Primeiro o título de pilotos, a seguir o Mundial de construtores, ainda três corridas por fazer até ao final de 2022. Ao contrário do que se passou no ano passado, onde a questão do primeiro lugar esteve em aberto até à derradeira volta da última prova em Abu Dhabi (literalmente), as principais decisões na Fórmula 1 ficaram fechadas muito cedo entre o mérito de uma Red Bull a dominar por completo, uma Ferrari que não controlou os tiros no pé e uma Mercedes que andou a correr contra o tempo sempre atrás dos outros. Por isso, ou graças a isso, as atenções foram andando entre focos diferentes que iam tocando a todos.

Muda o dia e muda o país mas a história é a mesma: Verstappen com pole-position no México

Primeiro: a pesada multa aplicada pela Federação Internacional de Automobilismo à Red Bull, num total de sete milhões de euros além de um decréscimo de 10% no tempo disponível para fazer desenvolvimento aerodinâmico do carro para a próxima época no seguimento da violação do teto limite orçamental em 2021 (sem que com isso o título de Verstappen fosse afetado). “A Red Bull agiu de forma cooperativa ao longo do processo de revisão e procurou fornecer informações e provas adicionais quando solicitadas atempadamente. Não há nenhuma acusação ou prova de que a RBR tenha procurado agir de má fé, de forma desonesta ou de forma fraudulenta, nem escondeu intencionalmente qualquer informação da Administração do Limite Orçamental”, explicou o comunicado da FIA que explicou a sanção.

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Segundo: a guerra de palavras entre Fernando Alonso e Lewis Hamilton, que parecia um prolongamento de algumas picardias que têm sido mantidas em pista. “Os títulos de Verstappen valem mais do que os de Hamilton. Tenho muito respeito por Hamilton mas é diferente quando se ganham sete títulos mundiais sabendo que só precisas de competir contra o teu companheiro de equipa. Acredito que um campeonato assim tem menos valor do que quando lutaste com outros pilotos com material semelhante ou até melhor”, disse o espanhol em entrevista ao De Telegraaf, fazendo depois uma espécie de mea culpa nas redes sociais dizendo que “todos os títulos são incríveis, merecidos e inspiradores”. Hamilton respondeu com uma fotografia de um pódio com Alonso atrás de si e a imagem de um polegar para cima.

Terceiro: o desconforto mostrado por alguns pilotos a propósito da confusão na zona do paddock do Grande Prémio da Cidade do México, que já tinha sido tema noutras provas mas que voltou a ser abordada por alguns pilotos. “Há muita gente no paddock e é bom termos tanta gente a mostrar interesse na Fórmula 1 mas ao mesmo tempo também tem sido tudo demasiado de loucos especialmente este ano. Talvez seja bom encontrarmos algo que nos permita andar mais à vontade”, apontou Leclerc. “Adoro ter os fãs à minha volta, adoro ouvir quando nos apoiam até por ser latino mas só peço para que exista um pouco mais de calma, não é preciso andar a empurrar ou aos berros no paddock”, reforçou Carlos Sainz, numa ideia que era partilhada por outros pilotos perante o aumento de todas as movimentações nessa zona do traçado.

Entre tudo isto, a qualificação tinha sido mais do mesmo em comparação com as últimas provas, com Max Verstappen a conseguir mais uma pole position à frente dos Mercedes de George Russell e Lewis Hamilton. Sergio Pérez, a correr em casa, saía da quarta posição, tendo os Ferraris de Carlos Sainz e Charles Leclerc em quinto e sétimo, respetivamente, com o Alfa Romeo de Valtteri Bottas pelo meio. “Foi uma boa qualificação. Foi apertada mas antes da Q3 fiz alguns ajustes no carro. Vamos precisar de um bom arranque, mas acho que temos um bom carro para a corrida”, destacou o neerlandês, que tentava a quarta vitórias nas últimas cinco corridos no México tendo apenas uma exceção de Lewis Hamilton em 2019.

O arranque mostrou o porquê da despreocupação de Verstappen em relação ao arranque. Ou seja, se no final da primeira curva estivesse na frente, melhor; se não fosse o caso, teria carro para recuperar depois durante a corrida. No entanto, tudo saiu talvez melhor do que o planeado: o neerlandês teve um arranque forte que não deu hipóteses à concorrência, Hamilton assumiu o segundo lugar, Sergio Pérez aproveitou essa luta dos Mercedes para saltar para terceiro, Leclerc também ganhou uma posição para se colocar atrás do companheiro Sainz, Alonso era o melhor dos não favoritos no sétimo posto. Tudo lançado sem qualquer problema na primeira volta ao contrário do que tinha acontecido em Austin, com Verstappen a ganhar mais de um segundo de avanço mas Hamilton a conseguir também de descolar de Sergio Pérez.

Pouco antes da primeira paragem nas boxes, o neerlandês tentou forçar o andamento e conseguiu passar a barreira dos dois segundos sobre Hamilton, com Pérez a rodar na mesma a um segundo e meio do inglês antes de ficar também a dois segundos. O mexicano seria mesmo o primeiro a passar pelas boxes, voltando na sexta posição atrás dos Ferrari, ao passo que Verstappen foi logo a seguir para entrar à frente dos dois Ferrari e atrás dos Mercedes, o que permitiu que fosse ganhando alguma margem de avanço que seria aproveitada na paragem de Hamilton, a partir daí a seis segundos do piloto da Red Bull mas com Pérez mais perto tendo o registo da volta mais rápida. Só faltava Russell parar entre os da frente, algo que aconteceria sensivelmente a meio da corrida e quando o público só olhava para a recuperação de Pérez.

Era uma mera ilusão de ótica até os pneus de Hamilton ganharem temperatura para uma diferença que passou de novo um segundo e meio. Assim continuou, numa corrida que foi bem menos movimentada entre os primeiros classificados do que se pensava (até porque a Ferrari teve um dia para esquecer, muito longe de Red Bull e Mercedes) e que teve uma quebra na monotonia num choque entre Daniel Ricciardo e Tsunoda que motivou a primeira desistência da prova a 20 voltas do fim, sendo que nas derradeiras voltas ainda haveria também a desistência de um incrédulo Fernando Alonso. E o facto de Verstappen não estar a perder tempo com os médios, confirmando que poderia seguir com os mesmos pneus até ao final, foi a última confirmação de mais um triunfo incontestável que reforçou um ano a vários níveis histórico.

Com este triunfo, Max Verstappen bateu mais dois recordes numa temporada da Fórmula 1: por um lado, tornou-se o piloto com mais vitórias num só ano superando os registos dos alemães Michael Schumacher e Sebastian Vettel (14); por outro, ultrapassou o registo de mais pontos numa só época que pertencia a Lewis Hamilton (416). E mais registos ainda podem estar reservados para as próximas duas corridas até ao fim, como a possibilidade de ser o campeão com maior vantagem para o segundo lugar.