A coordenadora do BE considerou esta sexta-feira “inexplicável a política do Governo” perante números recorde da receita fiscal e dos lucros das grandes empresas, e defendeu aumento de salários e pensões em vez de “esmolas”.

“É inexplicável a política do Governo [ao] dizer que não pode fazer mais do que está a fazer”, criticou a líder do Bloco de Esquerda (BE), em declarações aos jornalistas, em Évora.

Após uma reunião com a administração do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), a líder bloquista foi questionada sobre os mais recentes números da inflação e da receita fiscal angariada pelo Estado e frisou: “Não nos digam que não há dinheiro”.

Olhamos para a receita fiscal que foi angariada, olhamos para os lucros das grandes empresas e sabemos que dinheiro há sim, não há é vontade de equilibrar o país”, contrapôs.

E, segundo Catarina Martins, “este é o momento de atualizar salários e pensões sim, para que se viva com dignidade”, e é altura de “controlar os preços e combater os lucros excessivos que são feitos à conta de quem vive cada vez com mais dificuldade”.

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“O povo português não precisa de esmolas, precisa de respostas dignas, salário, pensão, controlo de preços”, afiançou.

A coordenadora do BE precisou que “a inflação já superou os 10%”, que “nunca houve uma receita fiscal como esta e que as contas públicas nunca tiveram a margem que têm hoje”.

Também sabemos, nos últimos dias, que nunca houve lucros como agora e temos grandes empresas da energia, da grande distribuição, da banca a apresentarem lucros extraordinários todos os meses”, acrescentou.

Portanto, “no momento em que as contas públicas têm uma receita fiscal como nunca, em que as grandes empresas têm lucros como nunca, mas os preços também sobem como nunca, só os salários e as pensões é que não sobem e as pessoas vivem absolutamente de corda na garganta, sem conseguir chegar ao fim do mês”, criticou.

Para Catarina Martins, “seguramente que há margem para baixar impostos, nomeadamente IVA sobre bens essenciais, como a eletricidade e o gás” e também “há toda a margem para aumentar salários e impor aumento de salários”, insistiu.

“E é preciso medidas também sobre aquele que é o grande problema da inflação, que já vem de antes, que é o da habitação. Vemos os juros a subir, o BCE anunciou um novo aumento de juros e não vemos nenhuma medida concreta que obrigue a banca a renegociar os contratos da habitação, nem nenhuma medida que faça baixar os preços da habitação”, defendeu.

Medidas que são necessárias porque, em Portugal, “quem tem casa neste momento vê-se aflito para a manter e quem não tem não [a] consegue arranjar com os preços sempre a subir”, reforçou, reclamando que o Governo “pode seguramente fazer mais”.

A coordenadora do BE, Catarina Martins, criticou esta sexta-feira que titulares dos “vistos gold”, medida que considera “um cancro da economia” nacional, recebam os 125 euros do Governo, e pessoas com “zero rendimentos” não tenham acesso ao apoio.

O que isso demonstra é que este apoio extraordinário dos 125 euros “é uma medida mal desenhada”, afirmou aos jornalistas a líder do Bloco de Esquerda (BE), após uma reunião com a administração do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE).

Catarina Martins questionou sobre como é possível que titulares de “vistos gold” estejam a receber o apoio extraordinário dos 125 euros, “quando tanta gente que não tem rendimento não recebe os 125 euros”.

Em Évora, a coordenadora do BE reagia à notícia avançada esta sexta-feira pelo semanário Expresso de que titulares de “vistos gold” estão a receber o apoio extraordinário de 125 euros criado pelo Governo para ajudar as famílias a fazer face aos efeitos da subida do custo de vida.

A líder bloquista recorreu ao exemplo de uma mãe que, em 2021, como “as escolas ainda fecharam”, tenha acabado “por não ter solução para a sua família” e perdido o emprego.

“E acaba até por já nem ter acesso ao subsídio de desemprego e ficou sem nenhuma prestação social”, pelo que agora “tem zero rendimentos, está em casa e não recebe os 125 euros”, disse, relatando que recebe “imensas cartas de pessoas desesperadas que não têm nenhum rendimento, muitas vezes mulheres que cuidam dos filhos ou dos pais”.

E que “não têm nenhum rendimento e não recebem os 125 euros e há “vistos gold” a receberem os 125 euros”, enfatizou.

Para Catarina Martins, os “vistos gold” são “uma política que só serve a corrupção, a lavagem de dinheiro e a especulação imobiliária”.

E acho que das coisas mais chocantes é percebermos que, provavelmente, o Governo acaba mais depressa com 125 euros para a população que precisa do que acabará com os “vistos gold”, que são um cancro da nossa economia e da nossa democracia”, argumentou.

De acordo com o jornal Expresso, o apoio foi atribuído pela Segurança Social a um conjunto de cidadãos estrangeiros titulares de “vistos gold” com elevados rendimentos de capital, mas cujos rendimentos de trabalhado declarado são poucos ou nenhuns.

Num esclarecimento enviado ao jornal, os ministérios das Finanças e do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social indicam que a “atribuição do apoio extraordinário segue os critérios definidos nos diplomas legais”, que “atendem, em termos gerais, ao nível de rendimentos dos contribuintes residentes em Portugal declarados perante a AT e o ISS [Instituto da Segurança Social], bem como à titularidade de determinadas prestações sociais (subsídio de desemprego ou rendimento social de inserção)”.

O Governo aponta também que “não constitui critério para efeitos de atribuição do apoio extraordinário, quer para reduzir, quer para alargar o universo de beneficiários, quaisquer outras circunstâncias que excedam os critérios gerais elencados, como sejam as diferentes modalidades de autorização de residência em território nacional dos cidadãos apoiados”.