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Na Gulbenkian prepara-se um novo jardim: "No final irá produzir-se uma obra de arte”

Este artigo tem mais de 1 ano

Comunhão entre natureza e tecido urbano: a proposta do arquiteto Vladimir Djurovic, que quer o jardim da Fundação como exemplo de sustentabilidade: "Queremos um habitat para todos os seres vivos".

A reconversão em curso irá desenvolver e implementar ecologias locais características, dando início a um processo que pretende transformar um típico jardim ornamental num ambiente natural autóctone. A primeira fase do projeto deverá estar concluída na primeira metade de 2024
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A reconversão em curso irá desenvolver e implementar ecologias locais características, dando início a um processo que pretende transformar um típico jardim ornamental num ambiente natural autóctone. A primeira fase do projeto deverá estar concluída na primeira metade de 2024

Foto: Fundação Gulbenkian

A reconversão em curso irá desenvolver e implementar ecologias locais características, dando início a um processo que pretende transformar um típico jardim ornamental num ambiente natural autóctone. A primeira fase do projeto deverá estar concluída na primeira metade de 2024

Foto: Fundação Gulbenkian

Derrubam-se muros, as ameias de um castelo improvisado e estabelece-se uma ligação harmoniosa em que não se distingue o que separa o jardim do tecido urbano da cidade de Lisboa: é esta a visão de Vladimir Djurovic, responsável pelo projeto de reconversão a sul dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. O reconhecido arquiteto paisagista, nascido no Líbano e de ascendência montenegrina, trabalha cada projeto com o intuito de levar as comunidades a mudar radicalmente a sua relação com a natureza. O mesmo princípio aplica a Lisboa e ao projeto que agora vai tomando forma. Quer que os jardins se tornem num exemplo a seguir em Portugal, mas também além-fronteiras.

Apresentado esta quarta-feira numa conferência que decorreu na própria fundação, e que contou com a participação da arquiteta paisagista da Fundação Gulbenkian, Paula Côrte-Real, e do professor do Instituto Superior de Agronomia e membro do júri do concurso para o projeto Vértice Sul, Luís Ribeiro, Djurovic mostrou uma visão de futuro, com vista à sustentabilidade de um ecossistema que diz ser singular e único pelas características contemporâneas que já marcavam o projeto original, concluído em 1969, e desenhado pelos arquitetos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto.

Sob a premissa de respeitar, restabelecer e regenerar sistemas naturais equilibrados, um aspeto “mais relevante do que nunca”, o arquiteto propõe não só um prolongamento harmoniosa da excecional paisagem concebida por Ribeiro Telles e Viana Barreto, como um modelo de renaturalização dos terrenos urbanos através do uso de espécies nativas. A reconversão em curso irá assim desenvolver e implementar ecologias locais características, dando início a um processo que pretende transformar um típico jardim ornamental num ambiente natural autóctone. A primeira fase do projeto deverá estar concluída na primeira metade de 2024.

“Durante anos procurei projetos que colocassem a sustentabilidade à frente do lucro. Acredito que este projeto pode mostrar-nos isso como boa prática”, diz o arquiteto Vladimir Djurovic

Com o mote de “regressar à natureza” — e onde se apresentaram os vários planos que projetam o extremo a sul do futuro jardim — Djurovic recordou a primeira vez que esteve nos jardins da fundação. “Desde que visitei o jardim pela primeira vez há mais de 20 anos, durante a Expo 98, nunca percebi porque não se falava de Ribeiro Telles e Barreto Viana. Quando ouvi o nome da Gulbenkian e deste concurso achava que já não havia mais nada a fazer que pudesse trazer inovação ao original”, relembra. No seu entender, trata-se de um “projeto intemporal e de grande harmonia, entre jardins e edifícios”. “É um lugar especial e sabemos da importância da nossa intervenção também por isso”, completa.

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No início da apresentação e perante uma plateia lotada, Paula Côrte-Real realçou o facto do jardim ser considerado um monumento nacional, que nasceu como “fruto de um concurso de ideias que deu num projeto original, sobretudo pela sua abordagem ecológica”. A utilização de espécies nativas, como destacou a arquiteta, foi um aspeto que trouxe novidade, ao contrário dos jardins botânicos que existiam na altura. “Mas nem sempre foi bem entendido. Demorou a que assim fosse, embora hoje esteja bem presente na memória coletiva e na vivência dos residentes”, frisa. Luís Ribeiro, por seu lado, destaca a premissa do projeto de Djurovic, que abraça questões ecológicas e de gestão sustentável dos recursos, aspetos centrais para o presente e o futuro, em que cada vez mais habitats se encontram fragilizados e em possível via de extinção. “As cidades de hoje exigem cada vez mais a presença da natureza. Esta proposta vem ao encontro desta presença e vai criar uma envolvente mais marcada, mais cultural e urbana. No final irá produzir-se uma obra de arte”, ressalta.

A reabertura do CAM no horizonte

O projeto para o jardim da Fundação entrelaça-se com o do arquiteto japonês Kengo Kuma para a reformulação do Centro de Arte Moderna (CAM), apresentado em 2019. Estava previsto que a sua concretização demorasse dois anos, mas o prazo foi, entretanto, ultrapassado. Agora, a Fundação Calouste Gulbenkian avança que estará completado ao longo do ano de 2024.  Recorde-se que o Jardim Gulbenkian foi erguido no local do antigo Parque de Santa Gertrudes, propriedade de Vasco Maria Eugénio de Almeida, filantropo que vendeu à Gulbenkian seis sétimas partes da sua área total, ficando apenas com a parcela onde se ergue a Casa de Santa Gertrudes – um edifício que lembra um castelo e que na verdade funcionou como cavalariça do antigo Parque de Santa Gertrudes.

Mais recentemente, em 2005, a Gulbenkian comprou parte do terreno junto a essa casa à viúva de Vasco Maria, enquanto a casa e o respetivo logradouro permanecem na posse da Fundação Eugénio de Almeida. Foi esta operação que permitiu o lançamento do concurso internacional, do qual se sagraram vencedores Kuma e Djurovic, com um projeto que aposta na abertura da Gulbenkian à cidade e na continuidade da visão paisagista dos arquitetos originais.

“Vamos fortalecer a sua biodiversidade e riqueza de solos e torná-lo o jardim mais resistente às situações adversas”, dizem os responsáveis pelo plano de remodelação do jardim

Foto: Fundação Gulbenkian

Depois de um período de grande pesquisa e trabalho de desenho, analisando a linguagem contemporânea do jardim, com plataformas de diferentes alturas e uma harmonia entre a materialidade e a própria poesia do espaço, Djurovic diz ter encontrado no jardim um hotspot biológico que o levou a pedir a Kengo Kuma que não ampliasse o edifício já existente do CAM. “Ficaríamos sem jardim, disse-lhe”. Com vista a um uso mais eficiente do centro de arte e com a proposta de abertura total à rua da parte sul da fundação, Djurovic não deixou de sublinhar como se trata de uma missão difícil, no qual pretende recorrer ao uso de plantas nativas da região de Lisboa. “Vai ser um processo contínuo, que pode precisar de ajuda humana no princípio, mas acredito que será autossustentável a longo prazo.”

Almejando tornar o atual jardim num verdadeiro quadro de Claude Monet, o projeto do arquiteto que tem desenhado jardins e áreas de reserva natural em diversas partes do globo, promete tomar a natureza como epicentro, reduzir no consumo de água e na manutenção, descartando a utilização de químico. “Vamos fortalecer a sua biodiversidade e riqueza de solos e torná-lo o jardim mais resistente às situações adversas”.

Um exemplo para o mundo

Entre as diversas conceções que o projeto pode tomar, como a criação de zonas de plantação e outras dominadas naturalmente pela flora e fauna, Vladimir Djurovic defende que a Gulbenkian, bem como outras instituições, devem deixar de pensar na construção em betão e na ampliação de edifícios. “Durante anos procurei projetos que colocassem a sustentabilidade à frente do lucro. Acredito que este projeto pode mostrar-nos isso como boa prática”, realça. Tal como Voltaire, que depois do terramoto de Lisboa em 1755 defendeu que a cidade deveria tornar-se num centro de investigação para as catástrofes naturais, Djurovic diz ter esperança que este modelo possa ser replicado na cidade e noutros locais no país. “Atualmente, parece que todo o mundo quer vir para Lisboa e investir, mas é um padrão de descobrimento, destruição e perda de identidade. É preciso conhecimento transversal e Portugal pode tornar-se num centro de estudo para as boas práticas”, diz.

Termina deixando um repto: “Gostava que tivéssemos como meta ter 50% do território português e 50% do oceano conservado e restaurado nas suas condições naturais, para que as pessoas tenham Portugal como modelo biológico para o futuro. Talvez essa seja uma boa forma de trazer pessoas ao país e não por qualquer outra razão dita económica”. Quanto ao jardim por onde se pode começar esse caminho, a tarefa parece mais simples: “Queremos criar um habitat para todos os seres vivos e não apenas para seres humanos”.

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