O antigo arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, teve conhecimento de um caso de abuso sexual contra uma menor que um padre da sua arquiodiocese admitiu ter cometido. O caso foi divulgado esta terça-feira pelo Porto Canal, que teve acesso ao documento com a averiguação prévia que a Igreja faz nestes casos, e que foi enviada para Roma. A notícia dizia que D. Jorge Ortiga não tinha comunicado o caso às autoridades civis, mas, esta quarta-feira, a Igreja confirmou ao Observador que sim — as suspeitas foram enviadas ao Ministério Público, que acabou por arquivá-las, uma vez que diziam respeito a uma situação com mais de 40 anos, estando o crime manifestamente prescrito.

Segundo os documentos exibidos pelo Porto Canal e assinados pelo próprio bispo, o padre em questão terá assumido, a 22 de fevereiro de 2015, o delito cometido, mostrando arrependimento e pedindo para ser dispensado “das ordens sacras”.

D. Jorge Ortiga decidiu então enviar esta inquirição preliminar para a Congregação da Doutrina da Fé, em Roma, responsável pela decisão do processo canónico e pela pena a aplicar ao padre, enviando também o pedido de dispensa do padre, que foi aceite pelo Papa Francisco — o que extinguiu o processo canónico, uma vez que a Igreja deixou de ter jurisdição canónica sobre o padre.

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Tanto o Porto Canal, como depois a SIC e o Jornal de Notícias, tentaram contactar com a arquiodiocese de Braga para obter esclarecimentos sobre este caso. Só esta quarta-feira, em resposta ao Observador, a instituição garantiu que o caso chegou mesmo às autoridades civis — algo que a Procuradoria-Geral da República confirmou também ao Correio da Manhã.

D. Jorge Ortiga foi arcebispo de Braga e após 22 anos, em final de 2021, acabou por abandonar o cargo depois de pedir a sua renúncia ao Papa. Em 2019, numa entrevista ao Observador, a propósito da criação de comissões específicas nas dioceses, garantiu não haver ainda denúncias de abusos. “Não. Até hoje não temos essas situações. Vivemos sempre com muita atenção aos diversos problemas. Eu, desde o princípio, quando surge toda esta problemática, fui dizendo com muita naturalidade que, para mim, um caso já seria demais. Não se trata tanto de números. Mas, se porventura surgir, temos de ser realistas, temos de enfrentar, assumir a nossa própria responsabilidade, levar naturalmente os sacerdotes ou outras pessoas da Igreja a assumirem essa mesma responsabilidade, e cuidarmos das vítimas”, disse Ortiga.

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Foi, porém, sempre um dos bispos que se manifestou de acordo com a criação de uma comissão para estudar a questão dos abusos na Igreja.

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Artigo editado às 14h49 de quarta-feira, 2 de novembro, com a indicação de que, ao contrário do inicialmente avançado, o caso de abuso sexual de menores foi comunicado ao Ministério Público por D. Jorge Ortiga.