O FMI defendeu este domingo que os países europeus devem impor rigor às políticas macroeconómicas para reduzir a inflação, enquanto ajudam famílias vulneráveis e empresas viáveis a enfrentar a crise energética.

Numa publicação no blog do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado este domingo, o diretor do departamento de Europa da instituição, Alfred Kammer, destaca que à medida que a guerra da Rússia na Ucrânia afeta cada vez mais as economias da Europa, o crescimento está a abrandar no bloco, enquanto a inflação mostra poucos sinais de diminuir.

Citando o relatório das últimas projeções económicas mundiais, recorda que as economias avançadas da Europa deverão crescer 0,6% no próximo ano, enquanto as economias emergentes (excluindo a Turquia e países em conflito como a Bielorrússia, Rússia e Ucrânia) expandir 1,7%, o que representa uma queda de 0,7 pontos percentuais (pp.) e 1,1 pp., respetivamente, face às projeções de julho.

O responsável do FMI antecipa que neste inverno, mais de metade dos países da zona euro deverão enfrentar recessões técnicas, com pelo menos dois trimestres consecutivos de contração da produção, e entre estes países, a produção cairá, em média, cerca de 1,5% em relação ao seu pico.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Destaca ainda que embora a inflação deva cair no próximo ano, ficará “significativamente” acima dos objetivos do banco central, em cerca de 6% e 12%, respetivamente, nas economias europeias avançadas e emergentes.

O responsável do FMI argumenta que nas economias avançadas, incluindo na zona euro, a política monetária restritiva será provavelmente necessária em 2023, a menos que a atividade e o emprego enfraqueçam mais do que o esperado, reduzindo materialmente as perspetivas de inflação a médio prazo.

“Uma postura mais restritiva geralmente justifica-se na maioria das economias europeias emergentes, onde as expectativas de inflação não estão tão bem ancoradas, as pressões na procura são mais fortes e o crescimento do salário nominal é alto – muitas vezes na casa dos dois dígitos”, refere.

No blog, defende ainda que “a política orçamental deve equilibrar objetivos opostos”.

Um, aponta, é a necessidade de reconstruir o espaço orçamental e ajudar a política monetária a lutar contra a inflação, o que diz exigir uma consolidação orçamental num ritmo mais acelerado em 2023 nos países com menor espaço orçamental e maiores vulnerabilidades ao aperto das condições financeiras.

O outro é ao mesmo tempo a política orçamental também precisar de ajudar a mitigar o impacto “brutal” dos preços mais altos da energia para as pessoas e para as empresas viáveis.

“Isto sugere que o ritmo de consolidação pode ter de ser desacelerado durante alguns meses”, assinala.

Ainda assim acredita que no futuro será importante manter temporário os apoios relacionados com a energia, de forma a conter os custos orçamentais.

O FMI volta a defender que os apoios direcionados a famílias de rendimentos baixos e médios através de descontos fixos nas contas de energia ao invés de intervenções nos preços.

Aponta ainda como alternativa próxima combinar descontos gerais fixos com apoios adicionais para as famílias de menores rendimentos, através do Estado Social, financiado por impostos mais altos para famílias de rendimentos elevados.

Outra alternativa, diz, ainda que menos eficiente, “é implementar tarifas mais altas para níveis mais altos de consumo de energia”, embora assinale que “tal abordagem não seja totalmente direcionada aos mais vulneráveis”.