Sete derrotas em 17 jogos oficiais, quatro desaires apenas em 11 jornadas como já não acontecia desde a época 2012/13, 12 pontos de distância para o primeiro lugar no final do primeiro terço de Campeonato, a eliminação da Taça de Portugal, mais um golo sofrido de bola parada em Arouca. Se na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões o Sporting entrava num cenário entre o céu ao inferno, que poderia tão depressa valer o apuramento para os oitavos até na primeira posição como o afastamento das provas europeias esta temporada, tudo aquilo que se passara atrás trazia um redobrado peso ao encontro com o Eintracht. No final do jogo com o Arouca, Rúben Amorim apontava a um filme que era mais do mesmo: criar oportunidades, não ser eficaz, sofrer numa das poucas chegadas do adversário. Mas seria só isso?

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Em Arouca até podia ter sido, no acumular de todas as partidas havia muito mais do que isso. A começar, os problemas defensivos. Seja pelas quebras de concentração ou maus posicionamentos, os leões estão bem mais permeáveis nas bolas paradas e nunca sofreram tantos golos nesse momento na era Amorim, ficando também aquém naquilo que era a capacidade de travar saídas de equipas que apostam nas transições. No ataque, a aposta numa maior mobilidade não apaga o óbvio défice de presença na área que ficou exposto na sua plenitude quando o conjunto de Alvalade perdeu com o Varzim. Por isso, com isso ou graças a isso, o meio-campo, outrora a casa de toda a máquina verde e branca, foi perdendo toda a influência. E foi à luz de uma pergunta sobre o peso do apuramento na continuidade que Amorim resumiu tudo a uma frase.

“Se o apuramento pesa na possibilidade de continuar? Não, nada. Faço a avaliação se sou a pessoa certa para o futuro do Sporting. Podemos falhar ou não objetivos mas todas as épocas começamos do zero. A única avaliação é ter a noção da exigência do clube, principalmente se sou a pessoa certa para seguir no clube. Farei isso no final. Gosto de assumir as minhas responsabilidades. O factor mais importante que trouxemos foi a exigência, sem qualquer tipo de desculpa. Os oitavos não mudam muito, diz mais do treinador se somos consistentes a ganhar às equipas que não têm o mesmo valor do que nós e não temos tido essa capacidade. Na Champions vamos à luta contra equipas com outros orçamentos. Estamos a falhar no que é ser equipa grande, ter consistência. A minha avaliação tira de parte a Liga dos Campeões. Em jogos grandes conseguimos fazer o que é preciso”, comentara o técnico na antecâmara.

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A certa altura da conferência, de uma forma mais descontraída, o próprio Rúben Amorim admitia que era complicado explicar aos jogadores o que se está a passar até em comparação com o ano do título. “No ano do título, sentia-se que ia acontecer alguma coisa, agora é isso mas ao contrário e é complicado passar isso”, referiu o treinador. Em resumo, havia quase necessidade de fazer um reset em tudo o que tem acontecido numa perspetiva nacional, algo para o qual a paragem para o Mundial poderia ajudar mas que teria como principal catalisador uma passagem aos oitavos da Champions, que a a acontecer seria um novo marco histórico porque nunca o Sporting alcançara essa fase em duas temporadas consecutivas. E era à luz disso que surgia essa partida decisiva com o Eintracht, onde um ponto carimbava o apuramento.

“Nem falámos em empate, temos de vencer porque temos de ter noção do momento em que estamos, qualquer remate que vai à nossa baliza dá golo. Importante é não sofrer golos. Esse factor vai entrar na cabeça dos jogadores só nos últimos minutos. Podemos contar com dois resultados, no início seria um erro pensar no empate. Temos de vencer e jogar bem. Em relação aos adeptos, espero a mesma receção de sempre. Não estão contentes com os resultados, fazem bem em não estar porque a exigência tem de ser outra”, destacara, numa outra ideia que repetiu por mais do que uma vez numa longa conferência: desde que chegou ao clube pode ser “forçado” a construir tudo de novo perante a necessidade de vender titulares mas nem por isso quer baixar a fasquia da exigência de resultados que recuperou.

Mais uma vez, e perante um ambiente verdadeiramente eletrizante em Alvalade com os adeptos sempre a puxarem pela equipa (a começar pelas tão amadas claques que agora se tornaram de novo mal-amadas), as fragilidades do Sporting vieram ao de cima. Em nenhuma fase os leões jogaram para o empate, nunca os jogadores viraram a cara à luta mesmo numa noite particularmente desinspirada de vários elementos, mas a dimensão física e anímica das duas equipas fez a diferença no segundo tempo quando a formação verde e branca tentava controlar a partida para explorar as transições que “matassem” o jogo. Nunca aconteceu e com isso a equipa morreu, entre um plantel demasiado curto de opções em qualidade e quantidade para andar em níveis tão competitivos. E se Amorim falara da exigência que trouxe e quer manter, o dia não foi de Todos os Santos só porque o Tottenham marcou aos 90+5′ e “entregou” a Liga Europa ao Sporting mas sim de Halloween porque nunca esteve tão acessível chegar aos oitavos da Champions.

Já era mais ou menos esperado que Amorim fizesse várias alterações em relação à equipa que iniciou o jogo em Arouca mas nem por isso o técnico deixou de surpreender. Por um lado, com a colocação de St. Juste de início na defesa pelo lado direito tirando da equipa Matheus Reis (que poderia ficar com a ala esquerda como já acontecera antes para dar outra consistência sem bola à equipa) e passando Gonçalo Inácio para a esquerda, ganhando outro caminho para saída a partir de trás com o pé natural. Por outro, a aposta em Arthur Gomes, avançado que com Paulinho na frente poderia manter a ideia dos extremos com pé trocado para os movimentos por dentro ficando na esquerda e deixando Marcus Edwards à direita, o que fez com que Francisco Trincão começasse no banco. Sem Morita, com Pedro Gonçalves no meio-campo, o número e “qualidade” de mexidas acabou por ser maior do que poderia ser caso o japonês estivesse apto.

As equipas apostavam muito na capacidade sem bola no meio-campo contrário, pressionando alto para ir condicionando as saídas com bola do adversário e procurando hipóteses de ataque rápido que tivessem o opositor sem o habitual equilíbrio ofensivo. No entanto, e nos 25 minutos iniciais, os dois únicos lances com perigo junto das balizas nasceram de bolas paradas: num livre lateral à esquerda por falta de Jakic sobre Arthur (e os protestos do central depois do amarelo podiam ter levado a algo mais, como se viu com Pedro Gonçalves no jogo com o Marselha…), Coates desviou ao segundo poste para o lado contrário e Marcus Edwards, com pouco ângulo, atirou para a defesa atrapalhada de Kevin Trapp (8′); num canto à esquerda, Paulinho desviou ao primeiro poste para a própria baliza, Adán conseguiu defender por instinto, Coates completou o corte e ninguém do Eintracht fez a recarga (12′). Depois, tudo acalmou junto das áreas.

Acalmou mas nem por isso a “sorte”, se é que isso existe no futebol, estava com o Sporting. Primeiro foi a lesão de Nuno Santos quando o esquerdino estava a ser um dos melhores, torcendo o pé ao contrariar um cruzamento de Kamada na direita do ataque – e Rúben Amorim ficou de tal forma irritado com mais um “azar” que atirou o casaco contra o banco em fúria enquanto Matheus Reis vestia a camisola para entrar em campo. Mais uma baixa por lesão traumática numa equipa que merecia a tal sorte e a mesma acabou por aparecer ainda antes do intervalo para equilibrar essa balança: Marcus Edwards trabalhou bem na direita, Ugarte fez o cruzamento e um primeiro desvio de um defesa dos germânicos encontrou ao segundo poste Arthur Gomes, que atirou de primeira e fez o 1-0 aproveitando a atrapalhação de Kevin Trapp (39′).

O Eintracht conseguiria o primeiro e único remate até ao intervalo aos 44′, com Tuta a ganhar pelo ar num canto mas a desviar de cabeça para defesa fácil de Adán. Se no plano defensivo e no controlo de transições e da profundidade os germânicos não estavam a fazer um jogo mau – apesar de um lance em que Arthur arrancou, conseguiu o 2×1 mas Ugarte adiantou em demasia a bola –, em termos ofensivos não existiam (e o Sporting teve muito mérito nisso mesmo). Oliver Glasner tinha de fazer algo mas não foi pela opção fácil do carregar na frente, reforçando o meio-campo com Rode e colocando Kamada mas na frente em vez de Lindstrom. Os leões continuavam com alguns elementos no limite como Ugarte, com evidentes queixas no pé há largos minutos, mas mantinham o perigo longe até ao lance muito contestado em Alvalade de uma mão de Coates que pareceu empurrado por Kamada, japonês que aproveitou para fazer o 1-1 (62′).

Voltava tudo à “estaca zero” mas com duas condicionantes para o Sporting, que fisicamente e sobretudo em termos anímicos estava agora por baixo dos germânicos apesar de continuar a beneficiar de um resultado que dava apuramento para os oitavos. E foi isso que acabou por fazer a diferença, perante a incapacidade de esticar jogo de quando em vez aproveitando os espaços que sobravam (e a entrada de Francisco Trincão não ajudou nada nesse objetivo), com Kolo Muani a receber uma bola na profundidade, a ganhar em força a Gonçalo Inácio e a disparar uma “bomba” sem hipóteses para Adán que mudava todas as contas do grupo (72′). A partir daí, e já com Jovane Cabral em campo, foi um jogo do coração contra a cabeça que andou 11×11 porque Jakic viu novamente a expulsão por acumulação ser perdoada (76′) mas a incapacidade já era tanta que o Sporting não conseguiu sequer criar uma oportunidade para o empate…