A Casa Roberto Ivens – Casa da Arquitetura, em Matosinhos, onde viveu a família de Siza Viera, foi classificada como Monumento de Interesse Municipal, de acordo com um anúncio publicado em Diário da República.

“A Câmara Municipal de Matosinhos deliberou, em reunião ordinária de 27 de julho deste ano, a aprovação da decisão final do procedimento de classificação da Casa Roberto Ivens – Casa da Arquitetura, imóvel localizado na rua Roberto Ivens, n.º 582, em Matosinhos, União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, como monumento de interesse municipal”, lê-se no Diário da República.

A casa foi mandada construir por José Gonçalves de Lima Camacho (1831-1882), bisavô de Álvaro Siza, na segunda metade do século XIX.

A autarquia defendeu, aquando da apresentação da proposta, que “a Casa Roberto Ivens inscreve-se no grupo de casas que valem também por quem lá viveu, pelo que lá se viveu e que, por tudo isso, se pretende que perdurem”.

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E foi no sentido de reconhecer e valorizar todas essas dimensões — a histórica, a arquitetónica e a patrimonial — que a Câmara Municipal decidiu em 2007 comprar a casa e em julho decidiu a classificação deste imóvel como Monumento de Interesse Municipal.

O facto de nesta casa ter vivido a família Siza Vieira, de nela o arquiteto Álvaro Siza Vieira, primeiro português a receber o Prémio Pritzker em 1992, ter passado a sua adolescência e juventude, e de ela ser hoje o resultado das suas intervenções, em especial nos anos sessenta do século XX, contou para a decisão do município.

Pelas mesmas razões, após a sua aquisição em 2007, a câmara tomou a decisão de solicitar aos arquitetos Álvaro Siza e Carlos Castanheira o projeto da sua reabilitação, com vista a lá instalar a ACA — Associação Casa da Arquitetura e o Centro de Documentação Álvaro Siza.

A casa é um edifício de rua que ocupa quase toda a frente do “lote”, existindo apenas estreitas passagens laterais que fazem com que a construção descole das construções vizinhas e tenha, na realidade, quatro fachadas. Ocupa aproximadamente 84 metros quadrados de um terreno que possui cerca de 420 metros quadrados.

“É muito bom neste tempo, tão mau para a arquitetura, uma cidade [Matosinhos] ter um propósito de recuperar e conservar a casa”, disse Álvaro Siza Vieira, em fevereiro, na cerimónia de apresentação pública do projeto e a sua integração no universo da Casa da Arquitetura, assumindo que nestes últimos anos do seu tempo profissional o que mais tem feito é recuperar obras que fez no passado, mas que está “cansado”.

O edifício, que recebeu obras de reabilitação a cargo da Câmara de Matosinhos e que foram acompanhadas de perto por Álvaro Siza, acolhe investigadores que venham trabalhar, estudar e investigar na Casa da Arquitetura, nomeadamente, os acervos que se encontram ao cuidado da Casa da Arquitetura, mas também curadores e arquitetos que desenvolvam trabalho em torno da instituição.

O prémio Pritzker recordou que a casa da família é uma obra do seu pai — Júlio — e que foi o seu pai que lhe pediu para fazer um pavilhão no quintal da casa, quando tinha 14 anos de idade, com telha, com um laboratório para o irmão, engenheiro químico.

“Foi a minha primeira obra literalmente, com a conceção do meu pai”, declarou, assumindo que nunca chegou a viver na casa depois de transformada, porque se casou e foi viver para o Porto.

Na ocasião, Siza acrescentou que voltou a participar com “entusiasmo” na recuperação da casa da família, considerando que era “bom” que uma cidade tivesse interesse pela arquitetura.

As obras de recuperação ficaram a cargo da Câmara Municipal de Matosinhos.

Também na apresentação do projeto, a presidente da autarquia, Luísa Salgueiro, referiu que a entrega da casa da família de Siza Vieira à Casa da Arquitetura é um “momento que tem uma enorme importância para Matosinhos”, pois o edifício “é devolvido à comunidade com a traça original”.