Pode ser uma mera coincidência, pode resvalar quase para uma espécie de “guerra surda”, mas Benfica e Sporting vão alternando no “peso” que têm no palco do Sports Trade com o passar das edições da Web Summit. Desta vez, houve quase uma divisão salomónica: um painel para os leões com o tema “Quebrando os tetos de vidro no desporto” onde se abordava a ligação entre clube, atletas e adeptos com o CSO André Bernardo e a jogadora Chandra Davidson; um painel para as águias com o tema “Usando os dados tecnológicos no desporto para aumentar o desempenho” com Rúben Silva, líder do Departamento de Rendimento, o canoísta olímpico Fernando Pimenta e a jogadora Pauleta; e um painel sobre saúde mental, que juntou as benfiquistas Marta Pen e Francisca Nazareth com a sportinguista Patrícia Mamona.

Foi no primeiro espaço de clubes nacionais que André Bernardo explicou a viragem que o clube verde e branco foi tentando promover depois da crise de 2018, que teve como ponto mais negro a invasão da Academia em Alcochete, recuperando um anúncio que na altura dividiu opiniões no universo leonino.

“A nossa ideia teve como base o The Wall dos Pink Floyd e uma entrevista em que Roger Waters explicou o sentido da letra, a forma como a certa altura começaram a ser construídas paredes e barreiras na sociedade. Na nossa análise, a situação do Sporting e até do próprio desporto nacional tinha essa barreira grande entre clube, atletas e sócios”, começou por referir o dirigente. “Acontecia isso por três razões: o mercado português é mais pequeno e fechado do que nos EUA ou no Reino Unido; depois, existia uma glorificação do atleta que é ótima mas que pode ter pontos negativos porque eles são seres humanos, algumas vezes surgem em contextos difíceis e também cometem erros como todos os outros; por fim, porque quando chegámos tínhamos sofrido um ataque por parte de 40 hooligans aos nossos atletas que veio criar ainda muros maiores do que aqueles que já existiam”, explicou André Bernardo.

“Roger Waters explicou que um dia também foi atacado por um fã e que esse momento acabou por ser mais um tijolo no muro. O que nós agora queremos é ir tirando esses blocos e criando pontes”, destacou, antes de passar no ecrã gigante o vídeo de uma campanha de Natal que começava com 40 crianças a correr na estrada de acesso à Academia tal como tinha acontecido no dia da invasão mas para entrarem no balneário e distribuírem prendas pelos jogadores leoninos. “Onde há verde, há esperança”, concluía.

“Essa ideia veio de um grupo de fãs, um conhecia alguém da Direção, apresentou isso, gostámos e ficámos com a ideia. Os primeiros segundos representam essa chegada dos hooligans mas transformando o que foi negativo em positivo. 99,999% do que acontece no desporto é positivo mas muitas vezes vamos mais pelo 0,001% de negativo. É isso que queremos mostrar. Emocionalmente foi difícil, a parte de convencer os jogadores, mas foi bom no sentido de mostrar que podíamos dar a volta”, contou, antes de abordar todas as dificuldades que a volatilidade de resultados num clube desportivo pode trazer no resto das atividades: “Esse é o maior desafio de todos, o que interessa é perceberem que existe sempre uma estratégia”.

Já Chandra Davidson, jogadora canadiana que passou pelos EUA e cumpre agora a segunda temporada pelo Sporting, enalteceu o crescimento que o futebol feminino tem vindo a registar e deu um exemplo que a surpreendeu no contacto com os adeptos. “Todos os anos vejo o futebol feminino a crescer, vejo no lado do Sporting que há cada vez mais promoção nos vídeos publicitários e nas redes. Também treinamos em Alcochete mas um dia destes fomos a Lisboa para uma sessão de autógrafos. Estivemos lá quatro horas e foi muito bom sair da Academia e perceber ali todos o apoio que temos”, destacou.

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