Primeiro, um dia estranho. Depois, um dia para esquecer. A determinada altura, durante a segunda sessão de treinos livres, Miguel Oliveira parecia ter condições para discutir mais a sério por uma passagem à Q2 mas os tempos conseguidos em pista molhada acabaram por ser insuficientes para melhorar a 17.ª posição que tinha feito no arranque (onde o companheiro de equipa Brad Binder foi o mais rápido). Depois, já este sábado, a KTM do português não confirmou as expetativas de melhoria e o final da Q1 acabou por deixar o número 88 apenas no 18.º lugar da grelha de partida, muito, muito longe de Jorge Martín.

Piloto português Miguel Oliveira teve “dia para esquecer” em Sepang

“Foi um dia estranho, optámos pela estratégia de não colocar nenhum pneu no final da sessão no primeiro treino livre, também não esperávamos esta chuva à tarde. Foi um pouco inesperado nesse sentido mas há coisas que não podemos controlar e aí adaptamo-nos. Sem muitas loucuras acabámos por tocar um bocadinho na mota, em piso molhado senti-me um pouco melhor, amanhã [sábado] é continuar o trabalho que tínhamos programado para esta tarde”, tinha referido Miguel Oliveira esta sexta-feira.

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“Na qualificação tive uma vibração inesperada no pneu da frente e fiquei sem tempo para trocá-lo e sem opção para sair com a outra mota por ter uma configuração diferente. Enfim, foi um dia para esquecer. A corrida será muito difícil para mim e para todos. É uma corrida aqui é muito longa, é muito física e acho que, nessa parte, consigo fazer um pouco mais a diferença e recuperar posições. Portanto, vamos obviamente com toda a motivação para amanhã [domingo]. Estratégia? A estratégia passa por partir bem, fazer uma boa primeira volta, que é essencial neste circuito, e rapidamente encontrar o ritmo”, destacou o português este sábado, após uma qualificação muito aquém que o deixou no final da sexta linha da grelha.

“Agora espero que chova, sim. Este ano estive melhor em todo o lado à chuva do que no seco. Não posso dizer de que é que isso se deve. Este ano fui apenas competitivo em todas as sessões molhadas mas nem sempre fui o mais rápido no molhado. Penso que me posso adaptar rapidamente a uma pista molhada, depois compreendo rapidamente onde estão os limites. Mas se chover aqui no domingo, não posso dizer a 100% que serei rápido. As pessoas têm de compreender que conduzir à chuva não é canja. Não é um trabalho fácil”, acrescentou depois a propósito da possibilidade de Sepang voltar a receber chuva.

Não choveu mas, à semelhança dos dois candidatos ao título que podiam resolver este domingo a questão (no caso de Pecco Bagnaia), Miguel Oliveira teve um arranque canhão que lhe permitiu ganhar dois postos na saída e mais três nos cerca de dois minutos da volta inicial, o que colocava o português no 13.º lugar. Na frente, e na batalha que centrava todas as atenções, Pecco Bagnaia subiu por dentro de nono para segundo, ao passo que Fabio Quartararo passou de 12.º para a sexto antes de saltar uma nova posição.

Jorge Martín dava um autêntico recital na liderança, à semelhança do que tinha acontecido nos treinos livres e na qualificação, ganhando facilmente mais de um segundo em relação a Bagnaia, mas tudo mudou por completo a 15 voltas do final quando o espanhol saiu disparado numa curva e perdeu a oportunidade que parecia quase inevitável de ganhar em Sepang, deixando as posições de pódio para Bagnaia, Enea Bastianiani e Fabio Quartararo, anulando de forma virtual e à condição a possibilidade de título. Já Miguel Oliveira continuava a escalar lugares, chegando a nono após passar Darryn Binder e Franco Morbidelli.

Até aí, Miguel Oliveira andava “para a frente”; a partir daí, começou a andar “para trás”. Assim, e quando estava a rodar em nono mas a três segundos de Brad Binder, o português desceu de forma consecutiva até 12.º, superado por Jack Miller, Johann Zarco e Aleix Espargaró. E não ficaria nessa posição, com todos os problemas que estava a sentir a adensarem-se e a permitirem mais ultrapassagens de Morbidelli e Maverick Viñales. No entanto, era entre os primeiros que estava a verdadeira luta e com três Ducatis a tentarem resolver de imediato a questão do título a favor de Pecco Bagnaia contra Fabio Quartararo.

No plano teórico, e como estava o cenário, o francês que era ainda campeão mundial em título estava em grandes dificuldades. Porque Enea Bastianini não passava Bagnaia na frente da corrida, porque Marco Bezzecchi estava cada vez mais próximo de Quartararo. No entanto, o piloto da Yamaha deu a melhor resposta possível: mesmo com Bastianini a passar para a frente para puxar pelo ritmo do líder da Ducati de fábrica, o gaulês começou a fazer tempos mais rápidos, fugiu de Bezzechi depois de ter andado com menos de meio segundo de distância, assegurou o terceiro lugar e ainda se aproximou dos dois primeiros da frente que entretanto já tinham mais uma vez Bagnaia na frente. O título vai ser decidido em Valência.

Miguel Oliveira acabou no 13.º lugar, tendo conseguido ainda mais uma ultrapassagem antes de descer de novo por troca com Cal Crutchlow. No entanto, e apesar todas as dificuldades, o português ainda conseguiu subir um ponto no Mundial graças à queda de Jorge Martín, estando agora em nono com 138 pontos, mais dois do que o espanhol. Em Valência, o português irá partir com 16 pontos de vantagem sobre Maaverick Viñales, atual 11.º, o que abre boas perspetivas para acabar o ano de 2022 no top 10. Já Bagnaia está apenas a dois pontos de conquistar o seu primeiro título de MotoGP, com Enea Bastianini a sonhar ainda com a terceira posição por ter uma distância encurtada de dez pontos para Aleix Espargaró.