considerada “verde” e o investimento na energia limpa estar demorado.

Energia nuclear também é “verde”? Na Europa… sim

“Preocupa-nos que se continue a perpetuar a ideia de que a energia nuclear pode ser uma coisa boa. E que até da parte da União Europeia venha agora esta informação e esta classificação de energia verde. Ora, todos sabemos que não é”, disse hoje à agência Lusa a dirigente do Conselho Nacional do PEV e ex-deputada na Assembleia da República Mariana Silva.

A responsável acrescentou que “o investimento na energia limpa é que está demorado”: “Já poderíamos estar mais à frente naquilo que é a energia solar, por exemplo”.

Mariana Silva, que falava na cidade da Guarda, onde uma comitiva do partido colocou, durante a manhã, simbolicamente, uma bandeira negra junto da delegação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), sinalizando a exploração de lítio naquela região, disse que os planos e as ideias de transição energética estão corretas, mas a aplicação “é que está errada”.

“Nós já deveríamos estar mais à frente naquilo que diz respeito à distribuição de placas solares nos telhados dos edifícios públicos, nos telhados das escolas, nas paragens de autocarro em algumas cidades mais povoadas. Haveria todo um caminho que deveria estar a ser feito já há alguns anos e este investimento foi recusado”, referiu.

Mariana Silva observou que, perante uma pandemia, uma guerra e uma crise energética, “é mais fácil olhar para a energia nuclear e dizer que esta é que é a solução”.

O recurso à energia nuclear é agora “o mais fácil”, mas é um problema que se coloca, face às eventuais consequências que poderá originar para o território e para a saúde das populações, admitiu.

A dirigente do PEV referiu que a central nuclear espanhola de Almaraz, situada perto da fronteira, é uma preocupação, por ser “uma estrutura obsoleta” e “antiga”.

Apontou que, no caso de haver um acidente, “não há planos de prevenção” para acorrer à população que está próxima.

“Continua a ser para nós uma preocupação que o Governo português não tenha um plano, com o Governo espanhol, de finalizar aquela estrutura que poderá não responder tão eficazmente quando existir um problema de segurança”, disse.