Um erro, um pedido de desculpas, uma reunião e um regresso. No espaço de uma semana, Cristiano Ronaldo deixou Old Trafford antes do apito final contra o Tottenham depois de recusar entrar em campo nos instantes finais, foi afastado dos trabalhos da equipa por Erik ten Hag, falhou a visita ao Chelsea, reuniu com o treinador e voltou aos treinos. Para Cristiano Ronaldo, a última semana foi um mês inteiro.

Depois de o Manchester United anunciar que o internacional português tinha sido reintegrado por Ten Hag — sem comunicados ou notas oficiais, apenas com a presença do jogador nas fotografias do treino de terça-feira que foram partilhadas nas redes sociais –, o regresso propriamente dito foi confirmado com a inclusão na convocatória para o jogo desta quinta-feira, contra o Sheriff. Um regresso que não apagou os rumores que depressa surgiram, colocando-se a hipótese de uma saída já em janeiro e abrindo-se novamente a porta do Chelsea, do Nápoles ou dos Estados Unidos.

Uma reunião, um pedido de desculpas, uma garantia: Ronaldo foi reintegrado nos trabalhos do Manchester United

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Se o treinador neerlandês recusou voltar a falar sobre o assunto na antevisão da partida, garantindo que está “resolvido” e que Ronaldo está “envolvido” com a equipa, a verdade é que acabou por ser um antigo jogador do clube inglês a dar mais detalhes sobre todo o episódio. Wes Brown, lateral direito do Manchester United entre 1997 e 2011, explicou em entrevista que o português errou, assumiu que errou e seguiu em frente, naquele que está longe de ser um caso isolado no futebol.

“Ele não devia ter feito o que fez, é tão simples quanto isso. Mas, conhecendo-o como conheço, sei que é um profissional e estava frustrado por não estar a jogar. Mas eu sei que o treinador falou com ele e que Ronaldo pediu desculpa. É o maior nome do futebol mas estas coisas estão sempre a acontecer. Sim, Ronaldo vai ser arrasado e é justo, mas tenho a certeza de que o treinador lhe disse que quer que fique no clube. O que tiver de acontecer, vai acontecer. Eles trocaram palavras, Ronaldo pediu desculpa e a equipa vai seguir em frente. Acontecem muitas coisas como esta nos bastidores. Faz parte do desporto, porque os jogadores são seres humanos”, disse o antigo internacional inglês, que foi colega de equipa de Cristiano Ronaldo na primeira passagem do avançado por Old Trafford.

Era neste contexto que, esta quinta-feira, o Manchester United recebia o Sheriff na penúltima jornada da fase de grupos da Liga Europa. No segundo lugar do grupo, com a presença no playoff de acesso aos 16 avos de final praticamente assegurada, a equipa de Erik ten Hag sabia que só uma vitória contra os moldavos servia para ainda lutar pela liderança e a consequente qualificação direta com a Real Sociedad.

E a redenção de Ronaldo começava logo com o apito inicial: o avançado era titular, tal como tem acontecido regularmente na Liga Europa, e surgia como referência ofensiva apoiado por Bruno Fernandes, Antony e o jovem Alejandro Garnacho, sendo que Sancho e Rashford começavam ambos no banco. Do outro lado, o Sheriff fazia o primeiro jogo sob a liderança de um treinador interino depois da demissão do croata Stjepan Tomas nos últimos dias.

A primeira parte teve o ascendente natural e expectável do Manchester United, com os ingleses a atuarem praticamente inseridos no meio-campo adversário. Ronaldo cabeceou por cima da trave (14′), Bruno Fernandes rematou ao lado (26′), Ronaldo permitiu a defesa de Koval na cara do guarda-redes e Bruno Fernandes voltou a falhar o alvo de muito longe (30′) — as melhores oportunidades eram dos jogadores portugueses e o golo, como não poderia deixar de ser, também foi de um português.

Já perto do intervalo, Eriksen cobrou um canto na direita e Diogo Dalot, ao primeiro poste, apareceu a desviar para abrir o marcador e estrear-se a marcar esta temporada (44′). No fim da primeira parte, o Manchester United estava a vencer pela margem mínima e tinha a vitória bem encaminhada. No início da segunda, Erik ten Hag começou a gerir o plantel e trocou Lisandro Martínez e Antony por Harry Maguire e Rashford.

O Manchester United aumentou naturalmente a vantagem já depois da hora de jogo, com Rashford a marcar com assistência de Luke Shaw (59′), mas uma das principais histórias da partida aconteceu ainda antes. Cristiano Ronaldo ficou muito perto de voltar aos golos com um pontapé ao lado na sequência de uma investida individual (59′) e acabou mesmo por acertar na baliza logo depois ao aproveitar um desvio de cabeça de Bruno Fernandes (62′). O golo, porém, foi anulado por fora de jogo do avançado português — e Ronaldo, claramente desesperado por marcar, pegou na bola e pontapeou-a para as bancadas, vendo desde logo um cartão amarelo.

O momento por que esperava, porém, acabou por chegar. Bruno Fernandes cruzou na direita, Ronaldo começou por permitir a defesa do guarda-redes depois de um cabeceamento mas, na recarga, não voltou a falhar (81′). E, nos festejos, o grupo deixou clara a posição que defende: todos os jogadores celebraram com o jogador português, congratulando-o pelo terceiro golo da temporada.

O Manchester United geriu a vantagem até ao final, carimbando a vitória frente ao Sheriff em Old Trafford e levando para a derradeira jornada todas as decisões sobre a disputa do primeiro lugar do grupo — e da qualificação direta para os 16 avos da Liga Europa — com a Real Sociedad.