Resolveu as coisas com o treinador Erik ten Hag (o que não tem necessariamente de significar que tenha feito um pedido de desculpas), voltou a treinar com os companheiros de equipa, regressou aos convocados, teve oportunidade de recuperar um lugar na equipa principal, marcou o terceiro e último golo do triunfo frente ao Sheriff numa recarga após cabeceamento. Em três dias Cristiano Ronaldo quase conseguiu apagar a tensão das últimas três semanas mas tinha agora pela frente o objetivo de recuperar o caminho que andava meio perdido há três meses. E a receção ao West Ham, que poderia recolocar a equipa nos calcanhares do Newcastle em zonas de acesso à Liga dos Campeões, era um bom barómetro nessa meta.

O pontapé da redenção: Ronaldo voltou, foi titular, jogou 90 minutos e marcou o terceiro golo da época no regresso depois do castigo

Este domingo ficou marcado pelas notícias que davam conta do choque do português perante a realidade que encontrou no Manchester United depois do regresso a Old Trafford no último verão. Segundo um livro escrito por dois jornalistas do Wall Street Journal com o nome “Messi vs. Ronaldo: one Rivalry, two Goats and the Era that remade the world’s game” [“Messi vs. Ronaldo: uma rivalidade, dois melhores de todos os tempos e a era que recriou o jogo”], Ronaldo terá ficado surpreendido pela negativa com a falta de investimento do clube no centro de treinos de Carrington, com a falta de evolução da estrutura em relação ao que tinha em 2009 quando saiu para o Real Madrid, com a falta de empenho a nível de índices físicos de alguns jogadores do plantel e com a falta de alternativas a não ser Ralf Rangnick depois da saída de Ole Gunnar Solskjaer pelos maus resultados. Tudo males que não estava à espera.

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Na presente temporada, a realidade é diferente. Pela primeira vez, e sem qualquer justificação física ou de gestão, Ronaldo deixou de ser opção inicial em muitos jogos porque Erik ten Hag considerava que não seria o melhor para a equipa. Agora, a duas semanas da paragem para o Mundial do Qatar, voltava a acender-se essa luz de esperança tendo em conta as próprias declarações do técnico neerlandês. “A equipa criou várias para ele nas últimas semanas e pudemos ver que ele ainda é capaz de estar no sítio certo e finalizar. Se pode chegar aos números da época passada? Depende dele mas quando  concretizas as oportunidades que tens… Creio que é possível”, comentou Ten Hag após o triunfo com o Sheriff, sendo que alguma imprensa levantava a possibilidade de mudar o esquema tático para juntar Ronaldo e Rashford mais na frente de ataque. “Essa dupla funcionou bem, fiquei satisfeito por isso”, admitiu o técnico.

Foi mesmo isso que aconteceu, com Jadon Sancho a começar no banco e Ronaldo na frente com Rashford e Elanga nas alas e o apoio de Bruno Fernandes e Eriksen pelo corredor central. E todos esperavam em Old Trafford pelo novo festejo do português que não demorou a tornar-se viral, com mãos cruzadas sobre o peito, olhos fechados e cabeça inclinada para trás. “É uma imitação da posição em que dorme quando viaja com o Manchester United, algo que não passou despercebido aos colegas de equipa”, explicou o próprio clube a esse propósito. Desta vez, no dia em que foi inaugurado um novo mural em Old Trafford, não houve golo nem festejo. No entanto, os red devils voltaram aos triunfos da Premier. E o número 7, que também voltou ao onze inicial no Campeonato, mostrou outra moral na ajuda à equipa, depois de ter desta vez ignorado o antigo companheiro de equipa Gary Neville pelas críticas que lhe fez.

A predisposição diferente do português ficou bem patente logo aos 4′, quando Rashford se intrometeu num passe de Diogo Dalot que ia na sua direção e mesmo assim o avançado ficou a rir-se com o inglês pelo mau toque. Perto do quarto de hora inicial, na sequência de uma recuperação de Casemiro, Ronaldo enquadrou-se com a baliza, arriscou de longe mas Fabianski conseguiu segurar (14′). Os hammers apenas por uma vez conseguiram chegar com relativo perigo à baliza numa grande jogada de Kehrer com assistência para o remate de Scamacca mas o italiano estava fora de jogo (26′), sendo que o intervalo chegaria já com os visitados em vantagem com um golo de Rashford, numa jogada de começou num lançamento de Dalot, teve um cruzamento de Eriksen na direita e o inglês a rematar de cabeça sem hipóteses (38′).

O segundo tempo manteve as mesmas características, com um Ronaldo bem mais entregue a tarefas sem bola do que é normal (merecendo os aplausos dos adeptos pela atitude) mas sempre à procura do golo que pudesse quase sentenciar a partida. Apenas em cinco minutos, foram três as tentativas até aos 63′ com um desvio de cabeça em posição difícil que saiu ao lado, um remate de pé esquerdo na passada após passe de Rashford que foi mais perto do alvo e mais um remate de pé direito que desviou num defesa e saiu para canto. Depois, também pelo baixar de linhas, o português foi desaparecendo do jogo. E foi Diogo Dalot, nos cortes por dentro, e David de Gea, com três grandes defesas, que brilharam até ao apito final, sendo que Fred, que entrara para o lugar de Eriksen, acertou no poste após passe de McTominay (86′).